No alto da montanha...

No alto da montanha...
Capilla del Monte - Cerro Uritorco - Argentina

terça-feira, 23 de abril de 2013

Flor ao Vento


Flor ao Vento
Te vejo leve
Acompanhando a brisa
Vai para longe
Tranqüila, serena
Já não tem mais raiz
Distanciou-se do pertencimento
Não está apenas em um solo firme
Experimenta novas terras
Sente as águas da chuva
Sente o calor do sol
Flor ao vento
Quero te acompanhar....



Por fim...


Nesses dias longe de casa conheci coisas fantásticas e tive um encontro muito importante comigo mesma. Contraditoriamente, sinto que esse foi o encontro mais importante da minha viagem, mas pouco sei falar sobre ele. Não... não cheguei à muitas conclusões depois de 70 dias de reflexão, não cheguei ao lugar ao sol, não tenho idéia do que quero fazer da minha vida. Mas a diferença de quando cheguei e de hoje é que agora me sinto muito mais tranqüila com tudo isso. Sinto tranqüila por ter tido um tempo para pensar em mim, mesmo não chegando aos fatos concretos. Sinto que não necessito de todas as respostas agora, mas que fiz o mais importante que foi olhar para dentro de mim!

Descobri coisas simples, mas que talvez eu nunca tivesse prestado atenção, ou que talvez tenham surgido somente agora no tempo da calmaria ou das novidades. Para começar, descobri esse blog. Eu não consegui fazer um blog informativo sobre os lugares que conheci, mas registrei as sensações e os sentimentos que passaram por mim. Descobri que gosto muito de escrever, mas sem imposições, sem pressão, data ou motivo específico.

Descobri que adoro fotografar e ver fotografias. Eu até tiro fotos das cidades, mas as fotos que eu mais gosto são das folhas, das luminárias, das calcinhas e meias penduradas nas janelas, das cores, dos toques da vida.

Interesso-me em conhecer as capitais, mas descobri que entre parar nas grandes cidades ou nas árvores, mesmo que sem nada ao seu redor, prefiro ficar com a segunda opção.

Descobri que cada vez gosto menos das relações superficiais e me encanto com sorrisos sinceros.

Insisto em tentar, mas não consigo rezar de jeito nenhum, mas descobri que gosto de conversar com as pedras, o sol, as montanhas, as estrelas e assim sinto a divindade dentro de mim e isso me traz um estado de contentamento indescritível.

Descobri que gosto muito de um carinho, mas descobri também que adoro ficar sozinha. Minha companhia pode ser boa e muitas vezes suficiente a mim mesma.

Descobri que tenho um desapego maior que eu sabia, mas que ficar longe das minhas verdadeiras amigas é mesmo difícil demais.

Estou aprendendo a limitar as palavras. Descobri a importância do silêncio.

Passei a sonhar coisas novas que nunca me permiti a sonhar e fico nervosa quando alguém me diz que parece conto de fadas. Fico nervosa porque talvez no fundo até concordo que meus sonhos podem ser irreais, mas descobri que não me importo mais em sonhar com o irreal.

Descobri que sou muito mais corajosa e menos fresca que eu pensava, mas ainda não aprendi a tomar banho de água gelada e a dormir em barraca quando faz muito frio.

No vazio da resposta à pergunta: “O que você gosta de fazer nos horários vagos Kelly?” Eu descobri que necessito urgentemente descobrir isso.

E como não podia faltar, descobri que amo viajar!




Mais 50 horas de viagem

Na ida para Córdoba foram 40 horas de viagem porque saí de São Paulo. Já era grande, mas para voltar resolvi emendar São Paulo direto para Belo Horizonte e completei 50 horas de viagem cansada, com dor na coluna e sem banho, hahaha. Eca! E pior, sem escovar o dente, porque enquanto fui ao banheiro em uma parada de ônibus e deixei minha escova e pasta de dente na pia, me roubaram os dois! Nunca imaginei que existiria ladrão disso, mas existe.

Enfim, 50 horas pesadas, principalmente pelo histórico da minha semana. Segunda-feira dois ônibus para chegar até Santiago do Chile. Terça-feira 23 horas de ônibus de Santiago até Córdoba na Argentina, chegando na quarta-feira. Quinta-feira entrei no ônibus com destino a Brasil, trocando de ônibus mais duas vezes e chegando em casa no sábado.

Diferente da ida, a volta foi pesada. Mas tive uma grande surpresa. Enquanto eu voltava pensando nos meus sonhos possíveis ou não de se realizarem... em uma parada de ônibus, conheci um dos passageiros que nada mais era que um escritor de romances. Ele me contou sobre a trajetória de sua vida, fantástica, e conhecê-lo foi como me fazer não perder a vontade de sonhar!! Foi incrível finalizar minha viagem no dia 20, começando no dia 10, completando 70 dias, números redondos com o 7 cabalístico e conhecendo o argentino escritor de romance que me influenciou a seguir sonhando!!

Fechando a expedição no lugar onde tudo começou.... em Córdoba!!

Nos ruídos de Santiago...

Bum! Cheguei à Santiago! Metrô, muita gente, muito carro, barulho... cidade grande! Fui direto para o hostel que Marieta tinha me indicado. Lá peguei um mapa com as indicações dos pontos interessantes da cidade e perguntei para o atendente onde eu podia comer comida típica e barata, algo que não fosse para turistas. Ele me indicou o mercado central, alertando que era caro e um outro mercadão falando que era barato. Não era só pelo preço, mas geralmente eu gosto mesmo dos lugares menos turísticos e optei pelo segundo. Mas quando eu cheguei no mercadão... era tipo o Ceasa, mas acho que ainda piorado. Era feio, com cheiro ruim e com um povão que dava medo de estar por ali sozinha.

