No alto da montanha...

No alto da montanha...
Capilla del Monte - Cerro Uritorco - Argentina

terça-feira, 23 de abril de 2013

Flor ao Vento


Flor ao Vento
Te vejo leve
Acompanhando a brisa
Vai para longe
Tranqüila, serena
Já não tem mais raiz
Distanciou-se do pertencimento
Não está apenas em um solo firme
Experimenta novas terras
Sente as águas da chuva
Sente o calor do sol
Flor ao vento
Quero te acompanhar....



Por fim...


Nesses dias longe de casa conheci coisas fantásticas e tive um encontro muito importante comigo mesma. Contraditoriamente, sinto que esse foi o encontro mais importante da minha viagem, mas pouco sei falar sobre ele. Não... não cheguei à muitas conclusões depois de 70 dias de reflexão, não cheguei ao lugar ao sol, não tenho idéia do que quero fazer da minha vida. Mas a diferença de quando cheguei e de hoje é que agora me sinto muito mais tranqüila com tudo isso. Sinto tranqüila por ter tido um tempo para pensar em mim, mesmo não chegando aos fatos concretos. Sinto que não necessito de todas as respostas agora, mas que fiz o mais importante que foi olhar para dentro de mim!

Descobri coisas simples, mas que talvez eu nunca tivesse prestado atenção, ou que talvez tenham surgido somente agora no tempo da calmaria ou das novidades. Para começar, descobri esse blog. Eu não consegui fazer um blog informativo sobre os lugares que conheci, mas registrei as sensações e os sentimentos que passaram por mim. Descobri que gosto muito de escrever, mas sem imposições, sem pressão, data ou motivo específico.

Descobri que adoro fotografar e ver fotografias. Eu até tiro fotos das cidades, mas as fotos que eu mais gosto são das folhas, das luminárias, das calcinhas e meias penduradas nas janelas, das cores, dos toques da vida.

Interesso-me em conhecer as capitais, mas descobri que entre parar nas grandes cidades ou nas árvores, mesmo que sem nada ao seu redor, prefiro ficar com a segunda opção.

Descobri que cada vez gosto menos das relações superficiais e me encanto com sorrisos sinceros.

Insisto em tentar, mas não consigo rezar de jeito nenhum, mas descobri que gosto de conversar com as pedras, o sol, as montanhas, as estrelas e assim sinto a divindade dentro de mim e isso me traz um estado de contentamento indescritível.

Descobri que gosto muito de um carinho, mas descobri também que adoro ficar sozinha. Minha companhia pode ser boa e muitas vezes suficiente a mim mesma.

Descobri que tenho um desapego maior que eu sabia, mas que ficar longe das minhas verdadeiras amigas é mesmo difícil demais.

Estou aprendendo a limitar as palavras. Descobri a importância do silêncio.

Passei a sonhar coisas novas que nunca me permiti a sonhar e fico nervosa quando alguém me diz que parece conto de fadas. Fico nervosa porque talvez no fundo até concordo que meus sonhos podem ser irreais, mas descobri que não me importo mais em sonhar com o irreal.

Descobri que sou muito mais corajosa e menos fresca que eu pensava, mas ainda não aprendi a tomar banho de água gelada e a dormir em barraca quando faz muito frio.

No vazio da resposta à pergunta: “O que você gosta de fazer nos horários vagos Kelly?” Eu descobri que necessito urgentemente descobrir isso.

E como não podia faltar, descobri que amo viajar!




Mais 50 horas de viagem

Na ida para Córdoba foram 40 horas de viagem porque saí de São Paulo. Já era grande, mas para voltar resolvi emendar São Paulo direto para Belo Horizonte e completei 50 horas de viagem cansada, com dor na coluna e sem banho, hahaha. Eca! E pior, sem escovar o dente, porque enquanto fui ao banheiro em uma parada de ônibus e deixei minha escova e pasta de dente na pia, me roubaram os dois! Nunca imaginei que existiria ladrão disso, mas existe.

Enfim, 50 horas pesadas, principalmente pelo histórico da minha semana. Segunda-feira dois ônibus para chegar até Santiago do Chile. Terça-feira 23 horas de ônibus de Santiago até Córdoba na Argentina, chegando na quarta-feira. Quinta-feira entrei no ônibus com destino a Brasil, trocando de ônibus mais duas vezes e chegando em casa no sábado.

Diferente da ida, a volta foi pesada. Mas tive uma grande surpresa. Enquanto eu voltava pensando nos meus sonhos possíveis ou não de se realizarem... em uma parada de ônibus, conheci um dos passageiros que nada mais era que um escritor de romances. Ele me contou sobre a trajetória de sua vida, fantástica, e conhecê-lo foi como me fazer não perder a vontade de sonhar!! Foi incrível finalizar minha viagem no dia 20, começando no dia 10, completando 70 dias, números redondos com o 7 cabalístico e conhecendo o argentino escritor de romance que me influenciou a seguir sonhando!!

Fechando a expedição no lugar onde tudo começou.... em Córdoba!!

Nos ruídos de Santiago...

Bum! Cheguei à Santiago! Metrô, muita gente, muito carro, barulho... cidade grande! Fui direto para o hostel que Marieta tinha me indicado. Lá peguei um mapa com as indicações dos pontos interessantes da cidade e perguntei para o atendente onde eu podia comer comida típica e barata, algo que não fosse para turistas. Ele me indicou o mercado central, alertando que era caro e um outro mercadão falando que era barato. Não era só pelo preço, mas geralmente eu gosto mesmo dos lugares menos turísticos e optei pelo segundo. Mas quando eu cheguei no mercadão... era tipo o Ceasa, mas acho que ainda piorado. Era feio, com cheiro ruim e com um povão que dava medo de estar por ali sozinha.

Logo tratei de ir para o tal mercado central, que em contrapartida, tinha restaurante mesmo chiquerérrimo. Mudei de ideia mais uma vez e fui para a terceira opção que era um restaurante na rua. Lá eu perdi a paciência com o garçom e ele comigo quando eu perguntei se tinha algo sem carne e ele me responde “frango”, eu disse que isso era carne também e ele respondeu outro prato com “peixe” eu respondi o mesmo e por fim ele disse outro com “presunto”! Parecia até piada e eu fiquei mesmo irritada. Perdi a paciência e fui comer um salgado de queijo em pé em uma lanchonete! Depois sai para caminhar no meio daquele tumulto de cidade grande e fui chegando a conclusão que eu estava mesmo começando a ficar estressada como há tempos não ficava.

Com a sensação do nervosismo do barulho da cidade grande e do clima de capital eu decidi que os únicos lugares que eu ia visitar eram os parques... eu precisava de ir em busca do verde como refúgio! Assim fui para um dos famosos serros que eu tinha escutado que era muito bonito. Realmente era... eu pude sentar no banquinho de madeira e espairecer bem a cabeça. Mas confesso que eu ia preferir muito mais se não tivesse os caminhos de asfalto com muitas escadas e preferia até mesmo que não tivesses os castelos que eram o “tcham” do lugar. Também seria melhor se a vista do mirante não fosse para tantos prédios. Mas tudo bem, pelo menos eu não estava no meio das grandes avenidas de Santiago!

Depois que sai do parque fui para uma rua que me disseram que era muito linda, e era mesmo, em um estilo histórico e com vários barzinhos tranqüilos e agradáveis. Em um desses fiz um lanche, carérrimo por sinal e depois dei uma voltinha na feira de artesanatos e voltei para o hostel. Para a minha surpresa lá eu encontrei com a Marieta, mas dessa vez acabamos não ficando juntas.

Quando cheguei ao hostel o dono me perguntou qual era a cama do quarto coletivo que eu tinha escolhido. Eu respondi e ele me disse que não podia me deixar lá. Ele falou que eu escolhi logo a única cama que eles não tinham trocado o colchão e que estava muito ruim para dormir. Como as outras camas estavam ocupadas ele simplesmente me trocou para um quarto individual com cama de casal, o melhor edredon do mundo e um banheiro só meu! E um banheiro com água quente, chuveiro bom, tapete e sabonete para lavar a mão! Tinha tanto tempo que eu não via essa composição completa que aquilo se tornou o maior luxo para mim. Quando eu vi aquele quarto eu tinha a certeza que meus momentos dentro dele seriam os melhores de Santiago, e assim foi!

Eu tinha que fazer check in ao meio dia e na terça-feira não larguei o quarto enquanto não deu esse horário. Ai que delícia que estava aquele camão só meu!!! E sem o barulho das ruas agitadas. Percebi que não ia mesmo conseguir ficar na capital e quando tive que largar o hostel fui direto para rodoviária comprar minha passagem de volta para Córdoba. Comprei para às 21h e durante a tarde fui conhecer o outro serro.

Para subir ao serro havia a alternativa de ir a pé ou com um funicular, tipo um trenzinho meio na vertical. Eu escolhi a segunda opção porque tinha planejado de caminhar muito para explorar a parte alta do parque. Mas aí... continuava o Chile me aborrecendo. O parque era imenso com muitas áreas a serem desfrutadas. Mas não havia mapa e a atendente da recepção estava pouco se importando em explicar como caminhar por lá. Tinha que chegar ao alto para ver no que dava! E assim fiz, cheguei ao alto e... ninguém para ajudar direito! Ah nem... o moço que trabalhava lá me indicou para um caminho que não tinha saída e eu resolvi é que não ia mais mesmo para lugar nenhum, que ia só fazer o caminho de volta! Parei um pouco, fiquei sentada em um banco relaxando e fui tentar achar a saída.

Então encontrei um ponto de informações e o atendente me indicou que havia uma saída de asfalto de seis quilômetros e uma de trilha de três quilômetros. Não só pela distância, mas pelo entusiasmo de andar na terra sem dúvidas respondi que ia pelo segundo! Aí ele veio me falar que não era indicado para mulheres sozinhas e eu perguntei se era muito perigoso, se tinha assalto ou o quê e ele disse que não, que era tranqüilo, que eu só não podia me perder. Bom, se o problema era só esse eu falei com ele que se eu me perdesse eu faria o caminho de volta e fui.

