Depois do dia azarento de ontem,
hoje (15 de fevereiro) decidi acordar renovada. Nas sextas-feiras não tenho aula, e por isso me
deixei acordar a hora que quis. Aliás, hoje foi um dia que me deixei fazer tudo
o que quis. Estava precisando de curtir um dia por inteiro! Ainda não tenho
conseguido dormir bem, acordo várias vezes pela noite, creio que seja porque o
quarto é bem quente. Assim, estou com um cansaço um pouco acumulado, e desde
que cheguei não parei nem se quer por um minuto! O tempo todo hablando
portunhol e comprando comida para deixar em casa, e aula, e banco e por aí vai!
Mas hoje.... acordei, coloquei vários mantras para tocar no computador, escrevi
alguns mantras que gosto muito em um papel e preguei no mural em cima da minha
cama. Também coloquei um chaveiro de sorte com dragão chinês. Sim! Faltava um
incenso! Pesquisei algumas coisas sobre o Ananda Marga aqui de Córdoba e fui
para rua comprar meu incenso. Na verdade eu tinha uma lista de compras de coisas
importantes de comer, como leite, arroz, frutas. Aí fui pela rua a fora. Já era
quase onze da manhã. Aí no caminho decidi caminhar até a Praça San Martin, que
é o miolão da cidade, para ver onde havia um restaurante, depois faria as
compras e deixaria em casa e voltaria para almoçar. Um pouco fora da lógica,
claro, mas era isso que queria, um dia fora da lógica. E assim foi! Fiz tudo de
acordo com o que dava na cabeça na hora!
Chegando ao comércio já achei
logo uma casa de artigos religiosos e lá estava meu incenso. Hum, aí senti que
o dia podia ser bom e que eu começaria a me sentir melhor! Depois que comprei comecei
a andar para além do caminho da praça (que eu já conhecia) para ver o que mais
tinha por aqui. Na verdade todas as ruas se parecem muito. São todas muito
movimentadas e uma mescla de comércio, casas e prédios históricos lindos. No
meio do caminho encontrei um prédio maravilhoso e decidi que voltaria depois
para fotografá-lo! Depois de andar muito fui para a praça! Chegando lá procurei
até um restaurante que tinha cara de barato, mas não achava! Tudo muito
refinado. Mas como me encantava caminhar por volta da praça!! Aqui há muitas
construções muito muito lindas. E o clima da cidade, embora agitado pela
movimentação dos comércios e pessoas, também conserva um ambiente agradável e
harmonioso. É incrível como aqui é exatamente como eu queria! E para me alegrar
ainda mais, comecei a encontrar os artistas de rua que tanto admiro. Marcou
minha mente a cena do pintor expondo bem na frente de uma porta gigante de
madeira da biblioteca principal e... ah que lindo, chegando no centro da praça
dois músicos tocando um instrumento que eu não conhecia. Ambos estavam sentados
no chão e um estava de saia e bata dançando em pé, parecia um pássaro. Muito
linda a cena e muito agradável o som que faziam. Irresistível, não me restou a
menor dúvida que eu sentaria em um banco para escutá-los. E olha, não é que o
banco que estava ao lado deles e com um grande espaço sobrando tinha um
cabeludinho lindo lendo um livro, haha. A cena estava muito bonita mesmo de se
ver, e lá estava eu sentada! Não é porque ele é bonito, mas estava muito
inspirador o garoto sentado lendo um livro com aquela paisagem linda que tem a
praça e aquela musicalidade maravilhosa que havia ali. Fiquei sentada por uns
cinco minutos imaginando como seria bom fazer um artesanato ali, ou ler um
livro também. Os músicos deram um intervalo e eu corri para casa para buscar
meu livro, já que não tinha material para o artesanato. Sobre vender os
trabalhos pelas ruas daqui, eu já havia perguntado para a dona da minha casa e
para o namorado dela e ambos me disseram que aqui é muito tranqüilo, que não há
muitas restrições. E me parece mesmo que não, pois todos vendiam suas obras com
a maior tranqüilidade. Mas, na falta do material, fui buscar o livro.
Aí, andando pelas ruas de volta
para casa (a essa altura já não estava me preocupando mais com o que fui fazer
na rua, afinal, tenho tempo!) passei em frente a uma loja de peças para
artesanato. Hum, estava me convidando! Em BH já tenho um monte de encomendas,
porque aqui também não posso ter? Além do mais, dentro da faculdade o pessoal
também vende tudo numa boa! Ah, uhuuu, oba, entrei para loja e comprei as peças
básicas. Mas para fazer o que mais gosto faltava uma peça chave que era o arco.
Tudo bem, comprei o que deu naquele momento (ficou muito baratinho, nem 20
reais) e depois me preocupava com o resto. Lembrei, para fazer o artesanato e
acender o incenso também era preciso um isqueiro. Fui comprar em uma vendinha
e.... um alfajor!!! Affi, sai para almoçar mas, queria a sobremesa primeiro! O
doce mais tradicional da Argentina me chamando? Sim, que venha! Comi meu
alfajor e fui voltar feliz para casa. Lembrei das frutas que era o que eu mais
estava a fim de ter na minha prateleira da geladeira e fui comprar. Quando fui
pesar a penca da banana para pagar, kkk, tinha gasto o dinheiro na loja de
artesanato. Assim, foi necessário tirar algumas bananas da penca para diminuir
o peso (aqui se faz assim) e aí voltei para casa. A idéia era pegar o livro, e
voltar para praça para almoçar e ler.
