No alto da montanha...

No alto da montanha...
Capilla del Monte - Cerro Uritorco - Argentina

sábado, 13 de abril de 2013

Passando por Mendoza


Minha passagem por Mendoza não foi muito das melhores. Não sei se isso influenciou, mas já fui para lá sem muito entusiasmo, já que não tinha escutado nada sobre a cidade que para mim tivesse muito interesse. Mas fui porque estava no meu caminho e então eu não quis pular.

Mendoza é conhecida como a cidade do vinho. Eu já me divirto muito com um vinho Chapinha, dos mais baratos do Brasil, então não faço questão de conhecer os sabores refinados. Além do mais, em Salta eu tomei o vinho mais doce e mais gostoso que já provei e dei-me por satisfeita. Para completar a rota das bodegas é feita, na maioria das vezes, pedalando bicicleta ou contratando uma empresa. Como eu ainda não tive a alegria de aprender a andar de bicicleta e não queria gastar dinheiro com as empresas, saí da cidade do vinho comprando uma garrafa apenas das lojinhas do Mercado Central, sem conhecer as bodegas famosas. E acho é que eu gosto muito mais mesmo é do Mercado Central! 

Em Mendoza tive a minha primeira experiência do Couchsurfing, rede da internet onde os viajantes que estão acostumados a ter que buscar um sofá para dormir disponibilizam os sofás das suas casas para outros viajantes. Eu escolhi a casa de Gabriel quando ainda estava em Córdoba, depois de analisar muitíssimos perfis. Escolhi pedir abrigo para ele porque as descrições e as fotos que ele publicou pareciam muito similares aos meus gostos. Depois comecei uma investigação disfarçada e descobri que ele morava com mais três meninas e achei que podia ser mesmo um bom lugar para eu ficar. A primeira vez que escutei falar sobre o Couchsurfing fiquei um pouco desconfiada, mas depois que escutei experiências bem sucedidas de muitas pessoas resolvi experimentar. Assim escolhi Gabril também porque ele colocou coisas muito simples que não me faziam ter suspeitas. Na verdade ele parecia era um grande bicho grilo nas muitas fotos que tinha nas montanhas.

Bom, depois de 18 horas de ônibus de Salta para Mendoza cheguei à rodoviária com o Gabriel me esperando há uma hora. Para piorar a situação eu ainda dei um super trabalho! Quando sai de Salta, logo depois que o Italo tinha ido embora, minha mala de rodinhas resolveu quebrar e as rodinhas soltaram. Tive que andar três grandes quarteirões até chegar à rodoviária carregando a mala que já tinha se tornado uma grande “mala” mesmo!! Minha bagagem já tinha irritado muitíssimo a mim e ao Italo, embora tenha sido a primeira vez que eu fiz uma mala para trinta dias com apenas seis blusas e duas calças. Mas escolhi a de rodinhas que a das costas pela praticidade do uso, porém o Italo sobrou tendo que carregar ela para mim todos os dias, exceto no dia que ela se quebrou e eu estava só! E depois sobrou pro Gabriel que resolveu carregar para mim até chegar a casa dele e eu fui empurrando a sua bicicleta. A surpresa foi que a casa dele ficava a exatamente 20 quarteirões da rodoviária! Ele com o braço fraquinho quase morreu, coitado!

No caminho da rodoviária para a chamada “casita” comecei a entender melhor o que me esperava! Gabriel me contou que tinham duas meninas do México e um da Argentina que alugaram quartos na casa e que tinha mais um couchsurfing da Bélgica, mais ele e as quatro meninas que moram na casa. Eu sabia que ia ser bagunça na certa! Mas, essa era mais uma experiência para eu conhecer e respirei fundo e fui! Na verdade eu até gosto de bagunças, mas acho que existem diferentes tipos de formas e climas de se bagunçar e alguns eu não gosto! Gosto de diversão, mas morro de preguiça quando sinto que o clima é do tipo “juvenil”. Acho que sou mesmo uma velha de 24 anos! E a “casita” me trouxe os dois sentimentos, o de me divertir com algumas brincadeiras, principalmente do couch da Bélgica, que era uma pessoa ótima, mas também o de preguiça da casa de estudantes.... não sirvo para viver em um lugar desse nemm!

No dia que cheguei, Gabriel disse que queria me levar para conhecer o centro da cidade. Nas primeiras horas na casa ficamos todos sentados na mesa da cozinha e eu, um pouco sem lugar. De repente ele apagou dormindo e eu me encontrei sem saber o que fazer. Eu queria muito sair, mas ele disse que queria me levar. Fiquei sem jeito de ir para a rua e depois ele acordar e não me encontrar. Assim, resolvi ficar fazendo umas coisas que tinha que fazer no computador e a minha sexta-feira quase inteira foi sentada na mesa, desavontade, embora todos fossem muito agradáveis comigo. Gabriel pediu mil desculpas por ter dormido, mas não esquentei com isso não, apenas decidi que o sábado eu não ia perder! À tarde fizemos um mutirão para cozinhar tartas, que sã os tortas salgadas argentinas e nesse momento deu para descontrair um pouco e à noite fomos para o parque San Martin.

