No alto da montanha...

No alto da montanha...
Capilla del Monte - Cerro Uritorco - Argentina

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Um sopro, um terremoto. Um livro, uma flor. E pizza!


Pela manhã enrolei muito. Podia ter produzido muito mais, mas fiz muita hora até chagar o almoço. Mas assim que acordei tive uma conversa com meu pai via skype que me foi muito importante. Ele me pareceu muito preocupado por saber que a minha classe de espanhol está em um nível diferente do meu. Assim, sugeriu algumas coisas como conversar com a professora, tentar mudar de turma e também, entre as sugestões, rapidamente perguntou se haveria a possibilidade da universidade me devolver o dinheiro, caso eu cancelasse o curso. Eu logo respondi que não quero desistir, que há muitas coisas que não aprendo porque não é ensinado, mas que o que é aplicado eu tenho conseguido acompanhar. Então, mudamos de assunto e matamos um pouco da saudade.

Depois de muita preguiça no quarto e de um belo banho fui comer minha comidinha, igual de todos os dias (acho que tenho que criar algo novo). Nesse processo de quarto e cozinha minha cabeça deu um giro de 360º. Parece que as palavras leves do meu pai foram um sopro que, positivamente, causaram um terremoto na minha mente e me fizeram mudar de idéia totalmente. Tum, tum, tum... era minha mente trabalhando à mil. Comecei a pensar um milhão de coisas sobre a universidade. Curricularmente falando, será excelente se concluo meu estudo de línguas através desta instituição. Mas em momento algum esse foi o meu objetivo quando vim para aqui e por esse motivo, a todo tempo, digo que não estou preocupada com notas e com o diploma oferecido depois do teste final. Também sempre repito, por aqui, que estou aprendendo muito mais o espanhol conversando em casa e nas ruas do que na escola. Então pensei: “o quê que eu estou fazendo lá?” Não tenho dúvidas que quero muito aprender o idioma, o espanhol me encanta demais e quero sim conseguir. Mas porque estou pagando tão caro por esse ensino na universidade se não tenho o retorno que necessito. Quando me inscrevi o programa propunha uma coisa e estão oferecendo outra. E porque estou lá? Será que é porque não quero desistir? Mas sair da universidade não significa desistir, somente mudar de plano! Como eu não tinha me dado conta disso? Na verdade para quase tudo que faço tenho um plano a, b e um c. Aqui eu estou tão centrada na idéia de não fazer muitos planos que esqueci que posso criar um plano b.

Refletindo, percebi que posso sim acompanhar as aulas e que a professora é mesmo muito solicita a me ajudar com minhas dúvidas. Mas estou inserida em uma situação que não é a que busquei. Na verdade isso inclui tudo (da universidade), a aula, o ambiente e por aí vai. Lá sou um peixe fora d’água, totalmente. Sinto-me mesmo muito mais contente quando estou aprendendo palavras novas com meus hermanos ou com o povo que eu saio tagarelando por aí. Não quero apenas tagarelar, quero aprender a falar direito, então a rua e a casa não são o suficiente, mas a universidade talvez não seja tão necessária quanto eu pensei. Enfim, almocei e decidi ir ao programa tentar alguma forma de ter uma devolução parcial do meu dinheiro e ir em busca de um bom professor particular. Com a grana que paguei no curso é possível fazer muitas aulas somente entre eu e o professor, com a atenção voltada para meu aprendizado, assim penso que posso aprender muito mais.

Nossa, pensar isso tudo em pouco tempo era mesmo um furacão. Parecia uma reviravolta no que eu estava visualizando para um mês. Nunca gosto de tomar decisões imediatas, mas a certeza estava batendo tão forte em mim que saí logo a caminhar em direção ao curso. Percorri meus trinta minutos de caminhada como um trem bala, doida para virar os planos pelo avesso. Aí.... cheguei na universidade e o programa estava fechado! Toim, toim, toim. Murchei, literalmente. Eu não tenho aulas na sexta, mas daí imaginar que o povo não trabalhava era demais. Voltei para casa como uma flor murcha. Murcha de frustração e de calor.

O sol aqui voltou e tudo que eu queria fazer era tirar a calça jeans. Não sei o que ocorreu, mas aqui tive uma briga séria com as calças jeans. Nós não estamos nos entendendo bem. Na verdade aqui dei um pause em muitas coisas, como nos esmaltes, nas maquiagens (que nunca usei muito mesmo, mas agora menos ainda), nos sapatos incômodos, em fazer as sobrancelhas e por aí vai. Aliás, antes mesmo de viajar resolvi doar metade do meu guarda roupas. Aquele mundão de coisas amontoadas não estava fazendo muito sentido para mim.