Logo tratei de ir para o tal mercado central, que em contrapartida, tinha restaurante mesmo chiquerérrimo. Mudei de ideia mais uma vez e fui para a terceira opção que era um restaurante na rua. Lá eu perdi a paciência com o garçom e ele comigo quando eu perguntei se tinha algo sem carne e ele me responde “frango”, eu disse que isso era carne também e ele respondeu outro prato com “peixe” eu respondi o mesmo e por fim ele disse outro com “presunto”! Parecia até piada e eu fiquei mesmo irritada. Perdi a paciência e fui comer um salgado de queijo em pé em uma lanchonete! Depois sai para caminhar no meio daquele tumulto de cidade grande e fui chegando a conclusão que eu estava mesmo começando a ficar estressada como há tempos não ficava.

Com a sensação do nervosismo do barulho da cidade grande e do clima de capital eu decidi que os únicos lugares que eu ia visitar eram os parques... eu precisava de ir em busca do verde como refúgio! Assim fui para um dos famosos serros que eu tinha escutado que era muito bonito. Realmente era... eu pude sentar no banquinho de madeira e espairecer bem a cabeça. Mas confesso que eu ia preferir muito mais se não tivesse os caminhos de asfalto com muitas escadas e preferia até mesmo que não tivesses os castelos que eram o “tcham” do lugar. Também seria melhor se a vista do mirante não fosse para tantos prédios. Mas tudo bem, pelo menos eu não estava no meio das grandes avenidas de Santiago!

Depois que sai do parque fui para uma rua que me disseram que era muito linda, e era mesmo, em um estilo histórico e com vários barzinhos tranqüilos e agradáveis. Em um desses fiz um lanche, carérrimo por sinal e depois dei uma voltinha na feira de artesanatos e voltei para o hostel. Para a minha surpresa lá eu encontrei com a Marieta, mas dessa vez acabamos não ficando juntas.

Quando cheguei ao hostel o dono me perguntou qual era a cama do quarto coletivo que eu tinha escolhido. Eu respondi e ele me disse que não podia me deixar lá. Ele falou que eu escolhi logo a única cama que eles não tinham trocado o colchão e que estava muito ruim para dormir. Como as outras camas estavam ocupadas ele simplesmente me trocou para um quarto individual com cama de casal, o melhor edredon do mundo e um banheiro só meu! E um banheiro com água quente, chuveiro bom, tapete e sabonete para lavar a mão! Tinha tanto tempo que eu não via essa composição completa que aquilo se tornou o maior luxo para mim. Quando eu vi aquele quarto eu tinha a certeza que meus momentos dentro dele seriam os melhores de Santiago, e assim foi!

Eu tinha que fazer check in ao meio dia e na terça-feira não larguei o quarto enquanto não deu esse horário. Ai que delícia que estava aquele camão só meu!!! E sem o barulho das ruas agitadas. Percebi que não ia mesmo conseguir ficar na capital e quando tive que largar o hostel fui direto para rodoviária comprar minha passagem de volta para Córdoba. Comprei para às 21h e durante a tarde fui conhecer o outro serro.

Para subir ao serro havia a alternativa de ir a pé ou com um funicular, tipo um trenzinho meio na vertical. Eu escolhi a segunda opção porque tinha planejado de caminhar muito para explorar a parte alta do parque. Mas aí... continuava o Chile me aborrecendo. O parque era imenso com muitas áreas a serem desfrutadas. Mas não havia mapa e a atendente da recepção estava pouco se importando em explicar como caminhar por lá. Tinha que chegar ao alto para ver no que dava! E assim fiz, cheguei ao alto e... ninguém para ajudar direito! Ah nem... o moço que trabalhava lá me indicou para um caminho que não tinha saída e eu resolvi é que não ia mais mesmo para lugar nenhum, que ia só fazer o caminho de volta! Parei um pouco, fiquei sentada em um banco relaxando e fui tentar achar a saída.

Então encontrei um ponto de informações e o atendente me indicou que havia uma saída de asfalto de seis quilômetros e uma de trilha de três quilômetros. Não só pela distância, mas pelo entusiasmo de andar na terra sem dúvidas respondi que ia pelo segundo! Aí ele veio me falar que não era indicado para mulheres sozinhas e eu perguntei se era muito perigoso, se tinha assalto ou o quê e ele disse que não, que era tranqüilo, que eu só não podia me perder. Bom, se o problema era só esse eu falei com ele que se eu me perdesse eu faria o caminho de volta e fui.

Logo que pus o pé na trilha veio um funcionário uniformizado de moto atrás de mim! Ah nemmmmm.... mais uma vez... igualzinho aconteceu na montanha de Córdoba... ganhei um vigia! Ele veio me falar que a trilha era altamente perigosa, que tinha assaltos constantes e que era para eu andar perto de um casal que estava à minha frente. Eu respondi que se era assim eu ia voltar e ia fazer o outro caminho. Aí ele respondeu que o outro era ainda pior. Achei que era mentira, mas tinha que pensar o que fazer. Este serro é super visitado, um lugar lotado, um dos principais pontos turísticos. Eu pensava que por ser assim, não era possível que fosse tão perigoso. Mas ao mesmo tempo também pensava que por estar lotado de turistas com dinheiro e equipamentos caros realmente podia ser. Enquanto eu pensava ele veio falando que então me acompanhava a descer o de terra, que era o papel dele fazer a segurança do lugar. Eu não estava gostando da idéia da companhia dele, diferente do guia que me acompanhou em Córdoba, com esse eu não tinha boas intuições. Mas como ele estava uniformizado, com rádio e tudo mais e eu vi que além do casal passavam outras pessoas por ali, acabou que assim eu fui com ele do lado na moto. Horrível, mas ainda bem que eu consegui acelerar e cheguei rapidinho. O pior foi ter que escutar dele “Como eu faço para te encontrar no Brasil?” eu respondi maldozamente “chega em Minas Gerais e procura!” ele ficou achando que MG era uma cidadezinha pequena, kkk.

