No alto da montanha...

No alto da montanha...
Capilla del Monte - Cerro Uritorco - Argentina

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

E tem Carnaval aqui também!!!!

Minha empolgação com o carnaval começou no sábado à noite, quando antes de voltar para casa resolvi dar uma passadinha pela feira de artesanatos (só para não perder o costume, rs). Passava por entre as barracas um grupo de Candombe tocando os seus tambores sagrados e convidando o povo para a festa. Nossa, que alegria que eu fiquei de escutar aquela vibração. Eu estava com uma garota que conheci no templo no dia anterior e ela havia me informado que no domingo haveria a festança, mas o que não imaginávamos é que nesse mesmo dia íamos nos encontrar com o cortejo. A passagem foi rapidinha e eles se foram...

No domingo (24/02) convidei os hermanos para irem comigo ao Carnaval e felizmente eles toparam. David ficou por pouco tempo e foi embora. Ah... mas eu e Melyssa.... curtimos ao extremo, até o último minuto! Dançamos por exatamente seis horas ininterruptas!

O Carnaval é uma festa popular, mas aqui por algum motivo me pareceu ainda mais do povo, no sentido literal da palavra. As festas aconteceram em alguns fins de semana, em bairros fora da região central. O evento foi realizado nas ruas e com a maior simplicidade nas decorações. Talvez seja essa simplicidade que o deixou ainda mais bonito. Era possível se perceber que todo o cenário era montado pelo povo, pela comunidade. E os foliões estavam em total entrega ao momento. Todos conectados com a musicalidade, todos envolvidos com o som e se embalando no ritmo das danças. As danças eram próprias, cada um criava a sua sem a menor preocupação em saber ou não dançar. Aliás, me parecia que não existia essa idéia de saber ou não saber, todos estavam muito à vontade para soltar o corpo como quisessem.

Fiquei realmente encantada em ver Melyssa dançando. Gente, nunca imaginei que uma estadosunidense pudesse se soltar tanto! Ah e eu também sambei até doer o pé. No Brasil não sambo nunca, em terra de brasileiro eu sou o maior desajeito para sambar, principalmente por não ter ritmo nenhum. Mas aqui... ah sambei por todo o tempo! Rsrs Vergonha para que? Quando percebi já tinha era uma mão me puxando para sambar dentro da roda de tambores e lá estava eu, que delícia! A energia no centro é ainda mais forte. Levei a Melyssa lá pra dentro também e ali nos juntamos aos outros. Para mim era um pedacinho de Brasil aqui, é como as festas que mais gosto de ir. Para Melyssa era novidade, descoberta e encantamento total, muito bacana a felicidade dela!

O Carnaval foi iniciado com um cortejo do Candombe, depois uma apresentação de Murga, depois outra de tambores, uma de reggae e uma de Quarteto. Ao fim um grupo de músicos e artistas de rua fizeram uma roda com apresentações circenses e tocaram Cumbia.

Como aqui estou de férias das pesquisas, aqui vão algumas citações, não sei se muito confiáveis:

Candombe no Carnaval de Córdoba
“O candombe teria surgido no Uruguai, ainda no século XVIII, a partir da mistura dos ritmos africanos trazidos ao Rio da Prata pelos escravos. A partir de 1750, com o início do tráfico de escravos para o Uruguai, então colônia espanhola, Montevidéu passou a receber levas contínuas de africanos de diversas regiões, sobretudo da África Oriental e Equatorial. (...). O termo candombe, a princípio, referia-se genericamente às danças praticadas pelos negros no Uruguai. Com o tempo, passou a designar o ritmo musical, calcado sobretudo nos tambores - chamados de tangó ou tambó, nome também usado para designar o lugar onde realizavam suas candomberas e a própria dança. Essas manifestações culturais à céu aberto chegaram a ser reprimidas pelas autoridades no século XIX, e por muito tempo foram realizadas apenas em ambientes fechados, em clubes secretos organizados pelos africanos e afrodescendentes.”

Existem manifestações de Candombe no Brasil, Argentina e com maior expressão no Uruguai. No Brasil pode ser visto com maior força no estado de Minas Gerais, onde está vinculado ao caráter religioso e os ritos, em muitos casos, são realizados de forma restrita apenas para os participantes. Na Argentina os grupos se apresentam com os seus tambores em festas abertas a toda a população.   

Murga no Carnaval de Córdoba
Murga é um ritmo musical e uma manifestação cultural popular presente em diversos países de origem espanhola. O ritmo musical teria surgido em 1906, quando chegou ao Uruguai uma companhia de zarzuela cujos componentes formaram um agrupamento ao qual chamaram La Gaditana e desfilaram pelas ruas de Montevidéu para cantar, dançar e arrecadar dinheiro para as apresentações da companhia. (...) Atualmente, é manifestação presente no carnaval de diversas cidades espanholas, uruguaias, chilenas e argentinas.(...).A murga é executada basicamente com instrumentos de percussão (bombo, redoblante e platillos de entrechoque). No que tange às vestimentas, a murga recebeu influências do Carnaval de Veneza e da Comedia dell'arte, da qual manteve figuras como o Momo, o Pierrot e a Colombina.” Vale destacar que a Murga também realiza, de forma divertida, as suas apresentação com temas relacionados aos problemas sociais.

