Minha passagem por Mendoza não
foi muito das melhores. Não sei se isso influenciou, mas já fui para lá sem
muito entusiasmo, já que não tinha escutado nada sobre a cidade que para mim
tivesse muito interesse. Mas fui porque estava no meu caminho e então eu não
quis pular.
Mendoza é conhecida como a cidade
do vinho. Eu já me divirto muito com um vinho Chapinha, dos mais baratos do
Brasil, então não faço questão de conhecer os sabores refinados. Além do mais,
em Salta eu tomei o vinho mais doce e mais gostoso que já provei e dei-me por
satisfeita. Para completar a rota das bodegas é feita, na maioria das vezes,
pedalando bicicleta ou contratando uma empresa. Como eu ainda não tive a
alegria de aprender a andar de bicicleta e não queria gastar dinheiro com as
empresas, saí da cidade do vinho comprando uma garrafa apenas das lojinhas do
Mercado Central, sem conhecer as bodegas famosas. E acho é que eu gosto muito
mais mesmo é do Mercado Central!
Em Mendoza tive a minha primeira
experiência do Couchsurfing, rede da internet onde os viajantes que estão
acostumados a ter que buscar um sofá para dormir disponibilizam os sofás das
suas casas para outros viajantes. Eu escolhi a casa de Gabriel quando ainda
estava em Córdoba, depois de analisar muitíssimos perfis. Escolhi pedir abrigo
para ele porque as descrições e as fotos que ele publicou pareciam muito
similares aos meus gostos. Depois comecei uma investigação disfarçada e
descobri que ele morava com mais três meninas e achei que podia ser mesmo um
bom lugar para eu ficar. A primeira vez que escutei falar sobre o Couchsurfing
fiquei um pouco desconfiada, mas depois que escutei experiências bem sucedidas
de muitas pessoas resolvi experimentar. Assim escolhi Gabril também porque ele
colocou coisas muito simples que não me faziam ter suspeitas. Na verdade ele
parecia era um grande bicho grilo nas muitas fotos que tinha nas montanhas.
Bom, depois de 18 horas de ônibus
de Salta para Mendoza cheguei à rodoviária com o Gabriel me esperando há uma
hora. Para piorar a situação eu ainda dei um super trabalho! Quando sai de
Salta, logo depois que o Italo tinha ido embora, minha mala de rodinhas
resolveu quebrar e as rodinhas soltaram. Tive que andar três grandes
quarteirões até chegar à rodoviária carregando a mala que já tinha se tornado
uma grande “mala” mesmo!! Minha bagagem já tinha irritado muitíssimo a mim e ao
Italo, embora tenha sido a primeira vez que eu fiz uma mala para trinta dias
com apenas seis blusas e duas calças. Mas escolhi a de rodinhas que a das
costas pela praticidade do uso, porém o Italo sobrou tendo que carregar ela
para mim todos os dias, exceto no dia que ela se quebrou e eu estava só! E
depois sobrou pro Gabriel que resolveu carregar para mim até chegar a casa dele
e eu fui empurrando a sua bicicleta. A surpresa foi que a casa dele ficava a
exatamente 20 quarteirões da rodoviária! Ele com o braço fraquinho quase
morreu, coitado!
No caminho da rodoviária para a
chamada “casita” comecei a entender melhor o que me esperava! Gabriel me contou
que tinham duas meninas do México e um da Argentina que alugaram quartos na
casa e que tinha mais um couchsurfing da Bélgica, mais ele e as quatro meninas
que moram na casa. Eu sabia que ia ser bagunça na certa! Mas, essa era mais uma
experiência para eu conhecer e respirei fundo e fui! Na verdade eu até gosto de
bagunças, mas acho que existem diferentes tipos de formas e climas de se
bagunçar e alguns eu não gosto! Gosto de diversão, mas morro de preguiça quando
sinto que o clima é do tipo “juvenil”. Acho que sou mesmo uma velha de 24 anos!
E a “casita” me trouxe os dois sentimentos, o de me divertir com algumas
brincadeiras, principalmente do couch da Bélgica, que era uma pessoa ótima, mas
também o de preguiça da casa de estudantes.... não sirvo para viver em um lugar
desse nemm!
No dia que cheguei, Gabriel disse
que queria me levar para conhecer o centro da cidade. Nas primeiras horas na
casa ficamos todos sentados na mesa da cozinha e eu, um pouco sem lugar. De
repente ele apagou dormindo e eu me encontrei sem saber o que fazer. Eu queria
muito sair, mas ele disse que queria me levar. Fiquei sem jeito de ir para a
rua e depois ele acordar e não me encontrar. Assim, resolvi ficar fazendo umas
coisas que tinha que fazer no computador e a minha sexta-feira quase inteira
foi sentada na mesa, desavontade, embora todos fossem muito agradáveis comigo. Gabriel
pediu mil desculpas por ter dormido, mas não esquentei com isso não, apenas
decidi que o sábado eu não ia perder! À tarde fizemos um mutirão para cozinhar
tartas, que sã os tortas salgadas argentinas e nesse momento deu para
descontrair um pouco e à noite fomos para o parque San Martin.
Entrar no parque San Martin já no
fim de noite e avistar seu imenso portão antigo de ferro aberto e iluminado com
luminárias lindas foi o que me fez respirar e pensar: que bom que estou aqui!