Logo que pus o pé na trilha veio um funcionário uniformizado de moto atrás de mim! Ah nemmmmm.... mais uma vez... igualzinho aconteceu na montanha de Córdoba... ganhei um vigia! Ele veio me falar que a trilha era altamente perigosa, que tinha assaltos constantes e que era para eu andar perto de um casal que estava à minha frente. Eu respondi que se era assim eu ia voltar e ia fazer o outro caminho. Aí ele respondeu que o outro era ainda pior. Achei que era mentira, mas tinha que pensar o que fazer. Este serro é super visitado, um lugar lotado, um dos principais pontos turísticos. Eu pensava que por ser assim, não era possível que fosse tão perigoso. Mas ao mesmo tempo também pensava que por estar lotado de turistas com dinheiro e equipamentos caros realmente podia ser. Enquanto eu pensava ele veio falando que então me acompanhava a descer o de terra, que era o papel dele fazer a segurança do lugar. Eu não estava gostando da idéia da companhia dele, diferente do guia que me acompanhou em Córdoba, com esse eu não tinha boas intuições. Mas como ele estava uniformizado, com rádio e tudo mais e eu vi que além do casal passavam outras pessoas por ali, acabou que assim eu fui com ele do lado na moto. Horrível, mas ainda bem que eu consegui acelerar e cheguei rapidinho. O pior foi ter que escutar dele “Como eu faço para te encontrar no Brasil?” eu respondi maldozamente “chega em Minas Gerais e procura!” ele ficou achando que MG era uma cidadezinha pequena, kkk.

Era mesmo hora de sair de Santiago que só estava me cansando e depois de uma maratona de metrô lotado fui pegar o ônibus que sairia às 21h de terça e chegaria em Córdoba às 17:30m de quarta...



Em Córdoba, onde tudo começou... 


Cheguei a Córdoba na quarta-feira com um enorme sorriso no rosto. Era engraçado olhar para mim mesma e perceber a sensação que eu estava de estar retornando para casa. Era isso que eu sentia ao ver aquela cidade harmoniosa de volta!! Parecia que eu estava chegando ao meu aconchego. Foi aí que eu percebi o quanto gostei de Córdoba!!

Apesar de ter chegado com a vontade de ficar mais, depois dos meus pensamentos da fazenda decidi chegar e comprar a minha passagem para o Brasil. Fui à bilheteria e consegui ter a minha primeira discussão em espanhol. Briguei feio com o atendente e nem tenho vontade de escrever sobre isso para não reviver. Mas engraçado foi que eu estou mesmo em uma fase em que tudo é amor! No fim de muito bate boca eu não aguentei e tive que falar com o atendente que “agora estamos bem. Está tudo resolvido e pronto, estamos bem!” kkk. Ele não significa nada para mim, mas esse clima de briga estava pesado demais e isso não é bom em lugar nenhum, assim, fui “fazer as pazes” rsrs.

Depois saí em direção ao meu ponto de apoio. Meu amigo Mário, sem eu pedir nada, deixou a chave da casa dele com o vizinho, já que ele estava trabalhando, para eu buscar e me alojar lá. Mário é mesmo um garoto muito bom e em meus dias em Córdoba ele me ajudou com tudo o que eu precisei! Saí da casa dele meio intrigada porque eu queria muito ter retribuído de alguma forma, mas sem ter idéias criativas não soube como agradecer.

Bom, cheguei a casa e logo fui ao Parque Sarmiento me despedir da sua bonita paisagem e de alguém especial que eu não tinha certeza se ia encontrar por lá... Mas encontrei! Encontrei com o homem de cheiro de sândalo, sorriso de lótus e brilho de sol! Como todo bom diário tem um romance, eu não posso finalizar o meu sem dizer que na minha viagem alguém me trouxe sentimentos muito bons. Quem me ensinou a abraçar com o coração ao centro, talvez pela conexão que vem desse abraço, sem querer alcançou um pedacinho mais profundo em mim.  Sob as lindas árvores do parque despedi-me feliz de poder estar ali, naquele momento presente, sentindo mais uma vez o seu forte abraço. Despedimo-nos sorrindo e seguindo...

Com um sorrisão no rosto voltei para casa e depois fui a um bar com Mário e Mely e uns amigos deles. Ah essa garotinha... ela me disse a frase: “eu faria tudo para estar aqui e me despedir de você!”. Como ela é fofinha!! Segundo ela, em julho estará no Brasil e eu vou amar recebê-la. Foi muito bom ganhar essa irmã por um mês!

Na quinta-feira, meu último dia, fui comprar uns alfajores de presente, despedi-me do melhor sorvete que eu já tomei, atrasada mas com toda a calma para desfrutar daquele momento, tomei um mega banho já que eu possivelmente ficaria de quinta até sábado à noite sem mais tomar banho (que horror, kkk, mas era o tempo que ia ficar no ônibus) e segui até a rodoviária, me despedindo daquela cidade com a qual eu tanto me identifiquei....

Na calmaria da fazenda....



E então eu cheguei à Catemu, pequeno povoadinho do Chile circundado por montanhas gigantes. Eu tinha avisado na fazenda que eu ia chegar na sexta-feira, mas para aproveitar mais cheguei na quinta. Eu não sabia se eu podia chegar antes e na dúvida até pensei em dormir no povoadinho, ele estava tão tranqüilo que deu mesmo vontade. Mas decidi pegar o táxi que levava até a fazenda e se não desse certo eu voltava.

Cheguei e logo já matei minha dúvida. No cartaz que eu vi não tinha nada falando que a fazenda era do pessoal Hare Krishna, mas pelos vestígios eu imaginei e essa foi uma das influências que me levou a ir para lá. Cheguei e fui logo recebida por um devoto com seus trajes religiosos de monge, roupa de pano laranja, blusa e algo em forma de saia, pintura no rosto e cabeça raspada com rabinho e colar de sementes. Eu adoro essa composição deles, a simplicidade da roupa me traz uma boa harmonia visual. Apresentei-me, eles apresentaram um pouco do programa e me levaram para a minha cabana.

A cabana é um quartinho de pau-a-pique e sapé muito bonitinho. Também fui apresentada para minha única companheira de quarto. Depois de tantos hostels compartidos com um montão de gente, embora eu até goste, quando eu vi aquela cabaninha só para nós duas com um banheiro de chuveiro de água quente para tomar banho... hum... eu respirei fundo e senti o ar da serenidade começando a chegar em mim!

No primeiro dia fui logo fazer a aula de yoga. Quase morri de tanta dor em todos os lados do corpo. Quanto mais doía mais eu me certificava que tenho que fazer yoga quando voltar para casa. É impressionante como sou enferrujada e não tenho controle sobre meu corpo. Preciso urgentemente tratar isso para colaborar com a vida saudável!

Depois do yoga fomos jantar. Nossa... quanta comida! Eu estava certa que na fazenda eu ia regular a minha alimentação, mas a realidade foi totalmente diferente. Está certo que eu comi muita coisa boa e rica em tudo que precisa, mas o problema é que lá a forma de alimentação é muito maluca. Eles servem café da manhã por volta das nove, almoço por volta das três e janta às oito. Não existem meias refeições nos intervalos e para não ter fome essas três principais são mega bem servidas. Pela primeira vez na vida eu vi e vivi a idéia de comer comida, arroz, sopa e outros no café da manhã junto com pão e chá. E não dava para fugir disso para ter forças para trabalhar e agüentar esperar o almoço. Mas que as comidas eram deliciosas e que eu adorava o horário das refeições isso é certo!

Trabalhando...
Fiquei na fazenda de quinta à noite até segunda de manhã. Por isso acabei trabalhando pouquinho. A idéia do trabalho voluntário, nesse caso, era organizado da forma que cada voluntário pagava cerca de vinte reais por dia, com direito às refeições e aulas de yoga e oficinas e como o valor era muito em conta, cada um contribuía com quatro horas de trabalho diário com atividades de fazendas. Na verdade quem vai até lá tem a ideia do trabalho como uma atividade também de lazer, boa para a mente e para novos conhecimentos.

No primeiro dia eu trabalhei com mais duas voluntárias quebrando as cascas de nozes e separando as partes inteiras e quebradas para a venda. Três mulheres juntas fazendo esse trabalho resultou em muita tagarelagem. No segundo dia trabalhei com a horta, cortando as folhas secas e amarrando os pezinhos de tomate. Esse foi o melhor dia! Eu trabalhei descalça e sem luvas para sentir as energias da terra através do meu trabalho. No terceiro dia ajudei a varrer as folhas secas da grama. Esse dia foi pesado porque levantava uma poeira de doer nariz e os braços também doíam. Mas fui eu que escolhi a atividade, eu gosto tanto das folhas secas das árvores típicas dos lados de lá, que eu queria trabalhar perto delas de alguma forma!

Todo o trabalho era feito em conjunto. Somávamos quatro voluntários “de fora”. Eu, uma chilena que era a minha companheira de quarto e passou cerca de dez dias na fazenda e um casal de???? Brasileiros! De onde???? Minas Gerais! Foi muita coincidência! Jamais eu ia esperar encontrar com mineiros em uma fazenda no meio do nado do Chile. Eles estavam lá por um mês e eram super bacanas. Eles são do tipo de casal que gosta de agregar amigos ao relacionamento, então estivemos muito juntos. Nessa história só o meu espanhol que começou a ir por água abaixo. Não é nada positivo para o aprendizado de línguas ficar exercitando a sua língua materna! Mas foi muito bom ter a companhia deles.

Além de nós quatro “de fora” tinham mais dois amigos dos devotos que também faziam as mesmas atividades que a gente, mas que tinham uma inserção maior na busca pelo conhecimento das teorias da religião. Na verdade a fazenda é de um grupo de religiosos, mas eles deixam mesmo o programa bem a parte disso. Eu acho isso interessante, que é uma forma deles demonstrarem que o programa não tem o objetivo de ficar influenciando ou “forçando” ninguém a nada, era apenas um trabalho voluntário na fazenda sem nenhum outro ideal. Mas diretamente para mim não foi muito boa essa separação porque eu queria conhecer um pouco mais da filosofia religiosa. No entanto, como eles não divulgavam muito os horários de reunião deles, eu acabei ficando totalmente desleixada desta intenção e me dediquei somente a desfrutar da tranqüilidade do lugar, da minha solidão (de uma maneira muito positiva) e dos momentos com os amigos de lá.