Quarteto no Carnaval de Córdoba
“O quarteto é um gênero de música popular de Córdoba ( Argentina ), caracterizada por uma taxa movido e tropical , ouvido em toda a Argentina e alguns países sul-americanos. Desde a sua criação no início dos anos quarenta era dançada apenas pela classe trabalhadora, e desprezado pelas classes média e alta. Na década de noventa, o gênero se tornou mais popular em toda a Argentina e não foi mais ouvido apenas pelas classes mais baixas, mas também por um grande segmento da população, independentemente de classe.


Callejeros tocando Cúmbia no Carnaval de Córdoba
Cúmbia é a música típica nacional da Colômbia. De início, surgiu nos guetos das grandes cidades colombianas, sendo que até hoje é uma categoria popular da música. O ritmo se disseminou por todos ou quase todos países falantes do castelhano na América Latina. Atualmente é considerado o ritmo musical mais popular da Argentina e de outros países vizinhos. A palavra cúmbia vem de cumbé, que significa festa. É originaria da parte alta do vale do río Magdalena (Colômbia) (...). Os africanos que chegaram como escravos a estas regiões, ao contar a história de seus grupos étnicos e aqueles feitos famosos dignos de guardar na memória, se serviam de certos cantos que distinguiam com o nome de "areítos" que queria dizer, "bailar cantando": Pondo no alto as candeias, levavam o coreo, que era como a lição histórica que, depois de ser ouvida e repetida muitas vezes, ficavam na memória de todos os ouvintes.”

Penso que as fotos descrevem melhor do que qualquer palavra o que é o Carnaval de Córdoba. Ah.... como me diverti nesse domingo! Me senti em casa, aliás, me senti nas ruas que eu adoro estar! Nas ruas dos povos coloridos....




















domingo, 24 de fevereiro de 2013

Um dia de Luz...

(23/02/13)

Em BH eu tive que escolher entre ir ao Ananda Marga e ao templo Hare Krishna porque ambos se reúnem no mesmo dia e horário. Hoje, aqui, consegui fazer os dois e foi muito bom! Em BH comecei ir ao templo com dezoito anos, quando então me encantei com tantas cores e alegria. Tudo me fascinava, as palavras, as roupas, as danças e os mantras. Dentro do templo sempre me senti conectada com grande paz e harmonia. Mas a devoção à Krishna da forma como eu percebia, embora admire, não está totalmente de acordo com os meus pensamentos. Assim, minhas idas esporádicas sempre foram apenas como uma carga de energias e como um momento de aprendizado sobre as belas palavras que são ditas.

Em minhas buscas pelos caminhos espirituais encontrei o Ananda Marga e me encantei desde as primeiras palavras do meu Dada (guia espiritual). Quando ele me disse: “aqui não procuramos Deus no céu e sim dentro de cada um de nós” foi como as palavras chaves para me “segurar” ali. Na apresentação sobre a organização, tudo que o Dada dizia se encaixava perfeitamente com os meus pensamentos e intenções. Eu sentia a todo tempo que aquele lugar deveria fazer parte da minha vida. No Ananda Marga aprendi que tudo é amor divino, tudo é Consciência Cósmica e somos todos conectados ao Ser Supremo. Tudo é Amor Divino, Baba Nam Kevalam! Assim, em minhas primeiras semanas de meditação eu era capaz de sentir vida nas pedras, nas árvores, no chão, no céu, no sol, na chuva. Fui capaz de amar aos outros com uma sensibilidade inexplicável, amar aos outros e as coisas. Mas o caminho da meditação é duro, exige muita disciplina e foco. E eis aí minha dificuldade, nunca consegui ser disciplinada, ter rotinas certas. A meditação duas vezes diárias e às restrições a algumas coisas para se conseguir sentir o resultado da meditação Margii acabou me fazendo perder um pouco do caminho. E assim, ir à jágrit (centro de meditação) acabou sendo também um momento de purificação da alma e absorção de forças. Mas senti que ainda não estava preparada para ser uma Margii em total entrega.

E hoje foi um dia lindo. Como conheci a jágrit daqui nesta segunda-feira, fui convidada para um almoço com o grupo. E fui! Lá eu não conhecia bem as pessoas e não conseguia conversar muito. O espanhol quando conversado entre cordobeses me parece quase impossível de ser compreendido. Mas o Dada daqui estava presente no almoço e estar ao lado de um Dada sempre me traz uma felicidade tão grande que não preciso muito mais do que simplesmente estar sentado por perto deles. Na verdade isso acontece principalmente com o meu “mestre”, mas com o daqui também pude sentir boas vibrações. Só não consegui sentir muito bem no momento da meditação. Ahh... a coluna doía tanto que parecia que ia explodir. E as formiguinhas na perna então, nem se fala! E as dores me faziam ter a certeza que tenho que escolher entre praticar ou não. Não dá para ficar em cima da corda. Ou tenho que praticar todos os dias ou as dores vão me impedir de sentir as boas energias das práticas coletivas nas jágrits. Assim, com a cabeça voltada o tempo todo para as dores, não pude me conectar ao Baba Nam Kevalam. Mas o encontro foi ótimo e é impossível não comentar que a comida estava excelente. Ah que saudade que eu estava de comer uma comida de verdade!
Tive que sair mais cedo que o restante do grupo porque eu tinha outro compromisso.

