No alto da montanha...

No alto da montanha...
Capilla del Monte - Cerro Uritorco - Argentina

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Norte da Argentina, entre as montanhas e os povos originários...


Recebendo um companheiro de aventuras

No norte da Argentina encontrei com o meu novo companheiro de aventuras. Eu e Italo nos conhecemos há um ano atrás de uma forma muito diferente do comum e por pura coincidência de datas, brindamos nosso um ano de amizade no norte da Argentina!

Em outubro de 2011 eu participei de um seminário na minha área de trabalho e tinha uma apresentação que me interessou bastante. O palestrante parecia que tinha uma bagagem de trabalho relacionada aos temas que gosto muito e que eu já pensei por diversas vezes em aprofundar. Durante a palestra resolvi fazer uma pergunta que estava me intrigando. Eu nunca havia feito perguntas em seminários, sempre morri de vergonha, mas o assunto era polemico e eu não consegui deixar de interrogar a uma questão que acabou causando uma boa discussão. Quando terminou o seminário eu resolvi pesquisar o currículo do palestrante, Italo, para ver se eu pegava alguma inspiração na minha carreira. Quando abri o currículo me encantei com o trabalho dele e resolvi mandar uma mensagem via internet para o tal pesquisador e professor pedindo umas dicas. Em resposta ele me convidou para um café intelectual, que nunca aconteceu. Em pouco tempo ele se mudou para o Rio de Janeiro e em uma ida minha para lá fizemos contato para marcar o tal café e acabamos foi trocando a programação para uma noite de muito show bom em um estádio de futebol. Haha, conseqüência, os papos intelectuais ficaram para outro dia e entre as nossas conversas o Italo me contou um pouco sobre sua história: um livro recheado de MUITAS viagens fantásticas que me fascinaram. Eu falei na cabeça dele do primeiro ao último show e hoje ele me conta que eu não deixei ele prestar atenção em nenhuma música de tanto que eu conversava, kkkkk. Enfim, esta história com o Italo merece um parágrafo especial na minha viagem para Argentina porque nesta nossa primeira conversa, em março de 2012, sem saber ele contribuiu para despertar em mim um grande encanto pela vida mochileira!

Assim nos tornamos amigos de gostos muito comuns e de um espírito aventureiro que acabou o instigando a ir encontrar comigo na Argentina. Quando ele me escreveu sobre a idéia de ir para esta viagem acabou me pegando de surpresa. Eu planejei uma viagem um pouco egoísta, só para mim e de início não tinha convidado ninguém para me acompanhar, era um momento importante para mim para estar só. E assim acabei respondendo para ele que talvez eu precisasse de um tempo para me decidir sobre isso, que eu não tinha planos fixos nem datas certas. E ainda bem que eu mudei de idéia e resolvi planejar as datas para nos encontrarmos porque nos divertimos muito pelas estradas!  Foi muito bom ganhar essa companhia surpresa!!!


San Salvador de Jujuy

Mais uma vez me despedi de Córdoba e no dia 25 de março à noite parti para o norte da Argentina em 15 horas de viagem. A primeira parada foi na capital da província de Jujuy, San Salvador de Jujuy. Já tinham me avisado que lá não teria muita coisa interessante para fazer, mas era o ponto de partida para os lugares de maior interesse. E assim foi, a cidade é simples e encontrei como atrativo apenas uma praça agradável.
A recepção ao Italo é que não foi muito legal.... ele tinha previsão de chegar ou no ônibus perto das 16:30 ou de 18:30 mais ou menos. Combinamos de nos encontrar no hostel, mas eu resolvi fazer uma recepção surpresa na rodoviária. Cheguei 16:30 e esperei até 18:30.... ele chegou 16:20 e nos desencontramos!! Kkk esperei por duas horas em um frio de doer que me rendeu uma gripe feia e ele já estava no hostel, onde eu havia deixado um bilhete dizendo que se a gente se desencontrasse era para ele me esperar lá! Que trágico foi isso, hehe, encontrei com ele na rua a caminho de me buscar na rodoviária, quando eu já estava voltando.