Medinho..

A solidão, embora positiva, só era dura nos momentos de escuridão. Para usar o banheiro de fora, como eu escolhi, eu tive que me propor a desafiar meu medo de escuro, um dos maiores medos que tenho, para sair caminhando na noite estrelada até chegar lá. Para mim isso era um desafio e tanto! Na minha última noite a minha companheira de quarto tinha ido embora. Eu tinha pensado que ia adorar isso, porque a ideia de um quarto só meu a essa altura da viagem me caia muito bem. Mas nesse dia... confesso que dormi com a luz acessa, kk. Eu tinha sido a última a sair do salão do jantar porque estava usando o computador. Quando tive que apagar a luz do salão e vi toda a fazenda apagada e adormecida corri pro meu quatro e fiquei com a luz acessa a noite toda, principalmente porque não tinha chave na porta. Resultado foi que eu acordei às quatro da manhã e aproveitei para, no último dia, me reunir com os devotos no templo enquanto eles faziam as orações da madrugada que começa as cinco e vai até as oito. Eu não dei conta de assistir tudo, até porque fui embora da fazenda às 07:30, mas pelo meu interesse e pelo medo que eu estava de ficar no quarto eu preferi ir para lá rezar. Rs.

Cena de filme...

No meu tempo livre na fazenda, avaliando minhas ações dos últimos dois meses e o meu verdadeiro desejo de conquistar essa realização, eu decidi que ali, sem esperar mais nenhum dia, eu tinha que aprender a andar de bicicleta, kkk. Contei isso para o Leandro, voluntário e estudioso da religião, e ele se ofereceu para ajudar. Inicialmente eu falei com ele que queria tentar sozinha porque sabia que com ele, ou com qualquer pessoa, eu ficaria com vergonha. Assim, peguei uma bicicleta da fazenda e fui tentar. Nossa, não conseguia sair do lugar de jeito nenhum e tive que falar para o Leandro que eu mudei de ideia em relação a sua ajuda.

Depois de trabalhar no domingo o Leandro se ofereceu a me acompanhar e fomos para a rua de asfalto para a nossa missão! Gente... que bonitinho que foi e que delícia a sensação de conseguir um pouquinho! O que foi bonitinho é porque o meu dia com ele foi igualzinho filme de romance adolescente. rs A cena foi a seguinte: Passamos por uma ponte do rio que cai, de madeira e que balançava até, sobre um lindo rio em um dia muito ensolarado. Chegamos ao asfalto e lá fomos nós... Ele começava segurando a bicicleta com uma mão entre um guidom e a outra entre os dois. Eu ia pedalando, pegando velocidade e ele... tadinho... rsrs, ia correndo junto comigo, mas correndo mesmo, porque a bicicleta não tinha freio e eu estava descalça e não tinha como parar com o pé. É claro que se eu soubesse disso tinha colocado um tênis, mas não sabia e assim íamos, eu pedalando e ele segurando o guidom e correndo atrás de mim. Ele ia dizendo um monte de palavras de incentivo e eu, que na verdade não senti vergonha nenhuma, ia me enchendo de entusiasmo e cada vez conseguindo um pouquinho mais e ele cada vez mais comemorando “Isso Kelly!!”. Tava mesmo uma cena um tanto quanto adolescente a marmanja aqui de vinte quatro anos sendo apoiada para aprender a andar de bicicleta. Por fim eu até consegui um trajetinho bom, mas não consegui arrancar sozinha. Só parei de tentar para não matar ele de cansaço, coitado! Para descansar sentamos na ponte de asfalto e ficamos vendo o rio, as árvores e conversando coisas bonitas sobre as sensações de estar no meio da natureza. No fim do dia Leandro me surpreendeu me entregando meu primeiro e único poema em espanhol, feito para mim. Eu fiquei super desconsertada, sem jeito, com vergonha e, vermelha,... agradeci! Depois fiz uma cartinha pra ele agradecendo pelo dia e dizendo que ele será sempre lembrado. O poeminha dizia o seguinte:

“Lindo es compartir
Bello es saber,
Que hay una persona
Que quiere aprender
Cosas divertidas
Cosas con valor
Temas interesantes
Que dan placer al corazón
Es un agrado conocerte
Es un encanto saber de vos
Es disfrutable saber que existe
Una gran alma en tu interior
Con mucho cariño Leandro”

Bonita recordação!!


Momento de decisões...

E meus momentos de solidão na fazenda também foram excelentes. Levaram-me a fazer uma análise dos últimos dias, de qual era o estágio que eu estava chegando, do que eu gostava e o que eu não gostava e assim fui começando a pensar na idéia de voltar para casa. Foi exatamente o momento de relaxamento que começou a me fazer sentir cansada. Fui pensando nos meus próximos trajetos, com duas super cidades grandes, capital do Chile e da Argentina e fui dando uma desanimada. A fazenda me fazia querer muito mais parar do que seguir. A idéia de ficar entre prédios, carros, barulho começou a soar estranho para mim quando eu estava ali, entre as árvores de maça verde, de nozes, entre os pavões, os matos e as folhas secas. Além disso, olhava para o tamanho da minha super pansa que se formava e comecei a ficar enjoada com a idéia de ficar tacando um tanto de massa gorda para dentro do meu corpo por, muitas vezes, ser a única opção de comida (não na fazenda). Eu comecei a sonhar e idealizar uns dias comuns com uma dieta saudável, balanceada. Meu corpo pedia isso! Nesse contexto eu fui percebendo o quanto comecei a desacelerar do meu ritmo vulcão que guardo escondido no meu interior. Não sabia se essa acalmada seria só ali na fazenda, mas eu estava feliz de sentir a paz interior. Os dias na fazenda me deram sensações contraditórias, a de que aquilo ali me fazia muito bem e era bom estar ali e ao mesmo tempo a de que eu tinha que começar a me mover e que eu não conseguiria ficar por muito tempo parada na fazenda. Muito contraditório, mas é isso que eu senti e fiz. Parecia que eu recebia um chamado para voltar para casa!

Além disso, por muita coincidência minhas coisas todas estavam chegando ao fim, coisas bobas, mas parecia uma conspiração para minha volta. Estava muito no restinho a minha pasta de dente, o meu shampoo, meu creme de cabelo, meu creme de corpo, meu remédio que eu tomo todos os dias e não acho o mesmo fora do Brasil e meu caderninho de anotações que terminava apenas com uma folha. Tudo isso eu podia comprar mais, mas pura coincidência tudo aconteceu junto! Analisando as coisas eu fui percebendo que eu tive maravilhosos setenta dias, mas que estava entrando para uma fase que dois acontecimentos no Brasil me fariam mais felizes que o restante da viagem.

Sábado dia vinte seria a festinha de aniversário da minha irmã. Nós duas vivemos separadas e por isso nos falta um pouco de contato e intimidade. Mas nesses dias de viagem escutei que ela estava “morrendo de saudade” de mim. Escutar isso fez meu coração tremer! Que lindeza, ela morre de vergonha de conversar comigo e falar uma frase dessa foi mesmo demais. Resultado é que eu fiquei morrendo foi de vontade de chegar ao aniversário dela de surpresa e dar-lhe um imenso beijão de parabéns! Outra situação era que em data bem próxima a minha madrinha, amiga, companheira, parceira iria passar por um momento um pouquinho complicado e tudo que eu mais queria era estar ao lado dela. Estar junto com ela me faria mesmo muito mais feliz que estar junto de qualquer linda paisagem ou principalmente de qualquer cidade cinza. E por tudo isso eu decidi voltar!! Decidi voltar leve, feliz e satisfeita com a minha expedição.

Eu tinha pensado na ideia de ficar na fazenda por um mês, mas depois dessas sensações eu vi que tinha que seguir e assim fiz! Eu não estava muito no clima da capital, mas Santiago estava muito perto e por curiosidade e por ali ser o ponto de partida para qualquer outro lugar eu fui para lá na segunda-feira pela manhã.

Partindo para a despedida...

Ir para Santiago foi uma maratona. Como eu resolvi de repente a minha data de saída, não comprei a passagem antecipada. Mas em um povoadinho tão pequeno e com muitas saídas de ônibus para a capital eu não tive a maldade de pensar que a passagem podia acabar! Quem me levou até o terminal de ônibus foi um devoto e ele já me adiantou a possibilidade de não ter passagem. Quando chegamos ele tratou de me ajudar tentando buscar as informações para mim. Não tinha mesmo passagem e ele conversou com o motorista do ônibus para ver se ele não deixava eu ir em pé, já que era apenas uma hora e meia de percurso. Ele disse que alguns motoristas deixam, mas esse não permitiu. Assim fui para a segunda alternativa que ele me ensinou.


O devoto ficou comigo até vir um ônibus de circulação comum e avisou para o motorista que eu queria descer na entrada de um próximo povoado. Lá eu desci e caminhei uns vinte minutos até chegar à estrada onde passavam muitos ônibus de viagem para a capital com lugares vazios. O devoto tinha dito que havia sempre muitas pessoas no ponto de ônibus, mas enquanto eu cruzava a passarela vi que só tinha uma pessoa. E essa pessoa fez o favor de pegar uma carona faltando um minuto para eu chegar. Ai que medo que eu fiquei de estar ali na estrada. Mas o medo vinha junto com a coragem e ali eu fiquei. Só que eu não tinha idéia do que fazer com o ônibus, se eu tinha que dar sinal, para qual que era. Mas eu fiquei apenas uns cinco minutos e chegou um garoto com cara de quem estava indo trabalhar. Eu tirei as dúvidas com ele e logo o ponto realmente encheu de gente, todo mundo rumo à capital e lá fui eu!








Em Viña del Mar....

Conhecendo Viña...

Chegamos em Viña e fomos direto para o hostel que Marieta já tinha buscado na internet. Ótimo, grande, bonito, limpinho e em uma boa localização! Depois saímos em busca de uma lavanderia para eu lavar minhas roupas. Passamos foi muita raiva! É impressionante como os chilenos não sabem dar informações de onde ficam os lugares, não sei se não sabem ou se tem má vontade mesmo, mas o certo é que nós duas não entendíamos as meias explicações que nos deram e andamos por um bom tempo até achar a lavanderia.