Às 18:00h fui para uma reunião no “mini templo” Hare Krishna que o Hare da Plaza San Martín havia me convidado. O espaço na casa onde ele, Mathura Raj, vive. Quando cheguei fiquei surpresa com a quantidade de pessoas que haviam se reunido ali para ouvir as palavras e os mantras. Achei mesmo muito impressionante como havia tantas pessoas interessadas. Em BH também sempre está lotado, mas lá existe um grande templo com um número muito extenso de devotos. E aqui não é um templo real e sim um espaço dedicado a essas atividades e me parecia que muitas pessoas estavam indo para conhecer o movimento. Mais uma vez estava eu me sentindo conectada àquele meio, um pouco como em BH, mas ainda mais leve e menos presa às críticas. Aliás, ali não havia nada que eu quisesse criticar. Tudo realmente estava muito bom para mim.

Mathura Raj nos conduziu a perguntas como: “Estou realmente feliz? Estou satisfeito com o que estou fazendo hoje? Estou contente com o meu trabalho? O que eu gostaria de estar fazendo agora?”. Essas perguntas foram feitas enquanto estávamos em meditação com os olhos fechados e a mão no coração. Eu até belisquei meu coração, ah... mas ele não quis me responder não. Vi que tem muitas perguntas que eu ainda não sei responder e me foi muito importante despertar para isso! Ele também disse que quando estamos fazendo o que realmente gostaríamos de fazer, estamos nos conectando com Deus. Gostei muito de ter escutado esse pensamento. Às vezes é como me sinto quando estou em meio à natureza. Gosto tanto de me sentar sem ter que fazer mais nada, e esse é mesmo um momento em que me conecto com as forças divinas.


Tudo estava sendo muito bom para mim. As palavras, na seqüência as músicas instrumentais, o Maha Mantra Hare Krishna cantado com a sintonia da devoção de Mathura Raj. Mas teve um momento especial e difícil de ser descrito em palavras. Foi quando Mathura disse que ia tocar um mantra em especial para uma brasileira que havia conhecido à poucos dias e que havia lhe contado que sente uma emoção muito forte com esse mantra. Era meu mantra favorito ali, era Jaya Radha Madavha cantado e tocado para todos, mas também para mim. Simplesmente inexplicável! Eu nunca havia escutado esse mantra dentro de um templo. Eu havia o encontrado em minhas buscas pessoais e havia me apaixonado por ele. E ali, parecia que Krishna conversava comigo. Eu não sabia o que estava sentindo, mas percebia meus olhos despistadamente lacrimejando, ao mesmo tempo que o sorriso nascia. Eu fechava os olhos e via perfeitamente uma cena. Era um filme que se passava claro em minha mente, também era real! Assim como sugere o mantra, eu via Krishna caminhando pelos bosques, eu o via por perto das montanhas, das cachoeiras. Ele estava tocando sua flauta, não caminhava, mas sim saltava e bailava. Ele tocava para o sol que estava irradiante e tocava para as quedas d’água. O som de sua flauta era também para os pássaros que voavam ao seu redor. E depois chegou Rhada, então bailavam juntos e cantavam. Era colorido, era vivo, era suave. Era a maior expressão do amor!




Foram mais algumas horas sentada sem encosto, assim como na meditação realizada durante o dia minha coluna doía, minha perna tinha câimbras, mas eu não queria sair dali! Não queria que aquele momento tivesse um fim.




"jaya rādhā-mādhava kuñja-bihārī
gopī-jana-vallabha giri-vara-dhārī
yaśodā-nandana braja-jana-rañjana
yāmuna-tīra-vana-cārī"


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Um sopro, um terremoto. Um livro, uma flor. E pizza!


Pela manhã enrolei muito. Podia ter produzido muito mais, mas fiz muita hora até chagar o almoço. Mas assim que acordei tive uma conversa com meu pai via skype que me foi muito importante. Ele me pareceu muito preocupado por saber que a minha classe de espanhol está em um nível diferente do meu. Assim, sugeriu algumas coisas como conversar com a professora, tentar mudar de turma e também, entre as sugestões, rapidamente perguntou se haveria a possibilidade da universidade me devolver o dinheiro, caso eu cancelasse o curso. Eu logo respondi que não quero desistir, que há muitas coisas que não aprendo porque não é ensinado, mas que o que é aplicado eu tenho conseguido acompanhar. Então, mudamos de assunto e matamos um pouco da saudade.