Era mesmo hora de sair de Santiago que só estava me cansando e depois de uma maratona de metrô lotado fui pegar o ônibus que sairia às 21h de terça e chegaria em Córdoba às 17:30m de quarta...



Em Córdoba, onde tudo começou... 


Cheguei a Córdoba na quarta-feira com um enorme sorriso no rosto. Era engraçado olhar para mim mesma e perceber a sensação que eu estava de estar retornando para casa. Era isso que eu sentia ao ver aquela cidade harmoniosa de volta!! Parecia que eu estava chegando ao meu aconchego. Foi aí que eu percebi o quanto gostei de Córdoba!!

Apesar de ter chegado com a vontade de ficar mais, depois dos meus pensamentos da fazenda decidi chegar e comprar a minha passagem para o Brasil. Fui à bilheteria e consegui ter a minha primeira discussão em espanhol. Briguei feio com o atendente e nem tenho vontade de escrever sobre isso para não reviver. Mas engraçado foi que eu estou mesmo em uma fase em que tudo é amor! No fim de muito bate boca eu não aguentei e tive que falar com o atendente que “agora estamos bem. Está tudo resolvido e pronto, estamos bem!” kkk. Ele não significa nada para mim, mas esse clima de briga estava pesado demais e isso não é bom em lugar nenhum, assim, fui “fazer as pazes” rsrs.

Depois saí em direção ao meu ponto de apoio. Meu amigo Mário, sem eu pedir nada, deixou a chave da casa dele com o vizinho, já que ele estava trabalhando, para eu buscar e me alojar lá. Mário é mesmo um garoto muito bom e em meus dias em Córdoba ele me ajudou com tudo o que eu precisei! Saí da casa dele meio intrigada porque eu queria muito ter retribuído de alguma forma, mas sem ter idéias criativas não soube como agradecer.

Bom, cheguei a casa e logo fui ao Parque Sarmiento me despedir da sua bonita paisagem e de alguém especial que eu não tinha certeza se ia encontrar por lá... Mas encontrei! Encontrei com o homem de cheiro de sândalo, sorriso de lótus e brilho de sol! Como todo bom diário tem um romance, eu não posso finalizar o meu sem dizer que na minha viagem alguém me trouxe sentimentos muito bons. Quem me ensinou a abraçar com o coração ao centro, talvez pela conexão que vem desse abraço, sem querer alcançou um pedacinho mais profundo em mim.  Sob as lindas árvores do parque despedi-me feliz de poder estar ali, naquele momento presente, sentindo mais uma vez o seu forte abraço. Despedimo-nos sorrindo e seguindo...

Com um sorrisão no rosto voltei para casa e depois fui a um bar com Mário e Mely e uns amigos deles. Ah essa garotinha... ela me disse a frase: “eu faria tudo para estar aqui e me despedir de você!”. Como ela é fofinha!! Segundo ela, em julho estará no Brasil e eu vou amar recebê-la. Foi muito bom ganhar essa irmã por um mês!

Na quinta-feira, meu último dia, fui comprar uns alfajores de presente, despedi-me do melhor sorvete que eu já tomei, atrasada mas com toda a calma para desfrutar daquele momento, tomei um mega banho já que eu possivelmente ficaria de quinta até sábado à noite sem mais tomar banho (que horror, kkk, mas era o tempo que ia ficar no ônibus) e segui até a rodoviária, me despedindo daquela cidade com a qual eu tanto me identifiquei....

Na calmaria da fazenda....



E então eu cheguei à Catemu, pequeno povoadinho do Chile circundado por montanhas gigantes. Eu tinha avisado na fazenda que eu ia chegar na sexta-feira, mas para aproveitar mais cheguei na quinta. Eu não sabia se eu podia chegar antes e na dúvida até pensei em dormir no povoadinho, ele estava tão tranqüilo que deu mesmo vontade. Mas decidi pegar o táxi que levava até a fazenda e se não desse certo eu voltava.

Cheguei e logo já matei minha dúvida. No cartaz que eu vi não tinha nada falando que a fazenda era do pessoal Hare Krishna, mas pelos vestígios eu imaginei e essa foi uma das influências que me levou a ir para lá. Cheguei e fui logo recebida por um devoto com seus trajes religiosos de monge, roupa de pano laranja, blusa e algo em forma de saia, pintura no rosto e cabeça raspada com rabinho e colar de sementes. Eu adoro essa composição deles, a simplicidade da roupa me traz uma boa harmonia visual. Apresentei-me, eles apresentaram um pouco do programa e me levaram para a minha cabana.

A cabana é um quartinho de pau-a-pique e sapé muito bonitinho. Também fui apresentada para minha única companheira de quarto. Depois de tantos hostels compartidos com um montão de gente, embora eu até goste, quando eu vi aquela cabaninha só para nós duas com um banheiro de chuveiro de água quente para tomar banho... hum... eu respirei fundo e senti o ar da serenidade começando a chegar em mim!

No primeiro dia fui logo fazer a aula de yoga. Quase morri de tanta dor em todos os lados do corpo. Quanto mais doía mais eu me certificava que tenho que fazer yoga quando voltar para casa. É impressionante como sou enferrujada e não tenho controle sobre meu corpo. Preciso urgentemente tratar isso para colaborar com a vida saudável!