De lá fomos ao terminal de ônibus pegar informações e depois eu queria ir almoçar no Mercado Central e Marieta me acompanhou. Em Viña eu escolhi experimentar uma sensação que para mim acabou se tornando meio diferente agora. Faz nove meses que eu decidi evitar de comer carne e assim vou seguindo, evitando. E em Viña eu escolhi comer os famosos pescados fresquinhos e optei pela merluza. Comi e a experiência foi mais ou menos, parecia que aquele momento não era só comer um peixe. É, foi mais ou menos, mas eu tentei não tirar conclusões sobre o almoço, só sei que alguma coisa ficou me cutucando.

Depois do almoço caminhamos um tanto bom até chegar a uma parte da praia. A minha intenção era ir até a parte de areia e fazer uma caminhada. Mas quando chegamos à parte de pedras reconhecemos o cansaço do nosso corpo, já que a gente já tinha andado bastante em Valparaíso. Assim, sentamos nas pedras na beira do mar e ficamos por quase uma hora admirando a vista que tínhamos. Um dia um pouco cinza, com muitas nuvens, um céu embaçado que se misturava com o mar em uma só cor. Alguns navios, muitos pássaros e um raiozinho de sol. Estava muito bom sentir a calmaria daquele lugar. Era possível sentir o nosso corpo relaxando das nossas últimas correrias para conhecer os novos lugares.

Observando a paz relaxante do mar, nós permanecemos por muito tempo em silêncio, em conexão apenas com o que víamos à nossa frente. Mas era inegável que a paisagem era um tanto quanto romântica e então falamos de amores. Falamos de amores passados, amores futuros e no presente, estávamos as duas vivenciando a busca pelo encontro com a nossa própria pessoa. Estávamos as duas vivenciando a mesma escolha, o mesmo caminho, mas confessamos que às vezes um carinho podia fazer bem... mas, queríamos estar só!



Depois de um tempinho seguimos a caminhada porque era a vez da Marieta almoçar e fomos para um restaurante. Viña é muito freqüentada por turistas de vários lugares por causa de suas praias e os restaurantes das ruas têm todo esse clima de cidade turística. Eu não gosto muito não!

Voltamos para o albergue e já à noite fizemos amizade com três caras e saímos juntos. Acho que estávamos precisando mesmo de uma galerinha para dar um up! Nós duas estamos meio que na calmaria e a calmaria das duas juntas estava resultando em uma paradesa, rs. Assim, a companhia dos meninos deu uma agitada e nos trouxe boas gargalhadas. Fomos a dois bares, tomamos bons piscos, escutamos músicas e conversamos da forma que conseguíamos. Estava muito engraçado porque um dos garotos não fala e não entende nada de espanhol e eu não falo e nem entendo nada de inglês. Os outros falam as duas línguas e assim revezavam quando iam enturmar a ele ou a mim. Rs.

Experimentando ...

No dia seguinte nós duas demos uma separada porque cada uma ia seguir um rumo diferente. Eu fui dar uma voltinha na feira de artesanato, depois fiquei um tempo sentada em um banquinho de madeira observando o mar. Logo fui averiguar as informações sobre o meio de transporte para a minha saída da cidade.

Também fui buscar minhas roupas na lavanderia e ainda bem que eu aprendi a contar as peças, porque já ia ficando uma meinha para trás!rs. Enquanto eu esperava a lavanderia achar minha meia tive uma idéia maluca. Eu queria almoçar e lembrei da experiência com o peixe do dia anterior e aí quis me propor a conhecer minhas reais vontades e me testar a saber se eu queria voltar para a carne ou não. Era um teste comigo mesma, para eu ver se eu estava sendo sincera com minha escolha. Acabei fazendo o teste mais radical e experimentei o tão falado Mc duplo. Já que era para eu testar, então que eu testasse direito. Resultado é que eu não gostei mesmo da experiência. Não foi bom, detestei, mas gostei de ter me permitido me testar!

Passando por um portal...

Na verdade esta quinta-feira estava significando uma passagem para mim. Era nessa quinta-feira que eu ia começar uma experiência diferente na viagem indo para uma fazenda. Não sabia o que ia acontecer de diferente comigo na fazenda, mas eu sentia que esse era mais um portal. E no clima de mudanças, na quinta levantei bem mais cedo que nos outros dias para não incomodar ninguém e tomar um banho muito demorado. Fiquei à vontade para fazer isso nesse hostel porque finalmente esse era um que tinha muitos banheiros. Mas mesmo assim escolhi tomar esse super banho lava alma bem pela manhã. E antes passei na recepção, pedi uma tesoura emprestada e com essas tesourinhas de papel entrei para o banheiro e.... adeus dreads de nove meses!! Depois entrei para o mega banho e eu me sentia mais leve! Alguma coisa mudava em mim....

Sobre a fazenda, quando eu estava em Valparaíso vi uma portinha com umas pinturas que indicavam que ali era um templo Hare Krishna. Eu já tinha tido esse contato em Córdoba e se ali eu tivesse mais uma oportunidade de conhecimento seria ótimo. Toquei campainha e pedi para conhecer. Mas a moça que me atendeu estava cozinhando e simplesmente me largou caminhando sozinha por dentro da casa. Assim não consegui informação nenhuma e saí. Mas não consegui informação de nada lá dentro, porém, na entrada do templo havia um cartaz que chamou muita minha atenção. O cartaz falava de um trabalho voluntário em uma fazenda que em sua programação incluía aulas de yoga e cozinha vegetariana. Eu anotei todos os contatos e depois busquei mais informações na internet. Eu já estava com a idéia de fazer um trabalho voluntário em uma fazenda, mas quando voltasse para o Brasil. Isso era o que eu tinha idealizado para fechar a minha viagem. Pensei em trinta dias andando descalça com o pé na terra e respirando verde como finalização da minha expedição. Mas aquele cartaz com as aulas de yoga e na entrada de um templo estava muito convidativo e eu acabei decidindo ir para lá!

A fazenda fica em um pequeno povoado do Chile que se chama Catemu, cerca de duas horas de Valparaíso e da capital Santiago. Eu fui até a rodoviária pedir informações de como eu chegava até lá e a moça das informações turísticas não sabia. Aí um enxerido na intenção de ajudar informou que passava um ônibus na rua com a placa escrito Catemu e que era fácil de eu encontrar. Eu não senti confiança e por isso fui para lá com antecedência sem minhas malas só para confirmar. Não existia mesmo esse tal ônibus. Mas o pessoal da fazenda já tinha me passado as indicações que eu teria que pegar dois ônibus e eu fui lá no ponto e depois voltei para a rodoviária e me certifiquei que era isso mesmo. Na rodoviária o atendente me informou que eu podia comprar a passagem direto no ônibus. Como eu não tinha certeza da hora que eu ia sair, decidi fazer dessa forma.

Ruma à fazenda...

Fui para o ponto 14:40 sabendo que o ônibus passava 14:50. “Ótimo”, o ônibus chegou 15:00 e sem lugar livre! Fiquei muito puta com o moço da rodoviária que disse que eu podia comprar na hora. E o cara do ônibus falou com a cara mais normal do mundo que depois de uma hora ia passar outro e que com certeza ia ter lugar. Ele falou como se uma hora debaixo de um sol de rachar fosse igual à 15 minutos. Mas... ali eu fiquei! E depois da tal uma hora chegou o outro ônibus... sem lugar! Nossa, eu fiquei com raiva demais. Esse povo do Chile estava me deixando muito furiosa! E foi engraçado que nesta uma hora de espera uma moça chilena começou a conversar comigo e ela ia pegar o mesmo ônibus. E quando vimos que não tinha lugar ela me perguntou o que podíamos fazer, kk. Eu morri de rir por dentro, ela, chilena, me pedindo conselhos. Eu disse que ia até a rodoviária garantir a passagem para o próximo e enquanto ela pensava no que fazer dei sorte de não ter saído porque logo em seguida chegou outro com lugar.

Na estrada...

Eu tinha que descer em uma indústria e pedi ao funcionário do ônibus me avisar o ponto certo. E assim desci no meio de uma estrada gigante, com grandes montanhas de fundo. Fiquei super feliz que tinham mais duas pessoas no ponto, porque descer em uma estrada sozinha causa um certo susto. Mas tinha um cara com uma mala grande que devia ser funcionário da empresa e uma garota. E nós três pegamos o ônibus Catemu. Era um micro ônibus lotado. Era igual aos nossos micro ônibus mesmo de cidade grande, não tinha lugar para mais nada e quando eu perguntei para o motorista se era possível entrar com a mala ele respondeu um monte de resmungo que eu não tinha idéia do que era. Mas só vi uma mãozinha de um senhor muito amável puxando minha mala para dentro e ajeitando um espaço para me caber. E assim ele foi segurando minha mala para mim do início ao fim.


sábado, 13 de abril de 2013

Em Valpo...


O primeiro destino do Chile era Valparaíso. Quando o ônibus estava chegando à rodoviária, passava por ruas muito charmosinhas e eu fica com a frase na cabeça “que lindo!”. Assim fiquei uns dez minutos de “que lindo!” até que em um momento a imagem me fez pensar: “hum que feio!” aí logo em seguida pensei: “imagina se aqui é Valpo?!” Bem – vinda, nesse momento cheguei a minha cidade de destino! Hehe Eu já sabia que a cidade era como os morros das favelas do Brasil, então não me assustei muito, mas que a chegada era feia era!

Valparaíso é como as favelas com muitos morros de casas simples. Mas o que atrai os turistas é o clima artístico e boêmio que compõe essa região, que também se encontra em um porto marítimo. Fui para lá curiosa para conhecer a cidade que meus amigos mineirinhos tinham acabado de voltar encantados com o lugar. E realmente, só a chegada que era feia!

Quando cheguei à rodoviária fui procurar um ponto de informações turísticas e só encontrei nas ruas, era um quiosque na calçada. Ali com a minha mala fiquei esperando a moça terminar de atender a um casal para depois me atender. No muito tempo que esperei fiquei morrendo de medo de algum pivete me roubar. A sorte que dei de ter que ficar parada ali foi a de ter conhecido Marieta, que acabou tornando a minha companhia por uns bons dias.