Depois de muita preguiça no quarto e de um belo banho fui comer minha comidinha, igual de todos os dias (acho que tenho que criar algo novo). Nesse processo de quarto e cozinha minha cabeça deu um giro de 360º. Parece que as palavras leves do meu pai foram um sopro que, positivamente, causaram um terremoto na minha mente e me fizeram mudar de idéia totalmente. Tum, tum, tum... era minha mente trabalhando à mil. Comecei a pensar um milhão de coisas sobre a universidade. Curricularmente falando, será excelente se concluo meu estudo de línguas através desta instituição. Mas em momento algum esse foi o meu objetivo quando vim para aqui e por esse motivo, a todo tempo, digo que não estou preocupada com notas e com o diploma oferecido depois do teste final. Também sempre repito, por aqui, que estou aprendendo muito mais o espanhol conversando em casa e nas ruas do que na escola. Então pensei: “o quê que eu estou fazendo lá?” Não tenho dúvidas que quero muito aprender o idioma, o espanhol me encanta demais e quero sim conseguir. Mas porque estou pagando tão caro por esse ensino na universidade se não tenho o retorno que necessito. Quando me inscrevi o programa propunha uma coisa e estão oferecendo outra. E porque estou lá? Será que é porque não quero desistir? Mas sair da universidade não significa desistir, somente mudar de plano! Como eu não tinha me dado conta disso? Na verdade para quase tudo que faço tenho um plano a, b e um c. Aqui eu estou tão centrada na idéia de não fazer muitos planos que esqueci que posso criar um plano b.

Refletindo, percebi que posso sim acompanhar as aulas e que a professora é mesmo muito solicita a me ajudar com minhas dúvidas. Mas estou inserida em uma situação que não é a que busquei. Na verdade isso inclui tudo (da universidade), a aula, o ambiente e por aí vai. Lá sou um peixe fora d’água, totalmente. Sinto-me mesmo muito mais contente quando estou aprendendo palavras novas com meus hermanos ou com o povo que eu saio tagarelando por aí. Não quero apenas tagarelar, quero aprender a falar direito, então a rua e a casa não são o suficiente, mas a universidade talvez não seja tão necessária quanto eu pensei. Enfim, almocei e decidi ir ao programa tentar alguma forma de ter uma devolução parcial do meu dinheiro e ir em busca de um bom professor particular. Com a grana que paguei no curso é possível fazer muitas aulas somente entre eu e o professor, com a atenção voltada para meu aprendizado, assim penso que posso aprender muito mais.

Nossa, pensar isso tudo em pouco tempo era mesmo um furacão. Parecia uma reviravolta no que eu estava visualizando para um mês. Nunca gosto de tomar decisões imediatas, mas a certeza estava batendo tão forte em mim que saí logo a caminhar em direção ao curso. Percorri meus trinta minutos de caminhada como um trem bala, doida para virar os planos pelo avesso. Aí.... cheguei na universidade e o programa estava fechado! Toim, toim, toim. Murchei, literalmente. Eu não tenho aulas na sexta, mas daí imaginar que o povo não trabalhava era demais. Voltei para casa como uma flor murcha. Murcha de frustração e de calor.

O sol aqui voltou e tudo que eu queria fazer era tirar a calça jeans. Não sei o que ocorreu, mas aqui tive uma briga séria com as calças jeans. Nós não estamos nos entendendo bem. Na verdade aqui dei um pause em muitas coisas, como nos esmaltes, nas maquiagens (que nunca usei muito mesmo, mas agora menos ainda), nos sapatos incômodos, em fazer as sobrancelhas e por aí vai. Aliás, antes mesmo de viajar resolvi doar metade do meu guarda roupas. Aquele mundão de coisas amontoadas não estava fazendo muito sentido para mim.

Um parênteses para uma parte do meu Presente do Mar, que acabo de me lembrar:
“Em primeiro lugar, devemos aprender a arte do desapego; podemos viver com tão pouco! Começamos pelo desapego físico, que depois se propaga misteriosamente para outras áreas. Primeiro as roupas. Certamente precisamos de menos roupas sob o sol. Mas, de repente, descobrimos que precisamos de menos roupas em qualquer situação. Não precisamos de um armário cheio, apenas de uma mala pequena.” (Lindbergh)

Bom, voltei para casa e coloquei uma saia de pano bem confortável, coloquei meu material do filtro na minha bolsa e meu livro e fui para o lugar que tanto gosto. Percebi que estava muito ansiosa e criando muitas expectativas com a minha mudança de idéias e uma das coisas que tenho aprendido é o quanto as expectativas fazem mal. Assim, eu precisava de fazer algo para trabalhar a mente, precisava canalizar minha energia de terremoto em outra coisa.

Fui para a Plaza San Martín “artesanar”. Chegando lá percebi que a cabeça bagunçada havia esquecido da parte mais importante do material para trás. Estava então partindo para o plano b. Acho que pode ser válido ter lembrado um pouquinho de fazer isso, o meu livro estava na bolsa como uma segunda opção de distração. No caminho para o agradável banquinho de madeira, um pouquinho de prosa com o amigo Hare. Na verdade um pouquinho nada, sua simpatia me fez atrapalhar o serviço dele e a minha passagem por ali virou um bom tempinho de prosa. Enfim, cheguei ao banquinho. Mas o sol estava escaldante e não deu para ficar por muito tempo, apenas um capítulo do livro.