Fomos dar uma voltinha em Jujuy e resolvemos parar em um bar que nomeamos de o pior bar de Jujuy. Ele tinha comentado de outros bares que pareciam muito chiques para a viagem e acabamos ambos preferindo parar no lugar mais copo sujo que achamos, com as músicas mais bregas, as comidas mais fundo de quintal e por isso tudo é que adoramos e nos sentimos super à vontade no “pior bar de Jujuy”! Foi super divertido!
Depois de muito por o papo em dia voltamos para o hostel, que por fim percebemos que também parecia o pior hostel de Jujuy. Isso não foi intencional não, eu havia feito a reserva pela internet e não sabia que o banheiro era tão feio. Mas era só essa a parte feia e o nosso tempo por lá foi muito curto, porque logo pela manhã do dia seguinte seguimos viagem para Pumamarca.


Pumamarca


Ah que lindo é o povoado de Pumamarca!! Quando estávamos na estrada cortamos umas vilazinhas e quando passamos por lá, sem saber que já tínhamos chegado, estávamos pensando em descer do ônibus de tão lindo que estava o lugar. Mas para nossa sorte era lá mesmo que tínhamos que chegar.

A maior atração de Pumamarca é a “Montaña de las siete colores”. Eu realmente nunca tinha visto uma montanha colorida com cores fortes e esta paisagem era muito bonita e única. Mas além do ponto mais turístico, toda a cidadezinha é muito gostosinha. É bem pequenininha, com muito artesanato pelas ruas e bons lugares para comer empanadas típicas e tomar cafés e chás. Na verdade, embora seja um lugar afastado e com muitos originários (índios), é exatamente por isso que se tornou um ambiente muito turístico, mas de uma forma agradável.

Dessa vez escolhemos um bom lugar para nos alojar, limpinho e nos fundos de um restaurante que nos agradou. Depois de escolher onde íamos ficar, almoçamos um mega sanduíche em uma lanchonete decorada com garrafas coloridas penduradas na varandinha que dava vista para uma montanha com um cacto gigante que ficava bem na ponta, parecendo um cruzeiro. Esta vista me encantou!

Logo fomos dar uma voltinha para conhecer o que havia na redondeza e depois decidimos pegar um transporte para as Salinhas Grandes, um lugar mais afastado que parece o Deserto de Sal da Bolívia. É como um grande mar de sal, uma paisagem branca, gelada e que parece não ter fim! Fomos com um casal de Buenos Aires e acabamos enturmando de uma forma bacana e terminamos o passeio em um café.

Para fechar o dia eu e Italo fomos para o restaurante em que estávamos hospedados e foi muito engraçado. A começar que o cantor selecionou algumas pessoas para dançar e lá estava o Italo aprendendo a dançar músicas típicas, haha. Eu fiquei sentadinha rindo. Depois o cantor seguiu tocando, fazendo piadas e ficando bêbado com o vinho que ele não parava de tomar. E ao invés do povo perder a paciência que ele não parava de conversar no lugar de cantar, todo mundo na verdade parava de conversar com sua turma para escutá-lo e terminavam todos nas risadas! Mas meu soninho como sempre chegou cedo e fui dormir antes do show acabar.

No dia seguinte fomos ver a montanha das sete cores pelo mirante e depois fizemos uma caminhada entre ela e suas vizinhas também coloridas. Lindo, lindo, lindo!

Pumamarca foi o povoado que mais gostei, mas... viajantes seguem estradas e nesse mesmo dia fomos para Tilcara, outro povoado.


Tilcara


Chegando em Tilcara vimos muita, muita poeira na cidade que não tinha asfalto e levantava pó facilmente. Resolvemos que o Italo ficaria vigiando as malas enquanto eu saia para buscar um albergue. Como estávamos viajando no feriado de Semana Santa, os preços de tudo estavam o dobro e na minha andança achei um lugar que estava o mais barato e cheio de bicho grilo que pareciam ser gente boa. Cheguei toda empolgada para contar que achei o nosso albergue e fomos para lá com nossa bagagem. Nóooooo... que furada! Quando eu fui conhecer o dono estava lavando o chão e eu nem pensava na idéia de que o banheiro era uma parte que ele pulava e não lavava. Socorro!! Nunca vimos um banheiro tão sujo de tudo possível na nossa vida. Mas percebemos isso com mais atenção quando já era tarde demais e por lá ficamos. Foi horroroso e engraçado. Chegar à minha cama pro exemplo e perder meu espaço para um cachorro que escolheu o meu cobertor para dormir foi sem noção. E os nossos vizinhos de camas também eram dos tipos muito raros, como um peruano do tipo índio que conversava dormindo, um tatuador que tatuou todo mundo do albergue (exceto nós dois é claro) e um cara viajado que levantava à noite toda. Foi engraçado porque estávamos os dois, se eu estivesse sozinha esse era mais um lugar que eu teria fugido! Mas estando os dois tivemos histórias para rir depois e um lugar para nunca recomendar aos nossos amigos.