Depois do yoga fomos jantar. Nossa... quanta comida! Eu estava certa que na fazenda eu ia regular a minha alimentação, mas a realidade foi totalmente diferente. Está certo que eu comi muita coisa boa e rica em tudo que precisa, mas o problema é que lá a forma de alimentação é muito maluca. Eles servem café da manhã por volta das nove, almoço por volta das três e janta às oito. Não existem meias refeições nos intervalos e para não ter fome essas três principais são mega bem servidas. Pela primeira vez na vida eu vi e vivi a idéia de comer comida, arroz, sopa e outros no café da manhã junto com pão e chá. E não dava para fugir disso para ter forças para trabalhar e agüentar esperar o almoço. Mas que as comidas eram deliciosas e que eu adorava o horário das refeições isso é certo!

Trabalhando...
Fiquei na fazenda de quinta à noite até segunda de manhã. Por isso acabei trabalhando pouquinho. A idéia do trabalho voluntário, nesse caso, era organizado da forma que cada voluntário pagava cerca de vinte reais por dia, com direito às refeições e aulas de yoga e oficinas e como o valor era muito em conta, cada um contribuía com quatro horas de trabalho diário com atividades de fazendas. Na verdade quem vai até lá tem a ideia do trabalho como uma atividade também de lazer, boa para a mente e para novos conhecimentos.

No primeiro dia eu trabalhei com mais duas voluntárias quebrando as cascas de nozes e separando as partes inteiras e quebradas para a venda. Três mulheres juntas fazendo esse trabalho resultou em muita tagarelagem. No segundo dia trabalhei com a horta, cortando as folhas secas e amarrando os pezinhos de tomate. Esse foi o melhor dia! Eu trabalhei descalça e sem luvas para sentir as energias da terra através do meu trabalho. No terceiro dia ajudei a varrer as folhas secas da grama. Esse dia foi pesado porque levantava uma poeira de doer nariz e os braços também doíam. Mas fui eu que escolhi a atividade, eu gosto tanto das folhas secas das árvores típicas dos lados de lá, que eu queria trabalhar perto delas de alguma forma!

Todo o trabalho era feito em conjunto. Somávamos quatro voluntários “de fora”. Eu, uma chilena que era a minha companheira de quarto e passou cerca de dez dias na fazenda e um casal de???? Brasileiros! De onde???? Minas Gerais! Foi muita coincidência! Jamais eu ia esperar encontrar com mineiros em uma fazenda no meio do nado do Chile. Eles estavam lá por um mês e eram super bacanas. Eles são do tipo de casal que gosta de agregar amigos ao relacionamento, então estivemos muito juntos. Nessa história só o meu espanhol que começou a ir por água abaixo. Não é nada positivo para o aprendizado de línguas ficar exercitando a sua língua materna! Mas foi muito bom ter a companhia deles.

Além de nós quatro “de fora” tinham mais dois amigos dos devotos que também faziam as mesmas atividades que a gente, mas que tinham uma inserção maior na busca pelo conhecimento das teorias da religião. Na verdade a fazenda é de um grupo de religiosos, mas eles deixam mesmo o programa bem a parte disso. Eu acho isso interessante, que é uma forma deles demonstrarem que o programa não tem o objetivo de ficar influenciando ou “forçando” ninguém a nada, era apenas um trabalho voluntário na fazenda sem nenhum outro ideal. Mas diretamente para mim não foi muito boa essa separação porque eu queria conhecer um pouco mais da filosofia religiosa. No entanto, como eles não divulgavam muito os horários de reunião deles, eu acabei ficando totalmente desleixada desta intenção e me dediquei somente a desfrutar da tranqüilidade do lugar, da minha solidão (de uma maneira muito positiva) e dos momentos com os amigos de lá.

Medinho..

A solidão, embora positiva, só era dura nos momentos de escuridão. Para usar o banheiro de fora, como eu escolhi, eu tive que me propor a desafiar meu medo de escuro, um dos maiores medos que tenho, para sair caminhando na noite estrelada até chegar lá. Para mim isso era um desafio e tanto! Na minha última noite a minha companheira de quarto tinha ido embora. Eu tinha pensado que ia adorar isso, porque a ideia de um quarto só meu a essa altura da viagem me caia muito bem. Mas nesse dia... confesso que dormi com a luz acessa, kk. Eu tinha sido a última a sair do salão do jantar porque estava usando o computador. Quando tive que apagar a luz do salão e vi toda a fazenda apagada e adormecida corri pro meu quatro e fiquei com a luz acessa a noite toda, principalmente porque não tinha chave na porta. Resultado foi que eu acordei às quatro da manhã e aproveitei para, no último dia, me reunir com os devotos no templo enquanto eles faziam as orações da madrugada que começa as cinco e vai até as oito. Eu não dei conta de assistir tudo, até porque fui embora da fazenda às 07:30, mas pelo meu interesse e pelo medo que eu estava de ficar no quarto eu preferi ir para lá rezar. Rs.

Cena de filme...

No meu tempo livre na fazenda, avaliando minhas ações dos últimos dois meses e o meu verdadeiro desejo de conquistar essa realização, eu decidi que ali, sem esperar mais nenhum dia, eu tinha que aprender a andar de bicicleta, kkk. Contei isso para o Leandro, voluntário e estudioso da religião, e ele se ofereceu para ajudar. Inicialmente eu falei com ele que queria tentar sozinha porque sabia que com ele, ou com qualquer pessoa, eu ficaria com vergonha. Assim, peguei uma bicicleta da fazenda e fui tentar. Nossa, não conseguia sair do lugar de jeito nenhum e tive que falar para o Leandro que eu mudei de ideia em relação a sua ajuda.