Enquanto lia me divertia com uma moça que estava falando sozinha. Acho que ela estava treinando para ser guia turístico e ficava ensaiando, falando e gesticulando sozinha segurando alguns papéis em meio à praça. Isso podia ter passado batido em outro momento, mas naquele meu momento de sentir a praça, estava como uma coisa divertidíssima. É, foi mais ou menos isso mesmo, no tempo que fiquei por ali comecei a perceber as coisas com mais atenção. Enquanto eu lia, uma florzinha caiu no meu livro e eu, no ritmo da vida acelerada, logo dei um batidinha pra ela sair das letras do livro. Nossa, quando me dei conta disso fiquei tão espantada! Havia caído uma flor no meu livro e eu não observei como era, qual era sua cor, sua forma. Simplesmente empurrei. Isso soou estranho para mim. Assim, quando a segunda flor caiu, escorregou direto ao chão, mas imediatamente quis buscá-la. Observei, vi sua beleza e senti como ela fazia parte de tudo aquilo que estava ao meu redor. Assim, quando sai da praça levei um pedacinho daquele lugar comigo na minha bolsa de tear.

Enquanto sentava, lia, pensava, sentia a praça e refletia sobre meus objetivos. Talvez seja mesmo o vício dos planos voltando. Vi que quero pular na piscina de bolinhas aqui. Quero dar um salto em meio às bolinhas coloridas cheias de vida e alegria. Por isso quero tanto ir para um hostel onde eu possa dar muitas gargalhadas e conhecer muitas pessoas, companhias para novos lugares, passeios e por aí vai. Mas ascendeu também em mim a grande vontade de depois ter o meu tempo de afastamento. Já vim para cá com a idéia de passar uns dias no vilarejo San Marcos de las Sierras, que fica próximo às montanhas daqui. Mas hoje essa vontade cresceu ainda mais. Fiquei pensando que tenho tantos vícios, hábitos que quero mudar. E penso que para isso seria bom um tempo afastada. Há uns meses eu vinha buscando um nome para o “meu ser” e um dia, em meio a uma terapia, escutei que sou muito intensa. Esse foi o nome que então percebi que mais se identificava comigo, intensidade! Sou muito entregue às coisas e aos meus sentimentos, desenfreadamente. Se talvez essa for minha essência, não quero mudá-la, mas quero saber como usá-la melhor e espero que uns dias em meio às montanhas possam acalmar minhas inquietudes intensas. Mas isso são planos para me assegurar depois...

À noite uma pizza em casa com os hermanos, com um bom tempero e um bom bate-papo. Depois... cama!

Quinta com cara de sexta

(21/02/13)

Meu primeiro dia de atividade valendo nota! Isso não me afetou, haha. Não estava tensa com a situação e usei a tal da apresentação oral avaliativa como forma de divulgação das popularidades brasileiras e das minhas artesanias. Deu super certo!

Quando cheguei à sala de aula a professora ainda não estava lá. Minhas bugigangas estavam todas penduradas na mochila e logo aproveitei para falar para os colegas de classe que eu vendia artesanato e que se quisessem podiam ver. Dois vendidos no mesmo instante! Oba! A minha apresentação foi a última, pois seguia-se a ordem das cadeiras. A professora pediu para levarmos fotos de coisas relacionadas ao nosso cotidiano para apresentar. Levei fotos vinculadas ao meu cotidiano de trabalho, com a intenção de que as pessoas pudessem conhecer um pouquinho de Minas também. Assim, uma foto de um povoado, de uma igreja e de uma festa com fanfarra.  Também mostrei fotos de BH e da feira hippie. Depois, para falar sobre o que eu gostava, uma foto de cachoeira, de samba de roda e de um grupo de música da Bahia. Depois entraram as pessoas, uma foto com minhas cinco super amigas Déborah, Paulinha, Larissa, Nana e Jú. Eu disse que são minhas amigas irmãs, que estamos sempre juntas! Depois foto da minha avó e a Nessa, pessoas com que vivo e amo muitão, depois fotos dos pais, irmãos e sobrinhas, que deixei bem claro que embora não moramos juntos, somos muito unidos. Quando eu falava sobre meus irmão, que dois são filhos da minha mãe e uma é filha do meu pai, a professora disse que aqui se diz que eles sãos meus meio irmãos, porque não são filhos do mesmo pai e mãe que eu. Aí, como ação e reação, respondi instantaneamente que isso só aqui, porque: “Ellos no son mis medios hermanos, pero mis hermanos enteros!”, rsrs. Aí depois de apresentar tudo isso eu expliquei que estou aqui por gosto e não por um vínculo com universidade ou trabalho e que aqui eu era artesã! Ótimo, mostrei de novo o trabalho e a professora adorou. Disse que na segunda-feira compra um e que vai indicar para suas amigas de trabalho.

Sobre as outras apresentações, fiquei muito surpresa como a vida dos estadosunidenses é mesmo igualzinha ao que se aparece nos filmes. Todos diziam que amam muito sua universidade, uma chegou a dizer que a universidade é como sua família, a outra usa um anel de ouro com a inicial do nome da escola. Eu só pensava: “Meu Deus, e eu não estou nem aí para a minha!”. Uma coisa é amar o curso que faz, outra é ser tão apegado à instituição! Mas, cada um com seu costume. E as fotos das universidades também são iguais as dos filmes, aqueles prédio imensos, impressionante! Outra semelhança nas apresentações é que a maioria deles tem famílias que trabalham com fazendas, também como nos cinemas!