Enquanto eu esperava a fila se formou com uma menina de mochilão nas costas, parada atrás de mim. Ela era tão bonita e delicadinha, achei divertida a cena dela com aqueles equipamentos de viagem de aventura. Como ela parecia ter a minha idade e estava sozinha, imaginei que também ia para um hostel e perguntei se ela tinha algum para me indicar. Ela também estava buscando, então pegamos um mapa e seguimos juntas. Que loucura que foi a nossa busca!

Marieta é do tipo garota esperta, despachada. Não é como eu que para entender um mapa tem que sentar e ficar uns bons minutos analisando. Ela simplesmente pega e vai. Logo eu acabei meio que “seguindo” ela que comandava os caminhos. Assim fomos acertando e errando muitas ruas. Foi um verdadeiro desastre minha chegada em Valparaíso. Nós duas pegamos um ônibus até o centro da cidade. A minha mochila não cabia em lugar nenhum e eu ainda não estava acostumada com aquela nova moeda em que uma passagem custa 220 pesos, que equivale a menos de 2 reais, mas que a quantidade de números me assustava. Por isso deixei o motorista nervoso e todo mundo me olhando feio. Quando descemos tivemos que pegar um elevador para chegar ao alto do morro que íamos. Chegamos às ruas de pedra onde a mala de rodinhas não podia funcionar e eu tive que sair carregando um chumbo danado. Subimos e descemos a mesma rua várias vezes e quando por fim eu encontrei um espaço para usar a mala no chão, a rodinha estragou de novo e o jeito foi carregar muitos quilos por muitos minutos. No meio desse estresse e com quatro calos que se formaram na minha mão, nós paramos em um hostel que estava caro, mas estava fácil de parar.

Depois de descansar um pouco e tomar banho nós duas fomos comer uma pizza que estava incrivelmente deliciosa e voltamos para o hostel sem ir em busca das noitadas da cidade. No dia seguinte saímos pela manhã e trocamos para um hostel mais barato, depois saímos para conhecer os pontos turísticos. Fomos às partes mais altas dos morros para avistar a cidade, mas tivemos um baita azar porque o céu estava coberto de nuvens. Conhecemos uma galeria de arte, tiramos umas fotos das casinhas coloridas e das ruas com grafite, conhecemos algumas praças, almoçamos e por fim andamos muito pela cidade, até cansar.





Eu enfiei na cabeça que queria ver a uma peça de teatro e fomos a outro ponto de informações turísticas. Ganhamos um caderninho de programação das atividades culturais e um ingresso para assistir o que pensamos que era a peça de teatro para a noite.

Antes do evento cultural fomos ao mesmo restaurante que almoçamos, porque tínhamos gostado muito de lá, para jantar e tomar um bom Pisco Sour. Quando chegamos ao teatro, na verdade nos demos conta que era um filme que ia passar. E... não tinha ninguém, tínhamos um teatro todo apenas para a gente. Depois chegaram mais uns quatro gatos pingados. E o filme nada mais era que brasileiro. Eu podia ter achado isso bom, mas a vontade que eu tinha quando busquei a programação foi a de conhecer a cultura local, então não gostei. Para piorar era um filme muito antigo de duas horas de duração. Não conseguimos ficar e com meia hora voltamos para o hostel.

Na outra manhã saímos com nossas malas para a rodoviária. Para a minha sorte a funcionária do hostel me ajudou a consertar a mala e já sabíamos o melhor caminho para pegar o ônibus, assim, a saída foi bem melhor que a chegada. Deixamos nossas bagagens na rodoviária e fomos conhecer uma intervenção de grafiti que tinha sido feita nas ruas de um morro há poucos dias. Subimos a pé e curtimos muito os belos desenhos e depois descemos por um elevador que saia em um grande túnel. Legal! E no caminho para a rodoviária tinha uma feira onde as pessoas vendiam suas coisas, roupas, objetos e também tinham barracas de frutas e verduras. Achei muito bacana e claro que comi umas frutinhas deliciosas!

Depois pegamos um ônibus e seguimos para a cidade de Viña del Mar. Minha passagem por Valparaíso foi bem menor do que o previsto. Eu tinha pensado em ficar uns cinco dias, mas como ia ter uma manifestação um pouco pesada por lá e como vou seguindo a viagem com a programação que faço a cada dia, acabei saindo com pouquinho tempo.

Cruzando os Andes



Sai de Mendoza com o clima meio carregado, mas tudo se foi quando comecei a avistar a Cordilheira dos Andes de dentro do ônibus. Mais magnífico então foi quando não só avistei, como cruzei os Andes entre a Argentina e o Chile!







Enquanto o ônibus passava por aquela paisagem tão rara eu pensava nas palavras que podiam descrever o que eu sentia ali e vi que era impossível chegar aos nomes daquele sentimento de maravilhamento que eu estava. Não concretizei as palavras, mas estava certa que estar entre a paisagem de montanhas secas e montanhas de gelo, especialmente aquelas montanhas, era um dos melhores momentos da minha viagem.


Só o que não foi muito bom foi cruzar a fronteira. Diferente da entrada na Argentina, a entrada no Chile era muitíssimo burocrática, até com cachorro cheirando as nossas bolsas. Além de só colocar a bagagem na esteira a coisa ali parecia muito minuciosa e de certa forma dava para perceber que todo mundo estava meio perdido nas mais ou menos uma hora que ficamos parados por lá. Mas deu tudo certo!

Passando por Mendoza


Minha passagem por Mendoza não foi muito das melhores. Não sei se isso influenciou, mas já fui para lá sem muito entusiasmo, já que não tinha escutado nada sobre a cidade que para mim tivesse muito interesse. Mas fui porque estava no meu caminho e então eu não quis pular.

Mendoza é conhecida como a cidade do vinho. Eu já me divirto muito com um vinho Chapinha, dos mais baratos do Brasil, então não faço questão de conhecer os sabores refinados. Além do mais, em Salta eu tomei o vinho mais doce e mais gostoso que já provei e dei-me por satisfeita. Para completar a rota das bodegas é feita, na maioria das vezes, pedalando bicicleta ou contratando uma empresa. Como eu ainda não tive a alegria de aprender a andar de bicicleta e não queria gastar dinheiro com as empresas, saí da cidade do vinho comprando uma garrafa apenas das lojinhas do Mercado Central, sem conhecer as bodegas famosas. E acho é que eu gosto muito mais mesmo é do Mercado Central! 

Em Mendoza tive a minha primeira experiência do Couchsurfing, rede da internet onde os viajantes que estão acostumados a ter que buscar um sofá para dormir disponibilizam os sofás das suas casas para outros viajantes. Eu escolhi a casa de Gabriel quando ainda estava em Córdoba, depois de analisar muitíssimos perfis. Escolhi pedir abrigo para ele porque as descrições e as fotos que ele publicou pareciam muito similares aos meus gostos. Depois comecei uma investigação disfarçada e descobri que ele morava com mais três meninas e achei que podia ser mesmo um bom lugar para eu ficar. A primeira vez que escutei falar sobre o Couchsurfing fiquei um pouco desconfiada, mas depois que escutei experiências bem sucedidas de muitas pessoas resolvi experimentar. Assim escolhi Gabril também porque ele colocou coisas muito simples que não me faziam ter suspeitas. Na verdade ele parecia era um grande bicho grilo nas muitas fotos que tinha nas montanhas.

Bom, depois de 18 horas de ônibus de Salta para Mendoza cheguei à rodoviária com o Gabriel me esperando há uma hora. Para piorar a situação eu ainda dei um super trabalho! Quando sai de Salta, logo depois que o Italo tinha ido embora, minha mala de rodinhas resolveu quebrar e as rodinhas soltaram. Tive que andar três grandes quarteirões até chegar à rodoviária carregando a mala que já tinha se tornado uma grande “mala” mesmo!! Minha bagagem já tinha irritado muitíssimo a mim e ao Italo, embora tenha sido a primeira vez que eu fiz uma mala para trinta dias com apenas seis blusas e duas calças. Mas escolhi a de rodinhas que a das costas pela praticidade do uso, porém o Italo sobrou tendo que carregar ela para mim todos os dias, exceto no dia que ela se quebrou e eu estava só! E depois sobrou pro Gabriel que resolveu carregar para mim até chegar a casa dele e eu fui empurrando a sua bicicleta. A surpresa foi que a casa dele ficava a exatamente 20 quarteirões da rodoviária! Ele com o braço fraquinho quase morreu, coitado!

No caminho da rodoviária para a chamada “casita” comecei a entender melhor o que me esperava! Gabriel me contou que tinham duas meninas do México e um da Argentina que alugaram quartos na casa e que tinha mais um couchsurfing da Bélgica, mais ele e as quatro meninas que moram na casa. Eu sabia que ia ser bagunça na certa! Mas, essa era mais uma experiência para eu conhecer e respirei fundo e fui! Na verdade eu até gosto de bagunças, mas acho que existem diferentes tipos de formas e climas de se bagunçar e alguns eu não gosto! Gosto de diversão, mas morro de preguiça quando sinto que o clima é do tipo “juvenil”. Acho que sou mesmo uma velha de 24 anos! E a “casita” me trouxe os dois sentimentos, o de me divertir com algumas brincadeiras, principalmente do couch da Bélgica, que era uma pessoa ótima, mas também o de preguiça da casa de estudantes.... não sirvo para viver em um lugar desse nemm!

No dia que cheguei, Gabriel disse que queria me levar para conhecer o centro da cidade. Nas primeiras horas na casa ficamos todos sentados na mesa da cozinha e eu, um pouco sem lugar. De repente ele apagou dormindo e eu me encontrei sem saber o que fazer. Eu queria muito sair, mas ele disse que queria me levar. Fiquei sem jeito de ir para a rua e depois ele acordar e não me encontrar. Assim, resolvi ficar fazendo umas coisas que tinha que fazer no computador e a minha sexta-feira quase inteira foi sentada na mesa, desavontade, embora todos fossem muito agradáveis comigo. Gabriel pediu mil desculpas por ter dormido, mas não esquentei com isso não, apenas decidi que o sábado eu não ia perder! À tarde fizemos um mutirão para cozinhar tartas, que sã os tortas salgadas argentinas e nesse momento deu para descontrair um pouco e à noite fomos para o parque San Martin.