Depois de trabalhar no domingo o Leandro se ofereceu a me acompanhar e fomos para a rua de asfalto para a nossa missão! Gente... que bonitinho que foi e que delícia a sensação de conseguir um pouquinho! O que foi bonitinho é porque o meu dia com ele foi igualzinho filme de romance adolescente. rs A cena foi a seguinte: Passamos por uma ponte do rio que cai, de madeira e que balançava até, sobre um lindo rio em um dia muito ensolarado. Chegamos ao asfalto e lá fomos nós... Ele começava segurando a bicicleta com uma mão entre um guidom e a outra entre os dois. Eu ia pedalando, pegando velocidade e ele... tadinho... rsrs, ia correndo junto comigo, mas correndo mesmo, porque a bicicleta não tinha freio e eu estava descalça e não tinha como parar com o pé. É claro que se eu soubesse disso tinha colocado um tênis, mas não sabia e assim íamos, eu pedalando e ele segurando o guidom e correndo atrás de mim. Ele ia dizendo um monte de palavras de incentivo e eu, que na verdade não senti vergonha nenhuma, ia me enchendo de entusiasmo e cada vez conseguindo um pouquinho mais e ele cada vez mais comemorando “Isso Kelly!!”. Tava mesmo uma cena um tanto quanto adolescente a marmanja aqui de vinte quatro anos sendo apoiada para aprender a andar de bicicleta. Por fim eu até consegui um trajetinho bom, mas não consegui arrancar sozinha. Só parei de tentar para não matar ele de cansaço, coitado! Para descansar sentamos na ponte de asfalto e ficamos vendo o rio, as árvores e conversando coisas bonitas sobre as sensações de estar no meio da natureza. No fim do dia Leandro me surpreendeu me entregando meu primeiro e único poema em espanhol, feito para mim. Eu fiquei super desconsertada, sem jeito, com vergonha e, vermelha,... agradeci! Depois fiz uma cartinha pra ele agradecendo pelo dia e dizendo que ele será sempre lembrado. O poeminha dizia o seguinte:

“Lindo es compartir
Bello es saber,
Que hay una persona
Que quiere aprender
Cosas divertidas
Cosas con valor
Temas interesantes
Que dan placer al corazón
Es un agrado conocerte
Es un encanto saber de vos
Es disfrutable saber que existe
Una gran alma en tu interior
Con mucho cariño Leandro”

Bonita recordação!!


Momento de decisões...

E meus momentos de solidão na fazenda também foram excelentes. Levaram-me a fazer uma análise dos últimos dias, de qual era o estágio que eu estava chegando, do que eu gostava e o que eu não gostava e assim fui começando a pensar na idéia de voltar para casa. Foi exatamente o momento de relaxamento que começou a me fazer sentir cansada. Fui pensando nos meus próximos trajetos, com duas super cidades grandes, capital do Chile e da Argentina e fui dando uma desanimada. A fazenda me fazia querer muito mais parar do que seguir. A idéia de ficar entre prédios, carros, barulho começou a soar estranho para mim quando eu estava ali, entre as árvores de maça verde, de nozes, entre os pavões, os matos e as folhas secas. Além disso, olhava para o tamanho da minha super pansa que se formava e comecei a ficar enjoada com a idéia de ficar tacando um tanto de massa gorda para dentro do meu corpo por, muitas vezes, ser a única opção de comida (não na fazenda). Eu comecei a sonhar e idealizar uns dias comuns com uma dieta saudável, balanceada. Meu corpo pedia isso! Nesse contexto eu fui percebendo o quanto comecei a desacelerar do meu ritmo vulcão que guardo escondido no meu interior. Não sabia se essa acalmada seria só ali na fazenda, mas eu estava feliz de sentir a paz interior. Os dias na fazenda me deram sensações contraditórias, a de que aquilo ali me fazia muito bem e era bom estar ali e ao mesmo tempo a de que eu tinha que começar a me mover e que eu não conseguiria ficar por muito tempo parada na fazenda. Muito contraditório, mas é isso que eu senti e fiz. Parecia que eu recebia um chamado para voltar para casa!

Além disso, por muita coincidência minhas coisas todas estavam chegando ao fim, coisas bobas, mas parecia uma conspiração para minha volta. Estava muito no restinho a minha pasta de dente, o meu shampoo, meu creme de cabelo, meu creme de corpo, meu remédio que eu tomo todos os dias e não acho o mesmo fora do Brasil e meu caderninho de anotações que terminava apenas com uma folha. Tudo isso eu podia comprar mais, mas pura coincidência tudo aconteceu junto! Analisando as coisas eu fui percebendo que eu tive maravilhosos setenta dias, mas que estava entrando para uma fase que dois acontecimentos no Brasil me fariam mais felizes que o restante da viagem.

Sábado dia vinte seria a festinha de aniversário da minha irmã. Nós duas vivemos separadas e por isso nos falta um pouco de contato e intimidade. Mas nesses dias de viagem escutei que ela estava “morrendo de saudade” de mim. Escutar isso fez meu coração tremer! Que lindeza, ela morre de vergonha de conversar comigo e falar uma frase dessa foi mesmo demais. Resultado é que eu fiquei morrendo foi de vontade de chegar ao aniversário dela de surpresa e dar-lhe um imenso beijão de parabéns! Outra situação era que em data bem próxima a minha madrinha, amiga, companheira, parceira iria passar por um momento um pouquinho complicado e tudo que eu mais queria era estar ao lado dela. Estar junto com ela me faria mesmo muito mais feliz que estar junto de qualquer linda paisagem ou principalmente de qualquer cidade cinza. E por tudo isso eu decidi voltar!! Decidi voltar leve, feliz e satisfeita com a minha expedição.