Durante o intervalo eu queria tentar vender os outros filtros, mas acabei sentando para almoçar com uma garota da minha sala e fiquei tão impressionada com as coisas que ela me contava que não deu para ir “ao trabalho”. Foi um choque para mim ouvir sobre algumas coisas relacionadas ao cotidiano da vida nos Estados Unidos. Foi um choque e um aprendizado. Ouvi coisas que jamais imaginei e que despertou um monstro de indignação dentro de mim. Lembrava a todo tempo do que aprendi com a antropologia, sobre o olhar do outro que está de fora. Não posso opinar sobre uma cultura com a visão vinculada ao cotidiano da minha cultura. Não posso argumentar sobre o que se vive em um meio através do ponto de vista do meu ambiente. Então, não sabia o que falar sobre tudo que escutava, também porque tudo que eu pensava era muito forte e passar para o espanhol seria muito complicado. Foi uma conversa dura para mim, mas um aprendizado sobre o que está além dos meus olhos.

Depois da aula resolvi desviar do meu caminho para ver como estava a venda de artesanato pelas ruas. Realmente ao lado do shopping havia uma galera vendendo seus trabalhos. Passei entre eles, mas não sabia o que dizer, rs, e uma das garotas me chamou pois queria ver meu brinco. Foi uma boa abertura para eu começar a conversar com eles sobre o cotidiano ali. Eles disseram que aqui quando os guardas chegam todo mundo guarda tudo e vai embora, sem maiores problemas. Então eu disse que talvez me junte a eles depois. Mas por enquanto estou tentando organizar meus dias.

Quando voltei para casa estavam todos, hermanos e a dona, sentados à mesa tomando café. Então, em meio às conversas, soltei sem querer minhas novas idéias. Acho que deviam ter ficado guardadas para mim! Estou pensando que quero muito viver aqui por ao menos mais um mês após o término das aulas. Estou mesmo encantada por essa cidade e viver aqui por mais um tempo me parece uma coisa fundamental. Assim, estou trabalhando duas idéias na minha mente, uma de trabalhar em um hostel e em troca receber a moradia. É complicado porque se trabalha muito e não recebe dinheiro, só o dormitório com mais um tanto de gente. Mas por outro lado, penso que às vezes é isso mesmo que estou querendo. Um hostel é mesmo uma idéia muito chamativa para mim, um lugar onde estou cheia de pessoas novas e onde posso praticar muito o idioma. Outra idéia é a de mudar para um hostel e tentar um trabalho voluntário em um museu. Seria excelente para meu currículo, muito bom mesmo. Mas aí teria que ter mais despesa com hospedagem e não sei se estou muito a fim de me preocupar com o currículo agora. Bom, vou pensando na idéia. Mas o que estou certa é que eu não deveria ter falado isso na mesa do café. Era só um bate papo e acabou se tornando uma pressão esse assunto para mim. Tive que dar mil respostas sobre coisas que ainda não sei, como: “mas o que você quer afinal?” Eu não seiiiii! Só estou pensando! Agora tem gente a fim de me ajudar e de fazer tudo para mim, conseguir um lugar para eu viver, conseguir um lugar para eu trabalhar, mas eu não quero isso. muito amável, mas quero fazer minhas coisas por mim mesma, no máximo uma ajuda e umas dicas, mas fazer para mim, isso não! Vou tentar dar um jeito de abafar esse assunto por aqui.

Depois da conversa pesada me deu uma baita dor de cabeça e mal humor e resolvi dormir. Demorei muito, mas dormi. Havia combinado de sair às 22h com os hermanos e então logo acordei para pensarmos aonde ir. Acabou que David desistiu e fomos eu e Melyssa sair pelas ruas procurando um lugar legal. Ótimo, Melyssa já entendeu muito bem do que gosto. Sou mesmo restritiva, isso não é legal, mas não gosto mesmo de qualquer coisa. Para mim o ambiente tem que ser barato, agradável e aberto. Essas são minhas “exigências” quando saio. Não gosto de ser implicante, mas também não vou a lugares que não me interessa. E Melyssa é uma fofa, para ela tudo está realmente muito bom. É uma pessoa muito fácil de se adaptar às coisas. Então, ela deixou para eu ir conduzindo o passeio. Tínhamos o objetivo de ir pra uma rua dar uma olhadinha como estava o ambiente, mas antes de chegarmos lá achamos um bar com mesinhas na rua que tocava um bom rock’n roll. Lá não tinha o que comer e eu estava com fome. Caminhamos alguns passos e paramos em outro bar que se vendiam vários tipos de “empanadas”e que também tinha mesinhas na rua. Paguei cinco reais para comer uns salgadinhos deliciosos. Depois voltamos para o bar do rock e lá conversamos bastante e tomamos um bom Fernet. Um para as duas, rs. Depois seguimos caminhando para ver o movimento e encontramos duas garotas da minha sala. Elas estavam meio bêbedas e estavam engraçadas. Estavam indo para uma sorveteria e as acompanhamos. Hum, o sorvete daqui é maravilhoso, mas é enorme. Acho que tenho que caminhar um mês para perder as calorias que consumi. Depois de me deliciar com o meu “helado”, voltamos para a casa.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Uh, feriado!!! Estudo, cozinha, trabalho e boa música