No dia que chegamos acabamos perdendo tempo com uma lan house que não funcionava direito e que precisávamos dela, depois almoçamos um prato delicioso de quinoa e quando chegamos ao vale de construções de pedra que era o maior ponto turístico ele estava fechando e perdemos o passeio. Na noite descobrimos uma procissão com instrumentos musicais indígenas encantadores, papemos por um bom tempo na praça com Fernet e fomos para um restaurante comer comidas típicas.

No dia seguinte levantamos cedo e fomos para um vale que se chama “Garganta del Diablo” que é uma cachoeira em meio aos precipícios. E esse passeio virou mais uma história para contar... Antes de ir perguntamos no ponto turístico qual era o melhor caminho e também perguntamos para um guardinha na rua. Ambos e as indicações do mapa mostravam que havia dois caminhos, um de 8 km por onde passavam os carros e outro de 4 km que só dava para ir a pé. Escolhemos o menor, é claro. Caminhamos pelas montanhas de cactos que lembravam os filmes de bang bang. Tudo fantástico! Mas eu estava gripada e juntando aos problemas de altitude que roubam todo o nosso ar, fui uma péssima companhia. Reclamei o caminho inteiro de ida que eu não tinha mais força e que estava difícil, mas queríamos muito chegar lá e seguimos até onde deu. Mas na verdade não chegamos ao ponto final que era a cachoeira, simplesmente porque o caminho indicado não levava até lá! O caminho do carro ia por baixo e seguia até a cachoeira, o caminho a pé ia por cima e era em direção a um vilarejo muito distante. Por fim ficamos com raiva que ninguém nos avisou que nesse percurso só se via a paisagem por cima, mas acabamos gostando disso porque tivemos a vista do alto que era deslumbrante! Só ficamos mesmo espantados com o trabalho das pessoas que deveriam saber informar as coisas direitinho. Mas foi ótimo e guardamos fotos maravilhosas! Na volta eu estava muito melhor, era só descida e eu sofri menos com a falta de ar, acabou que no fim eu fiquei foi triste de já ter acabado. Assim pudemos nos divertir mais e rimos até falar chega. Sentir o vento no corpo de braços abertos na beira da montanha com uma paisagem rara abaixo dos meus olhos e as nossas gargalhadas com brincadeiras de criança que inventamos foram momentos que ficarão bem guardados.

No fim da estrada paramos para tomar uma deliciosa vitamina em uma casinha no meio do nada. O lugar era inspirador e dava muita vontade de fazer um igual como lazer e trabalho. As vitaminas e sucos naturais eram servidos em um quiosquezinho de madeira, na frente de uma casa que tinha um riozinho e um quintal de muitas árvores e mato. Depois almoçamos iogurte com granola e cansados e imundos seguimos viagem para Humauaca.


Humauaca


Por mais que gostamos muito de natureza, quando chegamos a Humauaca estávamos imensamente feliz por a cidade não ser de poeira! As ruas eram calçadas e a cidade com uma infra-estrutura muito melhor. Depois de um hostel horrível em Tilcara e com o corpo de pura poeira e suor, tudo que queríamos era um lugar limpinho, cheiroso. E encontramos! Meio sem graça batemos em uma porta que tinha escrito hostel e tinha cara de casa de família. Fomos recebidos por uma senhorinha de mais de sessenta anos que nos levou para conhecer os quartos. A casa é uma típica casa de senhorinha de igreja, limpíssima, bem cuidada e a hospedagem era barata. Estava perfeito e fechamos por lá. E eu achei super moderninho.... no nosso quarto a nossa vizinha de cama era uma amiga da proprietária e quando eu perguntei a senhorinha dona do hostel se não havia problema o Italo dormir lá também ela respondeu que isso era normal! Haha. Claro que pra mim é normal os quartos compartidos como em todos os outros hostels, mas ouvir isso daquela doninha foi muito bonitinho e moderninho.