Caminhar nas ruas de folhas secas e depois encontrar uma grande fonte com
esculturas maravilhosas deu seqüência ao sentimento de encantamento! Isso foi
mesmo incrível. Para mim já é muito diferente estar dentro de um parque pelas
noites e estar naquele então era sensacional. Desfrutei muito mais de ficar em
silêncio, enquanto a turma proseava. No fim da noite a galera da casa parou
para assistir um filme em casa, mas eu já não agüentava mais e, anti-social,
fui dormir.
No sábado já acordei me arrumando
para sair. Logo Gabriel disse que ia me acompanhar e Arie, da Bélgica, também!
No dia anterior eu já tinha pego umas ideias do que eu queria fazer e eles
toparam e planejaram as coisas comigo. Começamos comprando almoço em um
restaurante vegetariano gostoso e barato. Fizemos as marmitas e levamos para a
Praça 9 de julho. Almoçamos sentados na grama, de onde eu podia avistar lindos
postes de luz acompanhados por vasos de flor, instalados ao lado dos bancos de
madeira e ferro. Um encanto o charme dos elementos decorativos da praça! Aliás,
charmoso também foi o trajeto por onde caminhamos para chegar até lá. Passamos
por muitos pintores que faziam suas obras com as telas colocadas sobre os passeios,
alguns inclusive próximos a uma harmoniosa feirinha de livros. Muito bonitinho
esse clima artístico da cidade! Depois da praça eu disse que queria voltar ao
Parque San Martin. Na verdade eu queria mesmo era ir sozinha, sentar e ler um
livro, mas não teve jeito e os meninos cheios da alegria de criança que guardam
foram comigo fazendo palhaçadas a todo tempo. Estava divertida e agradável a
companhia, mas eu queria muito estar só.
Parque San Martin |
No caminho para o parque, entre
as conversas, Gabriel me disse que na “casita” eles gostam muito de alojar os
couchsurfings e que a idéia é agregar, juntar as pessoas. Isso era nítido, eles
tratavam Arie como irmão, ele já estava na casa há duas semanas! Isso era
bonito, amável e muito bem receptivo, mas eu confesso que adoraria muito mais
escutar: “Kelly, a chave fica atrás da porta, fique à vontade para sair e
entrar quando quiser!” Mas depois que escutei a idéia bonita por trás da
hospedagem, me senti enjaulada. Acho que eu sou mesmo esquisita, rs.
Depois que nós três saímos do
parque fomos para o Mercado Central e compramos vinhos e ingredientes para
fazer pizza. Voltamos para casa e mais uma vez um mutirão para cozinhar e as
pizzas ficaram deliciosas. Depois a maior parte da galera foi para uma festa de
15 anos, mas eu não pensei duas vezes antes de dizer que se não importavam eu
preferia ficar em casa. Fiquei e dormi! Mais uma vez a velha de 24 anos.
No domingo fomos todos juntos
para o Rio Mendoza fazer churrasco para os carnívoros e legumes para os
vegetarianos. Do rio se podia avistar a Cordilheira dos Andes, estava muito
lindo! Foi aí que descobri a companhia muito agradável de Lau, a argentina mais
brasileira que conheci. Adorei conversar com ela e escutar suas idéias. Foi a
única pessoa com que consegui desenvolver uma boa prosa. Com os demais, eu era
apenas a “brasileira simpática”, como Gabriel me chamava. Mas não dava para
conversar com Lau o tempo todo e a maior parte eu estava mais calada, na minha,
apenas observando.
Voltamos para casa e mais a noite
veio a péssima idéia da gente sair para um lugar de música. Eu tinha achado que
íamos para um lugar com músicas mais típicas e topei, já que até então não
tinha curtido muito. Ai que arrependimento! Fomos com o irmão de umas das
meninas que mora na casa. Ele parecia bacana, sensato e maduro. Mas era um
garotão curtindo as maluquices da juventude. Dirigia fazendo brincadeiras
bestas e se comportava como um adolescente dirigindo depois de uma festa. Eu
estava odiando e pensei mil vezes em descer do carro. Mas eu não sabia ao certo
onde estávamos e tinha mais medo de descer do que ficar no carro. O que me
deixava mais tranqüila era que o trânsito estava muito calmo e eu sabia que Arie,
que estava de co-piloto, estava muito atento a tudo. Chegamos ao tal lugar que
íamos e estava fechado e a galera entusiasmada foi parar em uma boate. Achei
ótimo porque eu já tinha mais que certeza que ia voltar de táxi e parando em um
lugar que eu não gosto eu nem precisei inventar desculpas para chegar junto com
eles e no mesmo momento pegar um táxi para voltar para a “casita” dormir. Eu já
tinha era falado algumas vezes dentro do carro e quando descemos também que eu
não estava gostando da brincadeira, mais uma vez a velha aparecia, mas eu não
importava, minha segurança valia muito mais que as aparências. Assim eu não ia
ter que inventar nada, mas chegar à uma boate facilitou a saída de escape.
Cada vez mais eu tenho gostado de
aventuras, mas aventuras que me fazem sentir bem e que acrescentam coisas na
minha vida, que me ensinam... essa aí, eu pulei fora e detestei! Valeu para eu
aprender a ficar mais esperta com esse tipo de coisa! Voltei para casa, dormi e
logo cedo da manhã saí em direção à rodoviária com muita vontade de sair desse
ambiente.
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