Hoje é feriado de ninguém sabe o quê aqui! Rs Perguntei para um tanto de gente e tudo que interessava à todos, é que é feriado! Tudo bem, não vou preocupar-me também. Aqui as pessoas não se preocupam muito com muitas coisas e estou fazendo de tudo para entrar no ritmo. Ah, como é bom! Rs Não se lavam legumes antes de cozinhar, não usam bucha para lavar as louças, bebem água da pia da cozinha e ninguém morreu por isso até hoje, acredito que também não irei, então resolvi relaxar com essas coisas. A única boa que ainda não consegui entrar nela foi a tal da “sesta” que é o longo cochilo depois do almoço, inclusive muitos comércios aqui se fecham no horário da “sesta”. Queria demais fazer isso, mas não tem me sobrado muito tempo. Aliás, tenho ficado muito tempo em casa, mas sempre fazendo algo e não dormindo! E assim foi também meu feriado.

Bom, acordei e fui fazer meu dever de casa. Depois resolvi ir cozinhar meu almoço de hoje e para a quentinha de amanhã. Enquanto cozinhava desastrosamente, percebi que Melyssa e David não tinham comida para fazer, então, quando já estava quase tudo pronto, resolvi começar tudo de novo para dobrar a quantidade. Foi ótimo! Almoçamos juntos em casa e isso rendeu muitas horas juntos na sala durante toda à tarde. Aliás, toda a tarde não, porque só o tempo da cozinha me custou muitas horas, afinal, eu cozinhando sou uma belezura. Depois do almoço os dois ficaram estudando na mesa e eu sentei ao lado para fazer mais alguns filtros do sonho e pulseiras. Parece que isso vira mesmo um vício. Eu tinha que sair às 17h e já eram 19h e eu ainda estava “artesanando” e não queria parar! Melyssa gostou muito e já fez algumas encomendas. Fico realmente feliz em saber que as pessoas estão achando o trabalho bonito! Nossa tarde em hermanos foi excelente, parecia que já vivíamos juntos há muito mais tempo.

Ontem eu combinei de ir encontrar hoje com um garoto. A história é a seguinte, tenho uma amiga de BH, Laura, que tem um amigo argentino. Ela me passou o contato dele para ele me dar umas dicas de viagem por aqui. Assim, escrevi para ele e recebi uma resposta muito simpática com alguns textos e umas fotos. Havia poucos dias que Gaston havia passado por Córdoba e então conheceu uns garotos que vivem em uns Hostels daqui. Logo, Gaston me passou o contato destes garotos, que segundo ele, foram excelentes companhias aqui. Assim, hoje depois da minha longa tarde com os hermanos fui me encontrar com um desses garotos em seu hostel. Muito bacana o lugar. Lá havia uma italiana que está aqui por poucos dias. Fomos os três a um bar bem agradável com músicas argentinas. Antes de chegarmos, passamos por uma manifestação em frente ao shopping principal da cidade. Eu adorei o cenário! Ao lado do shopping vários artesãos pela rua e em frente, em uma praça, uma galera bem grande de jovens curtindo uma boa música! A música era do grupo Callejeros e o protesto era a seu favor. Pelo que compreendi, há algum tempo houve um acidente em que uma boate de Buenos Aires pegou fogo, esta banda estava tocando e foi condenada pelo ocorrido e por este motivo os jovens hoje estavam fazendo a manifestação. Passamos por lá, mas seguimos para o bar onde ficamos por um tempinho conversando, comendo e bebendo uma cerveja. O encontro foi curto, mas agradável. Assustei-me um pouco com o jeito italiano e acho que a garota estava um pouco sem paciência com o meu desconhecimento de algumas palavras. Percebi isso principalmente quando ela me perguntou eufórica se eu sabia alguma outra língua em que podíamos conversar. Mas tudo bem, o garoto era o oposto, muito calmo, prestativo e simpático! Voltei para a casa caminhando e, como sempre, encantada pelas ruas daqui.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

E um sambinha na Plaza San Martín



Hoje fui para aula quase que arrastada, de tanto sono que sentia por causa da noite mal dormida. E essa noite ainda foi até melhor, consegui dormi de meias e edredon, coisa que estava com saudades de fazer. Mas como todos os outros dias, acordei por toda a madrugada. Fui caminhando com Melyssa para aula e acho que fui a pior hermana possível. Nosso primeiro dia juntas e eu mal consegui pensar, quanto menos conversar em espanhol. Mas ela estava na mesma soneira e me entendeu bem. Na aula, de novo a mesma história e acho que vai ser assim por todos os dias. Várias regras gramaticais foram ignoradas pela professora, porque “todos” já sabiam! Na hora do intervalo foi muito engraçado porque uma colega de sala se ofereceu para me ajudar, segundo ela porque quando me olha durante as aulas estou sempre com cara de “ham?!” rs. Expliquei pra ela que entendo a aula, mas acho que o que está sendo descartado é importante para que eu acompanhe o conteúdo e que consiga fazer os exercícios (isso está muito difícil). Assim ela se dispôs a me dar umas aulinhas quando eu quiser.