Um parênteses para uma parte do meu Presente do Mar, que acabo de me lembrar:
“Em primeiro lugar, devemos aprender a arte do desapego; podemos viver com tão pouco! Começamos pelo desapego físico, que depois se propaga misteriosamente para outras áreas. Primeiro as roupas. Certamente precisamos de menos roupas sob o sol. Mas, de repente, descobrimos que precisamos de menos roupas em qualquer situação. Não precisamos de um armário cheio, apenas de uma mala pequena.” (Lindbergh)

Bom, voltei para casa e coloquei uma saia de pano bem confortável, coloquei meu material do filtro na minha bolsa e meu livro e fui para o lugar que tanto gosto. Percebi que estava muito ansiosa e criando muitas expectativas com a minha mudança de idéias e uma das coisas que tenho aprendido é o quanto as expectativas fazem mal. Assim, eu precisava de fazer algo para trabalhar a mente, precisava canalizar minha energia de terremoto em outra coisa.

Fui para a Plaza San Martín “artesanar”. Chegando lá percebi que a cabeça bagunçada havia esquecido da parte mais importante do material para trás. Estava então partindo para o plano b. Acho que pode ser válido ter lembrado um pouquinho de fazer isso, o meu livro estava na bolsa como uma segunda opção de distração. No caminho para o agradável banquinho de madeira, um pouquinho de prosa com o amigo Hare. Na verdade um pouquinho nada, sua simpatia me fez atrapalhar o serviço dele e a minha passagem por ali virou um bom tempinho de prosa. Enfim, cheguei ao banquinho. Mas o sol estava escaldante e não deu para ficar por muito tempo, apenas um capítulo do livro.

Enquanto lia me divertia com uma moça que estava falando sozinha. Acho que ela estava treinando para ser guia turístico e ficava ensaiando, falando e gesticulando sozinha segurando alguns papéis em meio à praça. Isso podia ter passado batido em outro momento, mas naquele meu momento de sentir a praça, estava como uma coisa divertidíssima. É, foi mais ou menos isso mesmo, no tempo que fiquei por ali comecei a perceber as coisas com mais atenção. Enquanto eu lia, uma florzinha caiu no meu livro e eu, no ritmo da vida acelerada, logo dei um batidinha pra ela sair das letras do livro. Nossa, quando me dei conta disso fiquei tão espantada! Havia caído uma flor no meu livro e eu não observei como era, qual era sua cor, sua forma. Simplesmente empurrei. Isso soou estranho para mim. Assim, quando a segunda flor caiu, escorregou direto ao chão, mas imediatamente quis buscá-la. Observei, vi sua beleza e senti como ela fazia parte de tudo aquilo que estava ao meu redor. Assim, quando sai da praça levei um pedacinho daquele lugar comigo na minha bolsa de tear.

Enquanto sentava, lia, pensava, sentia a praça e refletia sobre meus objetivos. Talvez seja mesmo o vício dos planos voltando. Vi que quero pular na piscina de bolinhas aqui. Quero dar um salto em meio às bolinhas coloridas cheias de vida e alegria. Por isso quero tanto ir para um hostel onde eu possa dar muitas gargalhadas e conhecer muitas pessoas, companhias para novos lugares, passeios e por aí vai. Mas ascendeu também em mim a grande vontade de depois ter o meu tempo de afastamento. Já vim para cá com a idéia de passar uns dias no vilarejo San Marcos de las Sierras, que fica próximo às montanhas daqui. Mas hoje essa vontade cresceu ainda mais. Fiquei pensando que tenho tantos vícios, hábitos que quero mudar. E penso que para isso seria bom um tempo afastada. Há uns meses eu vinha buscando um nome para o “meu ser” e um dia, em meio a uma terapia, escutei que sou muito intensa. Esse foi o nome que então percebi que mais se identificava comigo, intensidade! Sou muito entregue às coisas e aos meus sentimentos, desenfreadamente. Se talvez essa for minha essência, não quero mudá-la, mas quero saber como usá-la melhor e espero que uns dias em meio às montanhas possam acalmar minhas inquietudes intensas. Mas isso são planos para me assegurar depois...

À noite uma pizza em casa com os hermanos, com um bom tempero e um bom bate-papo. Depois... cama!

2 comentários:

  1. Estou adorando os seus textos. Dá uma vontade de fazer a mesma coisa... Conhecer melhor alguns lugares sem a pressão do tempo. Muito bom.

    ResponderExcluir
  2. Obrigada Carlinhos, fico feliz em saber que os textos inspiram à fazer coisas boas! Resolvi dar um pause no filme da vida cotidiana e é isso mesmo, estou vivendo... sem a pressão do tempo!

    ResponderExcluir