Eu tinha pensado na ideia de ficar na fazenda por um mês, mas depois dessas sensações eu vi que tinha que seguir e assim fiz! Eu não estava muito no clima da capital, mas Santiago estava muito perto e por curiosidade e por ali ser o ponto de partida para qualquer outro lugar eu fui para lá na segunda-feira pela manhã.

Partindo para a despedida...

Ir para Santiago foi uma maratona. Como eu resolvi de repente a minha data de saída, não comprei a passagem antecipada. Mas em um povoadinho tão pequeno e com muitas saídas de ônibus para a capital eu não tive a maldade de pensar que a passagem podia acabar! Quem me levou até o terminal de ônibus foi um devoto e ele já me adiantou a possibilidade de não ter passagem. Quando chegamos ele tratou de me ajudar tentando buscar as informações para mim. Não tinha mesmo passagem e ele conversou com o motorista do ônibus para ver se ele não deixava eu ir em pé, já que era apenas uma hora e meia de percurso. Ele disse que alguns motoristas deixam, mas esse não permitiu. Assim fui para a segunda alternativa que ele me ensinou.


O devoto ficou comigo até vir um ônibus de circulação comum e avisou para o motorista que eu queria descer na entrada de um próximo povoado. Lá eu desci e caminhei uns vinte minutos até chegar à estrada onde passavam muitos ônibus de viagem para a capital com lugares vazios. O devoto tinha dito que havia sempre muitas pessoas no ponto de ônibus, mas enquanto eu cruzava a passarela vi que só tinha uma pessoa. E essa pessoa fez o favor de pegar uma carona faltando um minuto para eu chegar. Ai que medo que eu fiquei de estar ali na estrada. Mas o medo vinha junto com a coragem e ali eu fiquei. Só que eu não tinha idéia do que fazer com o ônibus, se eu tinha que dar sinal, para qual que era. Mas eu fiquei apenas uns cinco minutos e chegou um garoto com cara de quem estava indo trabalhar. Eu tirei as dúvidas com ele e logo o ponto realmente encheu de gente, todo mundo rumo à capital e lá fui eu!








Em Viña del Mar....

Conhecendo Viña...

Chegamos em Viña e fomos direto para o hostel que Marieta já tinha buscado na internet. Ótimo, grande, bonito, limpinho e em uma boa localização! Depois saímos em busca de uma lavanderia para eu lavar minhas roupas. Passamos foi muita raiva! É impressionante como os chilenos não sabem dar informações de onde ficam os lugares, não sei se não sabem ou se tem má vontade mesmo, mas o certo é que nós duas não entendíamos as meias explicações que nos deram e andamos por um bom tempo até achar a lavanderia.

De lá fomos ao terminal de ônibus pegar informações e depois eu queria ir almoçar no Mercado Central e Marieta me acompanhou. Em Viña eu escolhi experimentar uma sensação que para mim acabou se tornando meio diferente agora. Faz nove meses que eu decidi evitar de comer carne e assim vou seguindo, evitando. E em Viña eu escolhi comer os famosos pescados fresquinhos e optei pela merluza. Comi e a experiência foi mais ou menos, parecia que aquele momento não era só comer um peixe. É, foi mais ou menos, mas eu tentei não tirar conclusões sobre o almoço, só sei que alguma coisa ficou me cutucando.

Depois do almoço caminhamos um tanto bom até chegar a uma parte da praia. A minha intenção era ir até a parte de areia e fazer uma caminhada. Mas quando chegamos à parte de pedras reconhecemos o cansaço do nosso corpo, já que a gente já tinha andado bastante em Valparaíso. Assim, sentamos nas pedras na beira do mar e ficamos por quase uma hora admirando a vista que tínhamos. Um dia um pouco cinza, com muitas nuvens, um céu embaçado que se misturava com o mar em uma só cor. Alguns navios, muitos pássaros e um raiozinho de sol. Estava muito bom sentir a calmaria daquele lugar. Era possível sentir o nosso corpo relaxando das nossas últimas correrias para conhecer os novos lugares.

Observando a paz relaxante do mar, nós permanecemos por muito tempo em silêncio, em conexão apenas com o que víamos à nossa frente. Mas era inegável que a paisagem era um tanto quanto romântica e então falamos de amores. Falamos de amores passados, amores futuros e no presente, estávamos as duas vivenciando a busca pelo encontro com a nossa própria pessoa. Estávamos as duas vivenciando a mesma escolha, o mesmo caminho, mas confessamos que às vezes um carinho podia fazer bem... mas, queríamos estar só!



Depois de um tempinho seguimos a caminhada porque era a vez da Marieta almoçar e fomos para um restaurante. Viña é muito freqüentada por turistas de vários lugares por causa de suas praias e os restaurantes das ruas têm todo esse clima de cidade turística. Eu não gosto muito não!

Voltamos para o albergue e já à noite fizemos amizade com três caras e saímos juntos. Acho que estávamos precisando mesmo de uma galerinha para dar um up! Nós duas estamos meio que na calmaria e a calmaria das duas juntas estava resultando em uma paradesa, rs. Assim, a companhia dos meninos deu uma agitada e nos trouxe boas gargalhadas. Fomos a dois bares, tomamos bons piscos, escutamos músicas e conversamos da forma que conseguíamos. Estava muito engraçado porque um dos garotos não fala e não entende nada de espanhol e eu não falo e nem entendo nada de inglês. Os outros falam as duas línguas e assim revezavam quando iam enturmar a ele ou a mim. Rs.

Experimentando ...

No dia seguinte nós duas demos uma separada porque cada uma ia seguir um rumo diferente. Eu fui dar uma voltinha na feira de artesanato, depois fiquei um tempo sentada em um banquinho de madeira observando o mar. Logo fui averiguar as informações sobre o meio de transporte para a minha saída da cidade.