Depois de virarmos gente de novo tirando toda a poeira do corpo saímos para dar umas voltinhas e encontramos mais uma procissão de páscoa. Estava muito legal, a procissão se dividia de um lado com os fiéis e o padre e em outras ruas os músicos que eram um bando de jovens originários que faziam uma música mega animada. Na verdade parecia mesmo uma algazarra com tambores e flautas, mas não era não, eles tinham bandeirinha religiosa e tudo mais!  Depois jantamos uma sopa de lentilhas e fim de noite.

No dia seguinte eu acordei às seis da manhã com nariz doendo de gripe e fui preparar um chá. Depois dormi mais um pouco e saímos para as ruas. Eu estava meio molenga e deixei o Italo dar umas voltinhas mais distante sozinho enquanto eu ficava parada vendo a movimentação da cidade. O momento auge para o povoado foi ao meio dia, quando o sino da igreja tocou e saiu um boneco da torre, uma imagem em tamanho real que fazia movimentos em forma de benção. A praça estava lotada para assistir e o povo todo entusiasmado. Engraçado até a empolgação com o boneco.
Depois do almoço pegamos o ônibus para Iruya.


Iruya


Iruya fica a três horas de Humauaca. Pegamos um ônibus muito antigo, que as bagagens vão amarradas em cima, igual a filme! A estrada para Iruya é inacreditável! Não sabíamos quase nada sobre os lugares para onde estávamos indo, somente sabíamos que eram lugares bonitos. Assim, foi uma surpresa observar que o caminho para o povoado era literalmente dentro das montanhas. Cada vez que o ônibus seguia, entrávamos mais para dentro das montanhas e assim, entre as serras, sem asfalto, sem construções nem nada, seguimos por praticamente todo o tempo da viagem. A estrada subiu até um ponto bem alto, quando atravessou a metade do percurso e onde tinha uma vista maravilhosa e depois baixou até o pé das montanhas e por onde passavam os rios. Incrível visualizar a cidade nada no meio do nada. Na verdade a cidade mesmo é bem feinha porque tem construções muito novas e muito pobres. Não tem nada de antigo, típico. Mas a cidade está em meio a uma paisagem maravilhosa e indescritível com montanhas para todos os lados. Sensacional e indescritível mesmo.

Chegamos ao fim do dia e achamos um alojamento nos fundos de uma casa. Bem simples, como todos os outros da região, mas bem limpinho. O engraçado foi quando pedimos a chave do quarto para a proprietária e ela disse que lá eles não trancam portas e que ela não tinha chave. Assim, quando saíamos, nossas coisas ficavam totalmente a deus dará. Mas esse parecia mesmo o ritmo do vilarejo, “um lugar sem chaves”.

No dia seguinte saímos por volta das seis da manhã porque queríamos ver a cidade com a luz da noite/ dia. E foi mesmo maravilhoso! Fomos para um ponto distante onde podíamos ver as luzinhas no meio das serras que estavam negras pela escuridão e com um céu roxo que tinha o sol começando a apontar. Fantástico, lindo, maravilhoso! Adorei essa idéia do Italo, que estava inspirado a tirar fotos, que por sinal ficaram muito bonitas.