Entrar no parque San Martin já no fim de noite e avistar seu imenso portão antigo de ferro aberto e iluminado com luminárias lindas foi o que me fez respirar e pensar: que bom que estou aqui! Caminhar nas ruas de folhas secas e depois encontrar uma grande fonte com esculturas maravilhosas deu seqüência ao sentimento de encantamento! Isso foi mesmo incrível. Para mim já é muito diferente estar dentro de um parque pelas noites e estar naquele então era sensacional. Desfrutei muito mais de ficar em silêncio, enquanto a turma proseava. No fim da noite a galera da casa parou para assistir um filme em casa, mas eu já não agüentava mais e, anti-social, fui dormir.

Entrada Parque San Martin
No sábado já acordei me arrumando para sair. Logo Gabriel disse que ia me acompanhar e Arie, da Bélgica, também! No dia anterior eu já tinha pego umas ideias do que eu queria fazer e eles toparam e planejaram as coisas comigo. Começamos comprando almoço em um restaurante vegetariano gostoso e barato. Fizemos as marmitas e levamos para a Praça 9 de julho. Almoçamos sentados na grama, de onde eu podia avistar lindos postes de luz acompanhados por vasos de flor, instalados ao lado dos bancos de madeira e ferro. Um encanto o charme dos elementos decorativos da praça! Aliás, charmoso também foi o trajeto por onde caminhamos para chegar até lá. Passamos por muitos pintores que faziam suas obras com as telas colocadas sobre os passeios, alguns inclusive próximos a uma harmoniosa feirinha de livros. Muito bonitinho esse clima artístico da cidade! Depois da praça eu disse que queria voltar ao Parque San Martin. Na verdade eu queria mesmo era ir sozinha, sentar e ler um livro, mas não teve jeito e os meninos cheios da alegria de criança que guardam foram comigo fazendo palhaçadas a todo tempo. Estava divertida e agradável a companhia, mas eu queria muito estar só.

Parque San Martin

No caminho para o parque, entre as conversas, Gabriel me disse que na “casita” eles gostam muito de alojar os couchsurfings e que a idéia é agregar, juntar as pessoas. Isso era nítido, eles tratavam Arie como irmão, ele já estava na casa há duas semanas! Isso era bonito, amável e muito bem receptivo, mas eu confesso que adoraria muito mais escutar: “Kelly, a chave fica atrás da porta, fique à vontade para sair e entrar quando quiser!” Mas depois que escutei a idéia bonita por trás da hospedagem, me senti enjaulada. Acho que eu sou mesmo esquisita, rs.

Depois que nós três saímos do parque fomos para o Mercado Central e compramos vinhos e ingredientes para fazer pizza. Voltamos para casa e mais uma vez um mutirão para cozinhar e as pizzas ficaram deliciosas. Depois a maior parte da galera foi para uma festa de 15 anos, mas eu não pensei duas vezes antes de dizer que se não importavam eu preferia ficar em casa. Fiquei e dormi! Mais uma vez a velha de 24 anos.

No domingo fomos todos juntos para o Rio Mendoza fazer churrasco para os carnívoros e legumes para os vegetarianos. Do rio se podia avistar a Cordilheira dos Andes, estava muito lindo! Foi aí que descobri a companhia muito agradável de Lau, a argentina mais brasileira que conheci. Adorei conversar com ela e escutar suas idéias. Foi a única pessoa com que consegui desenvolver uma boa prosa. Com os demais, eu era apenas a “brasileira simpática”, como Gabriel me chamava. Mas não dava para conversar com Lau o tempo todo e a maior parte eu estava mais calada, na minha, apenas observando.

Vista Aconcagua desde o Rio Mendoza

Voltamos para casa e mais a noite veio a péssima idéia da gente sair para um lugar de música. Eu tinha achado que íamos para um lugar com músicas mais típicas e topei, já que até então não tinha curtido muito. Ai que arrependimento! Fomos com o irmão de umas das meninas que mora na casa. Ele parecia bacana, sensato e maduro. Mas era um garotão curtindo as maluquices da juventude. Dirigia fazendo brincadeiras bestas e se comportava como um adolescente dirigindo depois de uma festa. Eu estava odiando e pensei mil vezes em descer do carro. Mas eu não sabia ao certo onde estávamos e tinha mais medo de descer do que ficar no carro. O que me deixava mais tranqüila era que o trânsito estava muito calmo e eu sabia que Arie, que estava de co-piloto, estava muito atento a tudo. Chegamos ao tal lugar que íamos e estava fechado e a galera entusiasmada foi parar em uma boate. Achei ótimo porque eu já tinha mais que certeza que ia voltar de táxi e parando em um lugar que eu não gosto eu nem precisei inventar desculpas para chegar junto com eles e no mesmo momento pegar um táxi para voltar para a “casita” dormir. Eu já tinha era falado algumas vezes dentro do carro e quando descemos também que eu não estava gostando da brincadeira, mais uma vez a velha aparecia, mas eu não importava, minha segurança valia muito mais que as aparências. Assim eu não ia ter que inventar nada, mas chegar à uma boate facilitou a saída de escape.

Cada vez mais eu tenho gostado de aventuras, mas aventuras que me fazem sentir bem e que acrescentam coisas na minha vida, que me ensinam... essa aí, eu pulei fora e detestei! Valeu para eu aprender a ficar mais esperta com esse tipo de coisa! Voltei para casa, dormi e logo cedo da manhã saí em direção à rodoviária com muita vontade de sair desse ambiente.


sexta-feira, 5 de abril de 2013

Norte da Argentina, entre as montanhas e os povos originários...


Recebendo um companheiro de aventuras

No norte da Argentina encontrei com o meu novo companheiro de aventuras. Eu e Italo nos conhecemos há um ano atrás de uma forma muito diferente do comum e por pura coincidência de datas, brindamos nosso um ano de amizade no norte da Argentina!

Em outubro de 2011 eu participei de um seminário na minha área de trabalho e tinha uma apresentação que me interessou bastante. O palestrante parecia que tinha uma bagagem de trabalho relacionada aos temas que gosto muito e que eu já pensei por diversas vezes em aprofundar. Durante a palestra resolvi fazer uma pergunta que estava me intrigando. Eu nunca havia feito perguntas em seminários, sempre morri de vergonha, mas o assunto era polemico e eu não consegui deixar de interrogar a uma questão que acabou causando uma boa discussão. Quando terminou o seminário eu resolvi pesquisar o currículo do palestrante, Italo, para ver se eu pegava alguma inspiração na minha carreira. Quando abri o currículo me encantei com o trabalho dele e resolvi mandar uma mensagem via internet para o tal pesquisador e professor pedindo umas dicas. Em resposta ele me convidou para um café intelectual, que nunca aconteceu. Em pouco tempo ele se mudou para o Rio de Janeiro e em uma ida minha para lá fizemos contato para marcar o tal café e acabamos foi trocando a programação para uma noite de muito show bom em um estádio de futebol. Haha, conseqüência, os papos intelectuais ficaram para outro dia e entre as nossas conversas o Italo me contou um pouco sobre sua história: um livro recheado de MUITAS viagens fantásticas que me fascinaram. Eu falei na cabeça dele do primeiro ao último show e hoje ele me conta que eu não deixei ele prestar atenção em nenhuma música de tanto que eu conversava, kkkkk. Enfim, esta história com o Italo merece um parágrafo especial na minha viagem para Argentina porque nesta nossa primeira conversa, em março de 2012, sem saber ele contribuiu para despertar em mim um grande encanto pela vida mochileira!

Assim nos tornamos amigos de gostos muito comuns e de um espírito aventureiro que acabou o instigando a ir encontrar comigo na Argentina. Quando ele me escreveu sobre a idéia de ir para esta viagem acabou me pegando de surpresa. Eu planejei uma viagem um pouco egoísta, só para mim e de início não tinha convidado ninguém para me acompanhar, era um momento importante para mim para estar só. E assim acabei respondendo para ele que talvez eu precisasse de um tempo para me decidir sobre isso, que eu não tinha planos fixos nem datas certas. E ainda bem que eu mudei de idéia e resolvi planejar as datas para nos encontrarmos porque nos divertimos muito pelas estradas!  Foi muito bom ganhar essa companhia surpresa!!!


San Salvador de Jujuy

Mais uma vez me despedi de Córdoba e no dia 25 de março à noite parti para o norte da Argentina em 15 horas de viagem. A primeira parada foi na capital da província de Jujuy, San Salvador de Jujuy. Já tinham me avisado que lá não teria muita coisa interessante para fazer, mas era o ponto de partida para os lugares de maior interesse. E assim foi, a cidade é simples e encontrei como atrativo apenas uma praça agradável.
A recepção ao Italo é que não foi muito legal.... ele tinha previsão de chegar ou no ônibus perto das 16:30 ou de 18:30 mais ou menos. Combinamos de nos encontrar no hostel, mas eu resolvi fazer uma recepção surpresa na rodoviária. Cheguei 16:30 e esperei até 18:30.... ele chegou 16:20 e nos desencontramos!! Kkk esperei por duas horas em um frio de doer que me rendeu uma gripe feia e ele já estava no hostel, onde eu havia deixado um bilhete dizendo que se a gente se desencontrasse era para ele me esperar lá! Que trágico foi isso, hehe, encontrei com ele na rua a caminho de me buscar na rodoviária, quando eu já estava voltando.

Fomos dar uma voltinha em Jujuy e resolvemos parar em um bar que nomeamos de o pior bar de Jujuy. Ele tinha comentado de outros bares que pareciam muito chiques para a viagem e acabamos ambos preferindo parar no lugar mais copo sujo que achamos, com as músicas mais bregas, as comidas mais fundo de quintal e por isso tudo é que adoramos e nos sentimos super à vontade no “pior bar de Jujuy”! Foi super divertido!
Depois de muito por o papo em dia voltamos para o hostel, que por fim percebemos que também parecia o pior hostel de Jujuy. Isso não foi intencional não, eu havia feito a reserva pela internet e não sabia que o banheiro era tão feio. Mas era só essa a parte feia e o nosso tempo por lá foi muito curto, porque logo pela manhã do dia seguinte seguimos viagem para Pumamarca.