Fui perguntar para dona da casa
aonde tinha restaurante barato no centro, pra que? Haha Ela me disse que eu
tinha que cozinhar minha comida, que é muito caro se comer na rua e que toda
mulher tem que saber cozinhar. Resultado, ela me deu duas partes de aulas de
culinária, uma na hora do almoço e uma à noite. Tudo isso para me ensinar a
fazer arroz e legumes! Aiai. Pulo essa parte! Depois do almoço peguei meu livro
e fui para rua. O livro foi um presente lindo que minhas amigas me deram. Fala
sobre uma mulher que estava cansada de viver sua rotina tradicional e largou
tudo para viajar. Uma liberdade de estar consigo mesma! Demais, era tudo que eu
queria para o momento.
Quando fui para a rua, levei a
máquina e decidi tirar fotos de algumas ruas por aqui e do tal prédio que
gostei. Haha, não achava de jeito nenhum. Eu não estava perdida, pois
sabia tranquilamente como voltar para casa, mas não tinha idéia aonde foi parar a tal construção. Andei muito, muito, mas muito mesmo e de repente me aparece o tal
arco que eu precisava para fazer o artesanato. E esse arco é algo muito raro de
se encontrar assim. Fiquei sem acreditar! Ele também estava me chamando, não
era possível! Eu estava em um lugar totalmente fora do caminho que precisava
fazer e encontrei o arco! Oba! Comprei só quatro por enquanto porque ainda
preciso estudar a idéia, mas já fiquei tão feliz! Saindo da loja continuei
caminhando e descobri que eu tinha passado por um quarteirão do prédio que
queria! Enfim, achei, tirei a foto e fui para a praça. Mas... chuva à caminho!
Mesmo assim enfiei na cabeça que eu tinha que passar pela praça de novo, lendo
ou não lendo o livro.
Passando pela praça um Hare
Krishna me chamou para vender seus livros. Oh, eu tinha acabado de pregar uma
foto de Krishna no meu quarto, que veio junto com o incenso. Aí não teve jeito,
desenrolou o bate-papo. Um cara muito agradável e gentil! E ele entende
português, pois já viveu no Brasil e estava doido para praticar. Aí dei um stop
no portunhol, mesmo sabendo que tenho que evitar de fazer isso, mas conversamos
até em português. Foi ótimo! Aí me contentei em voltar para casa, até porque
parecia que a chuva ia chegar. Tirei umas fotinhas da praça e voltei!
À tarde a dona da casa pediu para
que eu ficasse por aqui, pois receberia uma pretendente a ser nova moradora (há um quarto livre no segundo andar) e ela queria que a gente se
conhecesse. Baita coincidência! Eu havia combinado de sair com minha amiga
americana Laura hoje à noite e ela disse que levaria uma amiga. E não era a
mesma que foi conhecer minha casa para morar? A gente não se conhecia, mas nosso encontro para
sairmos juntas à noite já estava marcado. Mas, antes disso nos conhecemos aqui mesmo. Ficamos sem acreditar! E Melyssa decidiu que irá mesmo morar
com a gente, vem para cá na segunda. Oba! Já é muito bom ter David, e ter a
Melyssa também será excelente! Vamos passar a ir juntas para aula, mas lá vamos
nos separar porque estou no nível 1 e ela no 3.
Bom, à noite fui me preparar para
sair com Melyssa, Laura e com o Heth, que eu havia conhecido da minha sala e
havia o chamado para se agregar com a gente. Aí recebi um recado muito
carinhoso da Laura me avisando que as meninas decidiram sair muito bem
vestidas, porque aqui se veste assim! Achei uma graça a preocupação dela em me
avisar, muito atenciosa! E ela já devia ter percebido que eu não tenho cara pra
essas coisas e preferiu me avisar. Haha. Não me importei nenhum pouquinho em sair
com meu jeans básico e blusa indiana. E durante à noite tudo que pensei foi,
que bom que estou confortável! Fomos primeiro ao bar que se chama Milk. É um
bar fechado, escuro, com músicas de boates (embora todos fiquem sentados) e
muito muito caro. Claro que eu não ficaria lá por muito tempo, mas por minha
sorte ninguém se sentiu bem ali e fomos para o bar DadaMini. Aí sim! Um bar
colorido, com grafites, bandeirinhas, muita gente informal e músicas boas,
rock, reggae, adorei!! Estava ótimo, muito tranquilo e agradável, mas como o
espanhol estava um pouco difícil para todos, ficamos um pouco sem assunto e
logo cedo saímos de lá. Demos uma passadinha em uma casa de dança onde algumas
pessoas bailavam tango, mas só olhamos um pouquinho e voltamos para casa.
Terminei meu dia alegre, bem, e
LEVE!
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