Também fui buscar minhas roupas na lavanderia e ainda bem que eu aprendi a contar as peças, porque já ia ficando uma meinha para trás!rs. Enquanto eu esperava a lavanderia achar minha meia tive uma idéia maluca. Eu queria almoçar e lembrei da experiência com o peixe do dia anterior e aí quis me propor a conhecer minhas reais vontades e me testar a saber se eu queria voltar para a carne ou não. Era um teste comigo mesma, para eu ver se eu estava sendo sincera com minha escolha. Acabei fazendo o teste mais radical e experimentei o tão falado Mc duplo. Já que era para eu testar, então que eu testasse direito. Resultado é que eu não gostei mesmo da experiência. Não foi bom, detestei, mas gostei de ter me permitido me testar!

Passando por um portal...

Na verdade esta quinta-feira estava significando uma passagem para mim. Era nessa quinta-feira que eu ia começar uma experiência diferente na viagem indo para uma fazenda. Não sabia o que ia acontecer de diferente comigo na fazenda, mas eu sentia que esse era mais um portal. E no clima de mudanças, na quinta levantei bem mais cedo que nos outros dias para não incomodar ninguém e tomar um banho muito demorado. Fiquei à vontade para fazer isso nesse hostel porque finalmente esse era um que tinha muitos banheiros. Mas mesmo assim escolhi tomar esse super banho lava alma bem pela manhã. E antes passei na recepção, pedi uma tesoura emprestada e com essas tesourinhas de papel entrei para o banheiro e.... adeus dreads de nove meses!! Depois entrei para o mega banho e eu me sentia mais leve! Alguma coisa mudava em mim....

Sobre a fazenda, quando eu estava em Valparaíso vi uma portinha com umas pinturas que indicavam que ali era um templo Hare Krishna. Eu já tinha tido esse contato em Córdoba e se ali eu tivesse mais uma oportunidade de conhecimento seria ótimo. Toquei campainha e pedi para conhecer. Mas a moça que me atendeu estava cozinhando e simplesmente me largou caminhando sozinha por dentro da casa. Assim não consegui informação nenhuma e saí. Mas não consegui informação de nada lá dentro, porém, na entrada do templo havia um cartaz que chamou muita minha atenção. O cartaz falava de um trabalho voluntário em uma fazenda que em sua programação incluía aulas de yoga e cozinha vegetariana. Eu anotei todos os contatos e depois busquei mais informações na internet. Eu já estava com a idéia de fazer um trabalho voluntário em uma fazenda, mas quando voltasse para o Brasil. Isso era o que eu tinha idealizado para fechar a minha viagem. Pensei em trinta dias andando descalça com o pé na terra e respirando verde como finalização da minha expedição. Mas aquele cartaz com as aulas de yoga e na entrada de um templo estava muito convidativo e eu acabei decidindo ir para lá!

A fazenda fica em um pequeno povoado do Chile que se chama Catemu, cerca de duas horas de Valparaíso e da capital Santiago. Eu fui até a rodoviária pedir informações de como eu chegava até lá e a moça das informações turísticas não sabia. Aí um enxerido na intenção de ajudar informou que passava um ônibus na rua com a placa escrito Catemu e que era fácil de eu encontrar. Eu não senti confiança e por isso fui para lá com antecedência sem minhas malas só para confirmar. Não existia mesmo esse tal ônibus. Mas o pessoal da fazenda já tinha me passado as indicações que eu teria que pegar dois ônibus e eu fui lá no ponto e depois voltei para a rodoviária e me certifiquei que era isso mesmo. Na rodoviária o atendente me informou que eu podia comprar a passagem direto no ônibus. Como eu não tinha certeza da hora que eu ia sair, decidi fazer dessa forma.

Ruma à fazenda...

Fui para o ponto 14:40 sabendo que o ônibus passava 14:50. “Ótimo”, o ônibus chegou 15:00 e sem lugar livre! Fiquei muito puta com o moço da rodoviária que disse que eu podia comprar na hora. E o cara do ônibus falou com a cara mais normal do mundo que depois de uma hora ia passar outro e que com certeza ia ter lugar. Ele falou como se uma hora debaixo de um sol de rachar fosse igual à 15 minutos. Mas... ali eu fiquei! E depois da tal uma hora chegou o outro ônibus... sem lugar! Nossa, eu fiquei com raiva demais. Esse povo do Chile estava me deixando muito furiosa! E foi engraçado que nesta uma hora de espera uma moça chilena começou a conversar comigo e ela ia pegar o mesmo ônibus. E quando vimos que não tinha lugar ela me perguntou o que podíamos fazer, kk. Eu morri de rir por dentro, ela, chilena, me pedindo conselhos. Eu disse que ia até a rodoviária garantir a passagem para o próximo e enquanto ela pensava no que fazer dei sorte de não ter saído porque logo em seguida chegou outro com lugar.

Na estrada...

Eu tinha que descer em uma indústria e pedi ao funcionário do ônibus me avisar o ponto certo. E assim desci no meio de uma estrada gigante, com grandes montanhas de fundo. Fiquei super feliz que tinham mais duas pessoas no ponto, porque descer em uma estrada sozinha causa um certo susto. Mas tinha um cara com uma mala grande que devia ser funcionário da empresa e uma garota. E nós três pegamos o ônibus Catemu. Era um micro ônibus lotado. Era igual aos nossos micro ônibus mesmo de cidade grande, não tinha lugar para mais nada e quando eu perguntei para o motorista se era possível entrar com a mala ele respondeu um monte de resmungo que eu não tinha idéia do que era. Mas só vi uma mãozinha de um senhor muito amável puxando minha mala para dentro e ajeitando um espaço para me caber. E assim ele foi segurando minha mala para mim do início ao fim.


sábado, 13 de abril de 2013

Em Valpo...