Pumamarca


Ah que lindo é o povoado de Pumamarca!! Quando estávamos na estrada cortamos umas vilazinhas e quando passamos por lá, sem saber que já tínhamos chegado, estávamos pensando em descer do ônibus de tão lindo que estava o lugar. Mas para nossa sorte era lá mesmo que tínhamos que chegar.

A maior atração de Pumamarca é a “Montaña de las siete colores”. Eu realmente nunca tinha visto uma montanha colorida com cores fortes e esta paisagem era muito bonita e única. Mas além do ponto mais turístico, toda a cidadezinha é muito gostosinha. É bem pequenininha, com muito artesanato pelas ruas e bons lugares para comer empanadas típicas e tomar cafés e chás. Na verdade, embora seja um lugar afastado e com muitos originários (índios), é exatamente por isso que se tornou um ambiente muito turístico, mas de uma forma agradável.

Dessa vez escolhemos um bom lugar para nos alojar, limpinho e nos fundos de um restaurante que nos agradou. Depois de escolher onde íamos ficar, almoçamos um mega sanduíche em uma lanchonete decorada com garrafas coloridas penduradas na varandinha que dava vista para uma montanha com um cacto gigante que ficava bem na ponta, parecendo um cruzeiro. Esta vista me encantou!

Logo fomos dar uma voltinha para conhecer o que havia na redondeza e depois decidimos pegar um transporte para as Salinhas Grandes, um lugar mais afastado que parece o Deserto de Sal da Bolívia. É como um grande mar de sal, uma paisagem branca, gelada e que parece não ter fim! Fomos com um casal de Buenos Aires e acabamos enturmando de uma forma bacana e terminamos o passeio em um café.

Para fechar o dia eu e Italo fomos para o restaurante em que estávamos hospedados e foi muito engraçado. A começar que o cantor selecionou algumas pessoas para dançar e lá estava o Italo aprendendo a dançar músicas típicas, haha. Eu fiquei sentadinha rindo. Depois o cantor seguiu tocando, fazendo piadas e ficando bêbado com o vinho que ele não parava de tomar. E ao invés do povo perder a paciência que ele não parava de conversar no lugar de cantar, todo mundo na verdade parava de conversar com sua turma para escutá-lo e terminavam todos nas risadas! Mas meu soninho como sempre chegou cedo e fui dormir antes do show acabar.

No dia seguinte fomos ver a montanha das sete cores pelo mirante e depois fizemos uma caminhada entre ela e suas vizinhas também coloridas. Lindo, lindo, lindo!

Pumamarca foi o povoado que mais gostei, mas... viajantes seguem estradas e nesse mesmo dia fomos para Tilcara, outro povoado.


Tilcara


Chegando em Tilcara vimos muita, muita poeira na cidade que não tinha asfalto e levantava pó facilmente. Resolvemos que o Italo ficaria vigiando as malas enquanto eu saia para buscar um albergue. Como estávamos viajando no feriado de Semana Santa, os preços de tudo estavam o dobro e na minha andança achei um lugar que estava o mais barato e cheio de bicho grilo que pareciam ser gente boa. Cheguei toda empolgada para contar que achei o nosso albergue e fomos para lá com nossa bagagem. Nóooooo... que furada! Quando eu fui conhecer o dono estava lavando o chão e eu nem pensava na idéia de que o banheiro era uma parte que ele pulava e não lavava. Socorro!! Nunca vimos um banheiro tão sujo de tudo possível na nossa vida. Mas percebemos isso com mais atenção quando já era tarde demais e por lá ficamos. Foi horroroso e engraçado. Chegar à minha cama pro exemplo e perder meu espaço para um cachorro que escolheu o meu cobertor para dormir foi sem noção. E os nossos vizinhos de camas também eram dos tipos muito raros, como um peruano do tipo índio que conversava dormindo, um tatuador que tatuou todo mundo do albergue (exceto nós dois é claro) e um cara viajado que levantava à noite toda. Foi engraçado porque estávamos os dois, se eu estivesse sozinha esse era mais um lugar que eu teria fugido! Mas estando os dois tivemos histórias para rir depois e um lugar para nunca recomendar aos nossos amigos.

No dia que chegamos acabamos perdendo tempo com uma lan house que não funcionava direito e que precisávamos dela, depois almoçamos um prato delicioso de quinoa e quando chegamos ao vale de construções de pedra que era o maior ponto turístico ele estava fechando e perdemos o passeio. Na noite descobrimos uma procissão com instrumentos musicais indígenas encantadores, papemos por um bom tempo na praça com Fernet e fomos para um restaurante comer comidas típicas.

No dia seguinte levantamos cedo e fomos para um vale que se chama “Garganta del Diablo” que é uma cachoeira em meio aos precipícios. E esse passeio virou mais uma história para contar... Antes de ir perguntamos no ponto turístico qual era o melhor caminho e também perguntamos para um guardinha na rua. Ambos e as indicações do mapa mostravam que havia dois caminhos, um de 8 km por onde passavam os carros e outro de 4 km que só dava para ir a pé. Escolhemos o menor, é claro. Caminhamos pelas montanhas de cactos que lembravam os filmes de bang bang. Tudo fantástico! Mas eu estava gripada e juntando aos problemas de altitude que roubam todo o nosso ar, fui uma péssima companhia. Reclamei o caminho inteiro de ida que eu não tinha mais força e que estava difícil, mas queríamos muito chegar lá e seguimos até onde deu. Mas na verdade não chegamos ao ponto final que era a cachoeira, simplesmente porque o caminho indicado não levava até lá! O caminho do carro ia por baixo e seguia até a cachoeira, o caminho a pé ia por cima e era em direção a um vilarejo muito distante. Por fim ficamos com raiva que ninguém nos avisou que nesse percurso só se via a paisagem por cima, mas acabamos gostando disso porque tivemos a vista do alto que era deslumbrante! Só ficamos mesmo espantados com o trabalho das pessoas que deveriam saber informar as coisas direitinho. Mas foi ótimo e guardamos fotos maravilhosas! Na volta eu estava muito melhor, era só descida e eu sofri menos com a falta de ar, acabou que no fim eu fiquei foi triste de já ter acabado. Assim pudemos nos divertir mais e rimos até falar chega. Sentir o vento no corpo de braços abertos na beira da montanha com uma paisagem rara abaixo dos meus olhos e as nossas gargalhadas com brincadeiras de criança que inventamos foram momentos que ficarão bem guardados.

No fim da estrada paramos para tomar uma deliciosa vitamina em uma casinha no meio do nada. O lugar era inspirador e dava muita vontade de fazer um igual como lazer e trabalho. As vitaminas e sucos naturais eram servidos em um quiosquezinho de madeira, na frente de uma casa que tinha um riozinho e um quintal de muitas árvores e mato. Depois almoçamos iogurte com granola e cansados e imundos seguimos viagem para Humauaca.


Humauaca


Por mais que gostamos muito de natureza, quando chegamos a Humauaca estávamos imensamente feliz por a cidade não ser de poeira! As ruas eram calçadas e a cidade com uma infra-estrutura muito melhor. Depois de um hostel horrível em Tilcara e com o corpo de pura poeira e suor, tudo que queríamos era um lugar limpinho, cheiroso. E encontramos! Meio sem graça batemos em uma porta que tinha escrito hostel e tinha cara de casa de família. Fomos recebidos por uma senhorinha de mais de sessenta anos que nos levou para conhecer os quartos. A casa é uma típica casa de senhorinha de igreja, limpíssima, bem cuidada e a hospedagem era barata. Estava perfeito e fechamos por lá. E eu achei super moderninho.... no nosso quarto a nossa vizinha de cama era uma amiga da proprietária e quando eu perguntei a senhorinha dona do hostel se não havia problema o Italo dormir lá também ela respondeu que isso era normal! Haha. Claro que pra mim é normal os quartos compartidos como em todos os outros hostels, mas ouvir isso daquela doninha foi muito bonitinho e moderninho.

Depois de virarmos gente de novo tirando toda a poeira do corpo saímos para dar umas voltinhas e encontramos mais uma procissão de páscoa. Estava muito legal, a procissão se dividia de um lado com os fiéis e o padre e em outras ruas os músicos que eram um bando de jovens originários que faziam uma música mega animada. Na verdade parecia mesmo uma algazarra com tambores e flautas, mas não era não, eles tinham bandeirinha religiosa e tudo mais!  Depois jantamos uma sopa de lentilhas e fim de noite.

No dia seguinte eu acordei às seis da manhã com nariz doendo de gripe e fui preparar um chá. Depois dormi mais um pouco e saímos para as ruas. Eu estava meio molenga e deixei o Italo dar umas voltinhas mais distante sozinho enquanto eu ficava parada vendo a movimentação da cidade. O momento auge para o povoado foi ao meio dia, quando o sino da igreja tocou e saiu um boneco da torre, uma imagem em tamanho real que fazia movimentos em forma de benção. A praça estava lotada para assistir e o povo todo entusiasmado. Engraçado até a empolgação com o boneco.
Depois do almoço pegamos o ônibus para Iruya.


Iruya


Iruya fica a três horas de Humauaca. Pegamos um ônibus muito antigo, que as bagagens vão amarradas em cima, igual a filme! A estrada para Iruya é inacreditável! Não sabíamos quase nada sobre os lugares para onde estávamos indo, somente sabíamos que eram lugares bonitos. Assim, foi uma surpresa observar que o caminho para o povoado era literalmente dentro das montanhas. Cada vez que o ônibus seguia, entrávamos mais para dentro das montanhas e assim, entre as serras, sem asfalto, sem construções nem nada, seguimos por praticamente todo o tempo da viagem. A estrada subiu até um ponto bem alto, quando atravessou a metade do percurso e onde tinha uma vista maravilhosa e depois baixou até o pé das montanhas e por onde passavam os rios. Incrível visualizar a cidade nada no meio do nada. Na verdade a cidade mesmo é bem feinha porque tem construções muito novas e muito pobres. Não tem nada de antigo, típico. Mas a cidade está em meio a uma paisagem maravilhosa e indescritível com montanhas para todos os lados. Sensacional e indescritível mesmo.

Chegamos ao fim do dia e achamos um alojamento nos fundos de uma casa. Bem simples, como todos os outros da região, mas bem limpinho. O engraçado foi quando pedimos a chave do quarto para a proprietária e ela disse que lá eles não trancam portas e que ela não tinha chave. Assim, quando saíamos, nossas coisas ficavam totalmente a deus dará. Mas esse parecia mesmo o ritmo do vilarejo, “um lugar sem chaves”.