Depois voltamos e fizemos hora nas ruas até às nove da manhã. Aí o Italo saiu para uma super caminhada em direção ao povoado de San Isidro. Eram 3 horas para ir e mais 3 para voltar e eu sabia que meu estado fraco de gripe ia mais atrapalhá-lo que acompanhá-lo e assim decidi que iria ficar “em casa”. Ele foi e eu lavei umas roupas que estava precisando e fui deitar. Deitar??? Naquele dia de sol gostoso e naquele lugar perfeito? Nemmmmm!!! Mudei de idéia e resolvi que queria sentir o dia. Não sabia até onde ia, mas almocei e segui pelo mesmo tal caminho longo que ia ao povoado. Sozinha, cruzei por um garoto caminhando pelo meio do nada e me certifiquei se o caminho estava certo. Ele me disse que se eu fosse para a esquerda ia para o povoado e que era muito longe e difícil, mas que para a direita eu ia para uma cachoeira mais perto e fácil de chegar. Comecei mesmo pela esquerda, mas quando eu vi que ia ter que começar a subir desisti imediatamente! Eu sabia que não tinha a menor condição para subir e ficar sem ar com a altitude, gripada! Resolvi então ir para a direita, acompanhando o riozinho. Até um certo ponto dava para cruzar as águas facilmente, mas depois eu comecei a lembrar da minha mãe me dizendo mil vezes para tomar cuidado com as cachoeiras e rios, que para ir os rios ficam baixos, mas que nunca se sabe se para voltar também vão estar. Hehe, era mesma coisa de ter minha mãe ali do meu lado. Estava óbvio que era fácil de chegar, até porque eu tinha visto umas pessoas voltando de lá, mas mãe falou a gente obedece né?! Resolvi não seguir adiante, fiquei com medinhooo, hehe! Então resolvi ficar sentada entre duas passagens baixinhas do rio. Comecei colocando a mãozinha, depois, sentada na terra, enfiei os pesinhos na água gelada que pareciam me abençoar em meio àquela paisagem deslumbrante de verde de mato e vermelho de montanha de terra forte. Por fim acabei deitando nas pedrinhas e terra e fiquei me sentindo como se estivesse tomando sol na praia. O detalhe que eu estava de roupa, preta, em um sol de rachar era só um detalhe, a minha inspiração me fez sentir super confortável ali e por lá descansei e pensei por quase uma hora. Depois voltei com pé na estradinha para a “casa”.

À noite fomos para uma festa que estava tendo do outro lado da ponte que cruza o povoado. A festa acontecia no dia da páscoa, mas não tinha nada relacionado aos festejos que conheço para essa data. Mais cedo teve a missa na igreja e coisa e tal. Mas à noite o povo saiu para o profano. Mas o profano deles estava relacionado com as culturas tradicionais. Eu e Italo chegamos mais pro fim da festa, estavam servindo leite quente e bolo e tinha música. A sonoridade era feita pelos originários vestidos com roupas tradicionais. A imagem que eu via ficou gravada como filme na minha cabeça. Era um índio no meio da roda tocando flauta com uma mão e uma espécie de um tambor com a outra e o povo dançando em círculo em volta. A música era tipo xamã e a passagem parecia um ritual muito forte. Misturado com o profano, havia uma galera dançando meio bêbedos, dançavam e tomavam vinho. As mulheres de saião e cabelão e os homens com ponchos vermelhos do tipo indígena. Lindo! O som produzido era repetitivo e entrava na nossa cabeça com uma suavidade incrível! No dia seguinte escutamos uma mulher que era música explicar que os sons dos instrumentos são realizados de acordo com a época do ano e com as necessidades, como por exemplo, pedindo fertilidade para a terra e coisas do tipo, relacionadas à produção vinculada à natureza. Pensamos que algo do tipo acontecia ali na festa, misturado com as bebedeiras festivas. Depois tiveram umas danças folclóricas da Argentina e fomos embora.


Esta foi a única cidade até então que ficamos por duas noites e na segunda de manhã íamos embora. Acordamos e caminhamos até o mirante. De lá avistamos uma construção interessante que lembrava uma mesquita. Ficamos curiosos e caminhamos em sua direção para ver o que era. Chegamos a um cemitério e a construção fazia parte do seu cenário genial. Foi o cemitério mais alegre que já vi até hoje, lotado de flores coloridas de cores muito vivas.

De lá paramos em um hotel chiquetérrimo porque o Italo estava com vontade de tomar um bom café. Entramos lá, os dois de mochilas, eu com a calça jeans dobrada até o meio da canela e por aí vai! Sentamos para pedir o café e.... nossa que delícia!!! Tinha um resto de café da manhã na mesa que um hospede deixou. Hum, o pãozinho estava tão lindo, inteiro, sem nenhuma mordida, e ainda havia doce de leite, manteiga e geléia para passar! Kkkk Eu jamais faria isso no meu dia-dia normal, mas nos meus dias anormais das minhas férias...kkkk... tinha que pegar um pedacinho daquele pão. Entre milhares de gargalhadas que arrumamos com isso, eu pegava o pão delicadamente para dar uma mordida e quando alguém chegava perto despistávamos. Consegui pegar um pedacinho para mim, um pedacinho dei para o Italo e no fim da mordida...... a câmera em cima da minha cabeça me olhando e eu não tinha visto. Kkk Olhamos para o garçom e ele estavaa.... rindooo!!! Que vergonha, ficamos roxos e azuis, tomamos o café, o Italo com toda a postura de italiano e eu querendo me esconder, saímos e eu nem olhei pro lado. Foi um super mico, mas nos divertimos tanto tanto igual criança quando faz coisa errada. As nossas risadas fizeram a mordida no pão valer à pena. E além de tudo... hum, um pão era feito com nozes e com o doce de leite estava maravilhoso!!