Entrar no parque San Martin já no fim de noite e avistar seu imenso portão antigo de ferro aberto e iluminado com luminárias lindas foi o que me fez respirar e pensar: que bom que estou aqui! Caminhar nas ruas de folhas secas e depois encontrar uma grande fonte com esculturas maravilhosas deu seqüência ao sentimento de encantamento! Isso foi mesmo incrível. Para mim já é muito diferente estar dentro de um parque pelas noites e estar naquele então era sensacional. Desfrutei muito mais de ficar em silêncio, enquanto a turma proseava. No fim da noite a galera da casa parou para assistir um filme em casa, mas eu já não agüentava mais e, anti-social, fui dormir.

Entrada Parque San Martin
No sábado já acordei me arrumando para sair. Logo Gabriel disse que ia me acompanhar e Arie, da Bélgica, também! No dia anterior eu já tinha pego umas ideias do que eu queria fazer e eles toparam e planejaram as coisas comigo. Começamos comprando almoço em um restaurante vegetariano gostoso e barato. Fizemos as marmitas e levamos para a Praça 9 de julho. Almoçamos sentados na grama, de onde eu podia avistar lindos postes de luz acompanhados por vasos de flor, instalados ao lado dos bancos de madeira e ferro. Um encanto o charme dos elementos decorativos da praça! Aliás, charmoso também foi o trajeto por onde caminhamos para chegar até lá. Passamos por muitos pintores que faziam suas obras com as telas colocadas sobre os passeios, alguns inclusive próximos a uma harmoniosa feirinha de livros. Muito bonitinho esse clima artístico da cidade! Depois da praça eu disse que queria voltar ao Parque San Martin. Na verdade eu queria mesmo era ir sozinha, sentar e ler um livro, mas não teve jeito e os meninos cheios da alegria de criança que guardam foram comigo fazendo palhaçadas a todo tempo. Estava divertida e agradável a companhia, mas eu queria muito estar só.

Parque San Martin

No caminho para o parque, entre as conversas, Gabriel me disse que na “casita” eles gostam muito de alojar os couchsurfings e que a idéia é agregar, juntar as pessoas. Isso era nítido, eles tratavam Arie como irmão, ele já estava na casa há duas semanas! Isso era bonito, amável e muito bem receptivo, mas eu confesso que adoraria muito mais escutar: “Kelly, a chave fica atrás da porta, fique à vontade para sair e entrar quando quiser!” Mas depois que escutei a idéia bonita por trás da hospedagem, me senti enjaulada. Acho que eu sou mesmo esquisita, rs.

Depois que nós três saímos do parque fomos para o Mercado Central e compramos vinhos e ingredientes para fazer pizza. Voltamos para casa e mais uma vez um mutirão para cozinhar e as pizzas ficaram deliciosas. Depois a maior parte da galera foi para uma festa de 15 anos, mas eu não pensei duas vezes antes de dizer que se não importavam eu preferia ficar em casa. Fiquei e dormi! Mais uma vez a velha de 24 anos.

No domingo fomos todos juntos para o Rio Mendoza fazer churrasco para os carnívoros e legumes para os vegetarianos. Do rio se podia avistar a Cordilheira dos Andes, estava muito lindo! Foi aí que descobri a companhia muito agradável de Lau, a argentina mais brasileira que conheci. Adorei conversar com ela e escutar suas idéias. Foi a única pessoa com que consegui desenvolver uma boa prosa. Com os demais, eu era apenas a “brasileira simpática”, como Gabriel me chamava. Mas não dava para conversar com Lau o tempo todo e a maior parte eu estava mais calada, na minha, apenas observando.

Vista Aconcagua desde o Rio Mendoza

Voltamos para casa e mais a noite veio a péssima idéia da gente sair para um lugar de música. Eu tinha achado que íamos para um lugar com músicas mais típicas e topei, já que até então não tinha curtido muito. Ai que arrependimento! Fomos com o irmão de umas das meninas que mora na casa. Ele parecia bacana, sensato e maduro. Mas era um garotão curtindo as maluquices da juventude. Dirigia fazendo brincadeiras bestas e se comportava como um adolescente dirigindo depois de uma festa. Eu estava odiando e pensei mil vezes em descer do carro. Mas eu não sabia ao certo onde estávamos e tinha mais medo de descer do que ficar no carro. O que me deixava mais tranqüila era que o trânsito estava muito calmo e eu sabia que Arie, que estava de co-piloto, estava muito atento a tudo. Chegamos ao tal lugar que íamos e estava fechado e a galera entusiasmada foi parar em uma boate. Achei ótimo porque eu já tinha mais que certeza que ia voltar de táxi e parando em um lugar que eu não gosto eu nem precisei inventar desculpas para chegar junto com eles e no mesmo momento pegar um táxi para voltar para a “casita” dormir. Eu já tinha era falado algumas vezes dentro do carro e quando descemos também que eu não estava gostando da brincadeira, mais uma vez a velha aparecia, mas eu não importava, minha segurança valia muito mais que as aparências. Assim eu não ia ter que inventar nada, mas chegar à uma boate facilitou a saída de escape.

Cada vez mais eu tenho gostado de aventuras, mas aventuras que me fazem sentir bem e que acrescentam coisas na minha vida, que me ensinam... essa aí, eu pulei fora e detestei! Valeu para eu aprender a ficar mais esperta com esse tipo de coisa! Voltei para casa, dormi e logo cedo da manhã saí em direção à rodoviária com muita vontade de sair desse ambiente.


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