No dia seguinte saímos por volta das seis da manhã porque queríamos ver a cidade com a luz da noite/ dia. E foi mesmo maravilhoso! Fomos para um ponto distante onde podíamos ver as luzinhas no meio das serras que estavam negras pela escuridão e com um céu roxo que tinha o sol começando a apontar. Fantástico, lindo, maravilhoso! Adorei essa idéia do Italo, que estava inspirado a tirar fotos, que por sinal ficaram muito bonitas.

Depois voltamos e fizemos hora nas ruas até às nove da manhã. Aí o Italo saiu para uma super caminhada em direção ao povoado de San Isidro. Eram 3 horas para ir e mais 3 para voltar e eu sabia que meu estado fraco de gripe ia mais atrapalhá-lo que acompanhá-lo e assim decidi que iria ficar “em casa”. Ele foi e eu lavei umas roupas que estava precisando e fui deitar. Deitar??? Naquele dia de sol gostoso e naquele lugar perfeito? Nemmmmm!!! Mudei de idéia e resolvi que queria sentir o dia. Não sabia até onde ia, mas almocei e segui pelo mesmo tal caminho longo que ia ao povoado. Sozinha, cruzei por um garoto caminhando pelo meio do nada e me certifiquei se o caminho estava certo. Ele me disse que se eu fosse para a esquerda ia para o povoado e que era muito longe e difícil, mas que para a direita eu ia para uma cachoeira mais perto e fácil de chegar. Comecei mesmo pela esquerda, mas quando eu vi que ia ter que começar a subir desisti imediatamente! Eu sabia que não tinha a menor condição para subir e ficar sem ar com a altitude, gripada! Resolvi então ir para a direita, acompanhando o riozinho. Até um certo ponto dava para cruzar as águas facilmente, mas depois eu comecei a lembrar da minha mãe me dizendo mil vezes para tomar cuidado com as cachoeiras e rios, que para ir os rios ficam baixos, mas que nunca se sabe se para voltar também vão estar. Hehe, era mesma coisa de ter minha mãe ali do meu lado. Estava óbvio que era fácil de chegar, até porque eu tinha visto umas pessoas voltando de lá, mas mãe falou a gente obedece né?! Resolvi não seguir adiante, fiquei com medinhooo, hehe! Então resolvi ficar sentada entre duas passagens baixinhas do rio. Comecei colocando a mãozinha, depois, sentada na terra, enfiei os pesinhos na água gelada que pareciam me abençoar em meio àquela paisagem deslumbrante de verde de mato e vermelho de montanha de terra forte. Por fim acabei deitando nas pedrinhas e terra e fiquei me sentindo como se estivesse tomando sol na praia. O detalhe que eu estava de roupa, preta, em um sol de rachar era só um detalhe, a minha inspiração me fez sentir super confortável ali e por lá descansei e pensei por quase uma hora. Depois voltei com pé na estradinha para a “casa”.

À noite fomos para uma festa que estava tendo do outro lado da ponte que cruza o povoado. A festa acontecia no dia da páscoa, mas não tinha nada relacionado aos festejos que conheço para essa data. Mais cedo teve a missa na igreja e coisa e tal. Mas à noite o povo saiu para o profano. Mas o profano deles estava relacionado com as culturas tradicionais. Eu e Italo chegamos mais pro fim da festa, estavam servindo leite quente e bolo e tinha música. A sonoridade era feita pelos originários vestidos com roupas tradicionais. A imagem que eu via ficou gravada como filme na minha cabeça. Era um índio no meio da roda tocando flauta com uma mão e uma espécie de um tambor com a outra e o povo dançando em círculo em volta. A música era tipo xamã e a passagem parecia um ritual muito forte. Misturado com o profano, havia uma galera dançando meio bêbedos, dançavam e tomavam vinho. As mulheres de saião e cabelão e os homens com ponchos vermelhos do tipo indígena. Lindo! O som produzido era repetitivo e entrava na nossa cabeça com uma suavidade incrível! No dia seguinte escutamos uma mulher que era música explicar que os sons dos instrumentos são realizados de acordo com a época do ano e com as necessidades, como por exemplo, pedindo fertilidade para a terra e coisas do tipo, relacionadas à produção vinculada à natureza. Pensamos que algo do tipo acontecia ali na festa, misturado com as bebedeiras festivas. Depois tiveram umas danças folclóricas da Argentina e fomos embora.


Esta foi a única cidade até então que ficamos por duas noites e na segunda de manhã íamos embora. Acordamos e caminhamos até o mirante. De lá avistamos uma construção interessante que lembrava uma mesquita. Ficamos curiosos e caminhamos em sua direção para ver o que era. Chegamos a um cemitério e a construção fazia parte do seu cenário genial. Foi o cemitério mais alegre que já vi até hoje, lotado de flores coloridas de cores muito vivas.

De lá paramos em um hotel chiquetérrimo porque o Italo estava com vontade de tomar um bom café. Entramos lá, os dois de mochilas, eu com a calça jeans dobrada até o meio da canela e por aí vai! Sentamos para pedir o café e.... nossa que delícia!!! Tinha um resto de café da manhã na mesa que um hospede deixou. Hum, o pãozinho estava tão lindo, inteiro, sem nenhuma mordida, e ainda havia doce de leite, manteiga e geléia para passar! Kkkk Eu jamais faria isso no meu dia-dia normal, mas nos meus dias anormais das minhas férias...kkkk... tinha que pegar um pedacinho daquele pão. Entre milhares de gargalhadas que arrumamos com isso, eu pegava o pão delicadamente para dar uma mordida e quando alguém chegava perto despistávamos. Consegui pegar um pedacinho para mim, um pedacinho dei para o Italo e no fim da mordida...... a câmera em cima da minha cabeça me olhando e eu não tinha visto. Kkk Olhamos para o garçom e ele estavaa.... rindooo!!! Que vergonha, ficamos roxos e azuis, tomamos o café, o Italo com toda a postura de italiano e eu querendo me esconder, saímos e eu nem olhei pro lado. Foi um super mico, mas nos divertimos tanto tanto igual criança quando faz coisa errada. As nossas risadas fizeram a mordida no pão valer à pena. E além de tudo... hum, um pão era feito com nozes e com o doce de leite estava maravilhoso!!

Depois descobrimos um cinema muito legal, que ia passar um filme sobre a cultura do povo local! Mas já era tarde demais, pois nesse dia fomos embora. Fizemos hora na praça, almoçamos, buscamos nossas malas e seguimos pé na estrada!


Jujuy

Não queríamos muito ir para Jujuy de novo, mas tivemos que ir porque era o ponto de partida para o nosso destino que era Salta. Assim, fomos para Jujuy mais uma vez, mas obviamente mudamos de hostel. Dessa vez um lugar super descolado, com uma fachada linda que mais parecia um hotel de verdade. Do lado de dentro tinha um barzinho bem arrumadinho e uma galera que parecia ser agradável. Ficamos por lá! Dezoito pessoas no nosso quarto e um banheiro para o albergue inteiro, kkk. Mas não fez mal, estava limpo e o lugar era mesmo muito bacana! E nossa passagem foi muito rápida, no dia seguinte cedo seguimos para outro bus.


Salta


Chegar a Salta já foi lindo. Tivemos que perambular bastante para encontrar o hostel que estávamos procurando, mas nos sentíamos bem caminhando pelas ruas agradáveis com entradas floridas para as casas. Hum, Salta foi agradável e tranqüilo do início ao fim! O nosso hostel, 7 duendes, tinha roupas de cama cheirosas, poucos companheiros de quarto, água quentinha e um responsável muito atencioso e simpático.

Salta também, entre outras coisas, se resumiu a muita comilança!! O Italo é o melhor companheiro para gastronomia, seja ela refinada ou de boteco copo sujo, ou seja, ele também é uma ótima companhia para fazer engordar. Eu já estou uma bola, isso me preocupa, mas nesses dias com ele quis foi curtir! Assim, almoçamos em um restaurante de gente fina, mas gostoso porque tinha as mesinhas bem na praça principal. Comemos um monte de delícias e depois não conseguíamos fazer quase nada! Fomos caminhando devagarzinho até uma feira de artesanato onde fizemos umas compras bonitas e baratas e compramos uns vinhos que tomamos no parque, pertinho do lago com patos! Super agradável. À noite fomos para a rua que diziam ser a mais movimentada de bares na cidade e quando chegamos deu até dó de tão vazia que tava! Tinham muitos bares com músicas tradicionais, preparados para receber turistas e sentamos foi e um bar que tocava um bom rock! Comemos uma pizza que no mínimo foi comprada no Carrefour, mas estava muito gostosa e aí fechamos nosso dia, pela primeira vez, às duas da manhã!

E no outro dia... chuvinha gostosa para dormir!! Esse era o dia que pedia cobertor e brigadeiro, mas como não dava para fazer isso, fomos para as ruas, tudo bem tranqüilo e devagar. Depois eu dormi um longo cochilo e à noite fomos a uma boa pizzaria e cineminha!! Vimos um filme muito muito divertido, kkkk, as risadas foram garantidas!!! O filme era infantil e se chama Los Croods!! Conta a história de uma família primata que vivia nas cavernas e que tinha uma menina muito curiosa que insistia em ver o que havia para fora do buraco de pedras. Ela tinha muita vontade de ultrapassar suas fronteiras e foi em busca do sol, se arriscou e foi atrás do amanhecer!! De repente escutei que ela se parecia comigo, rs. O filme é divertido e interessante porque tem mesmo uma história bonita e boa para se pensar. Além de rir muito confesso que chorei até em um filme infantil. Nem dava para acreditar nisso, mas foi fato. A menina tinha uma história difícil com o pai dela e no fim eles se abraçaram e disseram que se amam muito e eu.... chorei! Senti saudades do meu pai...

No fim, eu e Italo tentamos voltar para a rua teoricamente movimentada, mas que estava morta de novo, e dessa vez fomos dormir.

Acordamos na quinta nos preparando para a partida. Almoçamos juntos, nos despedimos, o Italo voltou para o Brasil e eu segui para Mendoza....