O primeiro destino do Chile era Valparaíso. Quando o ônibus estava chegando à rodoviária, passava por ruas muito charmosinhas e eu fica com a frase na cabeça “que lindo!”. Assim fiquei uns dez minutos de “que lindo!” até que em um momento a imagem me fez pensar: “hum que feio!” aí logo em seguida pensei: “imagina se aqui é Valpo?!” Bem – vinda, nesse momento cheguei a minha cidade de destino! Hehe Eu já sabia que a cidade era como os morros das favelas do Brasil, então não me assustei muito, mas que a chegada era feia era!

Valparaíso é como as favelas com muitos morros de casas simples. Mas o que atrai os turistas é o clima artístico e boêmio que compõe essa região, que também se encontra em um porto marítimo. Fui para lá curiosa para conhecer a cidade que meus amigos mineirinhos tinham acabado de voltar encantados com o lugar. E realmente, só a chegada que era feia!

Quando cheguei à rodoviária fui procurar um ponto de informações turísticas e só encontrei nas ruas, era um quiosque na calçada. Ali com a minha mala fiquei esperando a moça terminar de atender a um casal para depois me atender. No muito tempo que esperei fiquei morrendo de medo de algum pivete me roubar. A sorte que dei de ter que ficar parada ali foi a de ter conhecido Marieta, que acabou tornando a minha companhia por uns bons dias.

Enquanto eu esperava a fila se formou com uma menina de mochilão nas costas, parada atrás de mim. Ela era tão bonita e delicadinha, achei divertida a cena dela com aqueles equipamentos de viagem de aventura. Como ela parecia ter a minha idade e estava sozinha, imaginei que também ia para um hostel e perguntei se ela tinha algum para me indicar. Ela também estava buscando, então pegamos um mapa e seguimos juntas. Que loucura que foi a nossa busca!

Marieta é do tipo garota esperta, despachada. Não é como eu que para entender um mapa tem que sentar e ficar uns bons minutos analisando. Ela simplesmente pega e vai. Logo eu acabei meio que “seguindo” ela que comandava os caminhos. Assim fomos acertando e errando muitas ruas. Foi um verdadeiro desastre minha chegada em Valparaíso. Nós duas pegamos um ônibus até o centro da cidade. A minha mochila não cabia em lugar nenhum e eu ainda não estava acostumada com aquela nova moeda em que uma passagem custa 220 pesos, que equivale a menos de 2 reais, mas que a quantidade de números me assustava. Por isso deixei o motorista nervoso e todo mundo me olhando feio. Quando descemos tivemos que pegar um elevador para chegar ao alto do morro que íamos. Chegamos às ruas de pedra onde a mala de rodinhas não podia funcionar e eu tive que sair carregando um chumbo danado. Subimos e descemos a mesma rua várias vezes e quando por fim eu encontrei um espaço para usar a mala no chão, a rodinha estragou de novo e o jeito foi carregar muitos quilos por muitos minutos. No meio desse estresse e com quatro calos que se formaram na minha mão, nós paramos em um hostel que estava caro, mas estava fácil de parar.

Depois de descansar um pouco e tomar banho nós duas fomos comer uma pizza que estava incrivelmente deliciosa e voltamos para o hostel sem ir em busca das noitadas da cidade. No dia seguinte saímos pela manhã e trocamos para um hostel mais barato, depois saímos para conhecer os pontos turísticos. Fomos às partes mais altas dos morros para avistar a cidade, mas tivemos um baita azar porque o céu estava coberto de nuvens. Conhecemos uma galeria de arte, tiramos umas fotos das casinhas coloridas e das ruas com grafite, conhecemos algumas praças, almoçamos e por fim andamos muito pela cidade, até cansar.





Eu enfiei na cabeça que queria ver a uma peça de teatro e fomos a outro ponto de informações turísticas. Ganhamos um caderninho de programação das atividades culturais e um ingresso para assistir o que pensamos que era a peça de teatro para a noite.

Antes do evento cultural fomos ao mesmo restaurante que almoçamos, porque tínhamos gostado muito de lá, para jantar e tomar um bom Pisco Sour. Quando chegamos ao teatro, na verdade nos demos conta que era um filme que ia passar. E... não tinha ninguém, tínhamos um teatro todo apenas para a gente. Depois chegaram mais uns quatro gatos pingados. E o filme nada mais era que brasileiro. Eu podia ter achado isso bom, mas a vontade que eu tinha quando busquei a programação foi a de conhecer a cultura local, então não gostei. Para piorar era um filme muito antigo de duas horas de duração. Não conseguimos ficar e com meia hora voltamos para o hostel.

Na outra manhã saímos com nossas malas para a rodoviária. Para a minha sorte a funcionária do hostel me ajudou a consertar a mala e já sabíamos o melhor caminho para pegar o ônibus, assim, a saída foi bem melhor que a chegada. Deixamos nossas bagagens na rodoviária e fomos conhecer uma intervenção de grafiti que tinha sido feita nas ruas de um morro há poucos dias. Subimos a pé e curtimos muito os belos desenhos e depois descemos por um elevador que saia em um grande túnel. Legal! E no caminho para a rodoviária tinha uma feira onde as pessoas vendiam suas coisas, roupas, objetos e também tinham barracas de frutas e verduras. Achei muito bacana e claro que comi umas frutinhas deliciosas!

Depois pegamos um ônibus e seguimos para a cidade de Viña del Mar. Minha passagem por Valparaíso foi bem menor do que o previsto. Eu tinha pensado em ficar uns cinco dias, mas como ia ter uma manifestação um pouco pesada por lá e como vou seguindo a viagem com a programação que faço a cada dia, acabei saindo com pouquinho tempo.