Nos ruídos de Santiago...
Bum! Cheguei à Santiago! Metrô,
muita gente, muito carro, barulho... cidade grande! Fui direto para o hostel
que Marieta tinha me indicado. Lá peguei um mapa com as indicações dos pontos
interessantes da cidade e perguntei para o atendente onde eu podia comer comida
típica e barata, algo que não fosse para turistas. Ele me indicou o mercado
central, alertando que era caro e um outro mercadão falando que era barato. Não
era só pelo preço, mas geralmente eu gosto mesmo dos lugares menos turísticos e
optei pelo segundo. Mas quando eu cheguei no mercadão... era tipo o Ceasa, mas
acho que ainda piorado. Era feio, com cheiro ruim e com um povão que dava medo
de estar por ali sozinha.
Logo tratei de ir para o tal
mercado central, que em contrapartida, tinha restaurante mesmo chiquerérrimo. Mudei
de ideia mais uma vez e fui para a terceira opção que era um restaurante na
rua. Lá eu perdi a paciência com o garçom e ele comigo quando eu perguntei se
tinha algo sem carne e ele me responde “frango”, eu disse que isso era carne
também e ele respondeu outro prato com “peixe” eu respondi o mesmo e por fim
ele disse outro com “presunto”! Parecia até piada e eu fiquei mesmo irritada.
Perdi a paciência e fui comer um salgado de queijo em pé em uma lanchonete!
Depois sai para caminhar no meio daquele tumulto de cidade grande e fui
chegando a conclusão que eu estava mesmo começando a ficar estressada como há
tempos não ficava.
Com a sensação do nervosismo do
barulho da cidade grande e do clima de capital eu decidi que os únicos lugares
que eu ia visitar eram os parques... eu precisava de ir em busca do verde como
refúgio! Assim fui para um dos famosos serros que eu tinha escutado que era
muito bonito. Realmente era... eu pude sentar no banquinho de madeira e espairecer
bem a cabeça. Mas confesso que eu ia preferir muito mais se não tivesse os
caminhos de asfalto com muitas escadas e preferia até mesmo que não tivesses os
castelos que eram o “tcham” do lugar. Também seria melhor se a vista do mirante
não fosse para tantos prédios. Mas tudo bem, pelo menos eu não estava no meio
das grandes avenidas de Santiago!
Depois que sai do parque fui para uma rua que me disseram que era muito
linda, e era mesmo, em um estilo histórico e com vários barzinhos tranqüilos e
agradáveis. Em um desses fiz um lanche, carérrimo por sinal e depois dei uma
voltinha na feira de artesanatos e voltei para o hostel. Para a minha surpresa
lá eu encontrei com a Marieta, mas dessa vez acabamos não ficando juntas.
Quando cheguei ao hostel o dono
me perguntou qual era a cama do quarto coletivo que eu tinha escolhido. Eu
respondi e ele me disse que não podia me deixar lá. Ele falou que eu escolhi
logo a única cama que eles não tinham trocado o colchão e que estava muito ruim
para dormir. Como as outras camas estavam ocupadas ele simplesmente me trocou
para um quarto individual com cama de casal, o melhor edredon do mundo e um
banheiro só meu! E um banheiro com água quente, chuveiro bom, tapete e sabonete
para lavar a mão! Tinha tanto tempo que eu não via essa composição completa que
aquilo se tornou o maior luxo para mim. Quando eu vi aquele quarto eu tinha a
certeza que meus momentos dentro dele seriam os melhores de Santiago, e assim
foi!
Eu tinha que fazer check in ao
meio dia e na terça-feira não larguei o quarto enquanto não deu esse horário.
Ai que delícia que estava aquele camão só meu!!! E sem o barulho das ruas
agitadas. Percebi que não ia mesmo conseguir ficar na capital e quando tive que
largar o hostel fui direto para rodoviária comprar minha passagem de volta para
Córdoba. Comprei para às 21h e durante a tarde fui conhecer o outro serro.
Para subir ao serro havia a
alternativa de ir a pé ou com um funicular, tipo um trenzinho meio na vertical.
Eu escolhi a segunda opção porque tinha planejado de caminhar muito para
explorar a parte alta do parque. Mas aí... continuava o Chile me aborrecendo. O
parque era imenso com muitas áreas a serem desfrutadas. Mas não havia mapa e a
atendente da recepção estava pouco se importando em explicar como caminhar por
lá. Tinha que chegar ao alto para ver no que dava! E assim fiz, cheguei ao alto
e... ninguém para ajudar direito! Ah nem... o moço que trabalhava lá me indicou
para um caminho que não tinha saída e eu resolvi é que não ia mais mesmo para lugar
nenhum, que ia só fazer o caminho de volta! Parei um pouco, fiquei sentada em
um banco relaxando e fui tentar achar a saída.
Então encontrei um ponto de
informações e o atendente me indicou que havia uma saída de asfalto de seis
quilômetros e uma de trilha de três quilômetros. Não só pela distância, mas
pelo entusiasmo de andar na terra sem dúvidas respondi que ia pelo segundo! Aí
ele veio me falar que não era indicado para mulheres sozinhas e eu perguntei se
era muito perigoso, se tinha assalto ou o quê e ele disse que não, que era
tranqüilo, que eu só não podia me perder. Bom, se o problema era só esse eu
falei com ele que se eu me perdesse eu faria o caminho de volta e fui.