Depois descobrimos um cinema muito legal, que ia passar um filme sobre a cultura do povo local! Mas já era tarde demais, pois nesse dia fomos embora. Fizemos hora na praça, almoçamos, buscamos nossas malas e seguimos pé na estrada!


Jujuy

Não queríamos muito ir para Jujuy de novo, mas tivemos que ir porque era o ponto de partida para o nosso destino que era Salta. Assim, fomos para Jujuy mais uma vez, mas obviamente mudamos de hostel. Dessa vez um lugar super descolado, com uma fachada linda que mais parecia um hotel de verdade. Do lado de dentro tinha um barzinho bem arrumadinho e uma galera que parecia ser agradável. Ficamos por lá! Dezoito pessoas no nosso quarto e um banheiro para o albergue inteiro, kkk. Mas não fez mal, estava limpo e o lugar era mesmo muito bacana! E nossa passagem foi muito rápida, no dia seguinte cedo seguimos para outro bus.


Salta


Chegar a Salta já foi lindo. Tivemos que perambular bastante para encontrar o hostel que estávamos procurando, mas nos sentíamos bem caminhando pelas ruas agradáveis com entradas floridas para as casas. Hum, Salta foi agradável e tranqüilo do início ao fim! O nosso hostel, 7 duendes, tinha roupas de cama cheirosas, poucos companheiros de quarto, água quentinha e um responsável muito atencioso e simpático.

Salta também, entre outras coisas, se resumiu a muita comilança!! O Italo é o melhor companheiro para gastronomia, seja ela refinada ou de boteco copo sujo, ou seja, ele também é uma ótima companhia para fazer engordar. Eu já estou uma bola, isso me preocupa, mas nesses dias com ele quis foi curtir! Assim, almoçamos em um restaurante de gente fina, mas gostoso porque tinha as mesinhas bem na praça principal. Comemos um monte de delícias e depois não conseguíamos fazer quase nada! Fomos caminhando devagarzinho até uma feira de artesanato onde fizemos umas compras bonitas e baratas e compramos uns vinhos que tomamos no parque, pertinho do lago com patos! Super agradável. À noite fomos para a rua que diziam ser a mais movimentada de bares na cidade e quando chegamos deu até dó de tão vazia que tava! Tinham muitos bares com músicas tradicionais, preparados para receber turistas e sentamos foi e um bar que tocava um bom rock! Comemos uma pizza que no mínimo foi comprada no Carrefour, mas estava muito gostosa e aí fechamos nosso dia, pela primeira vez, às duas da manhã!

E no outro dia... chuvinha gostosa para dormir!! Esse era o dia que pedia cobertor e brigadeiro, mas como não dava para fazer isso, fomos para as ruas, tudo bem tranqüilo e devagar. Depois eu dormi um longo cochilo e à noite fomos a uma boa pizzaria e cineminha!! Vimos um filme muito muito divertido, kkkk, as risadas foram garantidas!!! O filme era infantil e se chama Los Croods!! Conta a história de uma família primata que vivia nas cavernas e que tinha uma menina muito curiosa que insistia em ver o que havia para fora do buraco de pedras. Ela tinha muita vontade de ultrapassar suas fronteiras e foi em busca do sol, se arriscou e foi atrás do amanhecer!! De repente escutei que ela se parecia comigo, rs. O filme é divertido e interessante porque tem mesmo uma história bonita e boa para se pensar. Além de rir muito confesso que chorei até em um filme infantil. Nem dava para acreditar nisso, mas foi fato. A menina tinha uma história difícil com o pai dela e no fim eles se abraçaram e disseram que se amam muito e eu.... chorei! Senti saudades do meu pai...

No fim, eu e Italo tentamos voltar para a rua teoricamente movimentada, mas que estava morta de novo, e dessa vez fomos dormir.

Acordamos na quinta nos preparando para a partida. Almoçamos juntos, nos despedimos, o Italo voltou para o Brasil e eu segui para Mendoza....

 















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