Logo que pus o pé na trilha veio
um funcionário uniformizado de moto atrás de mim! Ah nemmmmm.... mais uma
vez... igualzinho aconteceu na montanha de Córdoba... ganhei um vigia! Ele veio
me falar que a trilha era altamente perigosa, que tinha assaltos constantes e
que era para eu andar perto de um casal que estava à minha frente. Eu respondi
que se era assim eu ia voltar e ia fazer o outro caminho. Aí ele respondeu que
o outro era ainda pior. Achei que era mentira, mas tinha que pensar o que
fazer. Este serro é super visitado, um lugar lotado, um dos principais pontos
turísticos. Eu pensava que por ser assim, não era possível que fosse tão
perigoso. Mas ao mesmo tempo também pensava que por estar lotado de turistas
com dinheiro e equipamentos caros realmente podia ser. Enquanto eu pensava ele
veio falando que então me acompanhava a descer o de terra, que era o papel dele
fazer a segurança do lugar. Eu não estava gostando da idéia da companhia dele,
diferente do guia que me acompanhou em Córdoba, com esse eu não tinha boas
intuições. Mas como ele estava uniformizado, com rádio e tudo mais e eu vi que
além do casal passavam outras pessoas por ali, acabou que assim eu fui com ele
do lado na moto. Horrível, mas ainda bem que eu consegui acelerar e cheguei
rapidinho. O pior foi ter que escutar dele “Como eu faço para te encontrar no
Brasil?” eu respondi maldozamente “chega em Minas Gerais e procura!” ele ficou
achando que MG era uma cidadezinha pequena, kkk.
Era mesmo hora de sair de
Santiago que só estava me cansando e depois de uma maratona de metrô lotado fui
pegar o ônibus que sairia às 21h de terça e chegaria em Córdoba às 17:30m de
quarta...
Cheguei a Córdoba na quarta-feira
com um enorme sorriso no rosto. Era engraçado olhar para mim mesma e perceber a
sensação que eu estava de estar retornando para casa. Era isso que eu sentia ao
ver aquela cidade harmoniosa de volta!! Parecia que eu estava chegando ao meu
aconchego. Foi aí que eu percebi o quanto gostei de Córdoba!!
Apesar de ter chegado com a
vontade de ficar mais, depois dos meus pensamentos da fazenda decidi chegar e
comprar a minha passagem para o Brasil. Fui à bilheteria e consegui ter a minha
primeira discussão em espanhol. Briguei feio com o atendente e nem tenho
vontade de escrever sobre isso para não reviver. Mas engraçado foi que eu estou
mesmo em uma fase em que tudo é amor! No fim de muito bate boca eu não aguentei
e tive que falar com o atendente que “agora estamos bem. Está tudo resolvido e
pronto, estamos bem!” kkk. Ele não significa nada para mim, mas esse clima de
briga estava pesado demais e isso não é bom em lugar nenhum, assim, fui “fazer
as pazes” rsrs.
Depois saí em direção ao meu
ponto de apoio. Meu amigo Mário, sem eu pedir nada, deixou a chave da casa dele
com o vizinho, já que ele estava trabalhando, para eu buscar e me alojar lá.
Mário é mesmo um garoto muito bom e em meus dias em Córdoba ele me ajudou com
tudo o que eu precisei! Saí da casa dele meio intrigada porque eu queria muito
ter retribuído de alguma forma, mas sem ter idéias criativas não soube como
agradecer.
Bom, cheguei a casa e logo fui ao
Parque Sarmiento me despedir da sua bonita paisagem e de alguém especial que eu
não tinha certeza se ia encontrar por lá... Mas encontrei! Encontrei com o
homem de cheiro de sândalo, sorriso de lótus e brilho de sol! Como todo bom
diário tem um romance, eu não posso finalizar o meu sem dizer que na minha
viagem alguém me trouxe sentimentos muito bons. Quem me ensinou a abraçar com o
coração ao centro, talvez pela conexão que vem desse abraço, sem querer
alcançou um pedacinho mais profundo em mim. Sob as lindas árvores do parque despedi-me
feliz de poder estar ali, naquele momento presente, sentindo mais uma vez o seu
forte abraço. Despedimo-nos sorrindo e seguindo...
Com um sorrisão no rosto voltei
para casa e depois fui a um bar com Mário e Mely e uns amigos deles. Ah essa
garotinha... ela me disse a frase: “eu faria tudo para estar aqui e me despedir
de você!”. Como ela é fofinha!! Segundo ela, em julho estará no Brasil e eu vou
amar recebê-la. Foi muito bom ganhar essa irmã por um mês!
Na quinta-feira, meu último dia,
fui comprar uns alfajores de presente, despedi-me do melhor sorvete que eu já
tomei, atrasada mas com toda a calma para desfrutar daquele momento, tomei um
mega banho já que eu possivelmente ficaria de quinta até sábado à noite sem
mais tomar banho (que horror, kkk, mas era o tempo que ia ficar no ônibus) e
segui até a rodoviária, me despedindo daquela cidade com a qual eu tanto me
identifiquei....
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