Mas na verdade... ah, tem hora que não dá vontade de querer não. Fico mesclando entre a vontade de estudar para valer para perder essa dificuldade que tenho e a vontade de apenas aprender o básico, o essencial para sobrevivência viajante, que é meu único objetivo. Sei lá o que quero, se quero aproveitar porque já estou aqui e essa é uma oportunidade ouro pra eu aprender bem, ou se quero ser a Kelly real que não gosta de estudar. Sou muito mais prática do que estudiosa. Gosto de fazer as coisas, por a mão na massa é comigo mesmo! Mas estudar confesso que nunca foi minha preferência. Se me colocam para trabalhar, aí beleza, dou até a minha última gota de suor para que o trabalho saia bem feito, mas ficar decorando regras gramaticais...

Depois da aula saí para fazer as compras básicas. O leite acabou e tinha que comprar coisas para cozinhar também, já que decidi levar a tal da quentinha pra aula. Aí deu no que dá sempre... hehe! Dei um milhão de voltas pelas ruas e acabei caminhando cerca de duas horas. Eu estava morta de cansada e um pouco nervosa com o ritmo da aula, tudo o que eu queria era dormir, até que cheguei na Plaza San Martín. Ah essa praça! Estou realmente muito encantada com este lugar! É um dos pontos onde me sinto melhor por aqui. Quando sento em um destes bancos alguma energia passa por mim e me sinto realmente feliz! Lá e em seu entorno se vê um pouco de tudo: camelôs, artesãos, jovens, idosos, muitas compras, pássaros, lojas, enfim, um agito de centro da cidade e ao mesmo tempo uma sutileza. Uma alegria nas pessoas que parecem sentir a brisa tocar seus rostos quando caminham pela Plaza. E também se vê a biblioteca municipal que é simplesmente fascinante. Sou maravilhada com sua fachada e posso imaginar como é belo seu interior, que não pude conhecer, pois quando cheguei faltavam apenas cinco minutos para fechar.

E hoje meu encontro com a praça foi um tanto quanto engraçado. Na verdade lá não era meu destino, mas de repente comecei a escutar o som de um sambão e, obviamente, tive que segui-lo. Caí na praça em meio a uma apresentação de uma mini escola de samba. Parecia um pedacinho de Brasil aqui. Mas só parecia um pouquinho na verdade, o som era o mesmo das baterias das escolas brasileiras, mas as dançarinas... rsrs Acho que o gingado das brasileiras (que eu não tenho) só as brasileiras mesmo viu?! Tem jeito não! Mas eu não sei bem o que era o grupo e o que estavam apresentando, talvez seja algo daqui.

Enfim, saí para comprar um leite e um arroz e fiquei duas horas caminhando pelas ruas encantadoras dessa cidade.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Uma segunda-feira!!


Hoje foi mesmo uma baita de uma segundona. O tempo aqui virou radicalmente e começou a fazer um friozinho. Não gosto de frio, mas estava um calor tão demasiado que estou até achando bom. Acordei cedo e morta de cansada. Minhas noites têm sido mesmo muito complicadas para dormir, não entendo o que está acontecendo. Durmo já pela madrugada, rolando na cama, e acordo por toda noite. Mas enfim, acordei e fui pra aula. A coisa já estava complicada na semana passada quando via que todos da sala sabiam falar e entender bem o espanhol. Pois é, agora a coisa só piorou! Muitos alunos disseram que queriam trocar para outro nível, que o da nossa classe era muito baixo para eles. Mas.... a professora achou melhor aumentar o nível da turma como um todo. O curso vai ter o título de básico, mas será perto do intermediário. Aiai! Quando ela deu essa notícia, falando: “todos aqui já estão muito avançados”, eu tive que mostrar que eu existo ué. Paguei caro também e não posso ser ignorada não, rs. Perguntei educadamente sobre o meu caso, como seria já que eu nunca estudei espanhol e entrei para o curso para aprender o básico. Mas ela disse que em geral todos os brasileiros acompanham muito bem. Não fiquei muito contente com esta situação, mas bola pra frente! Como diz minha amiga Déborah, “é o que tem pra hoje!” ficar reclamando para quê?! Agora tenho que dar um jeito de conseguir me adaptar ao meio. Bom, aula iniciada e até fiquei mais feliz. Eu consegui acompanhar tudo. Mas acompanho no sentido de entender tudo o que está sendo passado, mas muitas coisas não serão passadas porque todos já sabem. A galera está a fim de tirar uma boa nota no teste final e por isso querem avançar. Eu já desliguei desse botão do teste, não estou pressionada com ele não e estou tranqüila para tirar uma nota baixa, pois no meu caso acredito que não dará pra ser diferente.

Hoje almocei com outra aluna da sala e foi ótimo, conseguimos conversar por um tempão e nos compreendemos bem. No final da aula conheci duas brasileiras que são do mesmo programa, mas estão em outro nível. Bom demais ver gente como a gente! Hehe Fisicamente os americanos são tão diferentes de mim, que quando vi as brasileiras me senti em casa!

Depois da aula teve uma reunião. Voltei para casa morrendo de fome e fiquei procurando um lugar onde se vendia criollos (salgadinho típico daqui que ainda não conhecia) onde se pudesse comer sentado a uma mesa. Não achei e fui para casa preparar um sanduíche natural. Aí logo, por coincidência, Maria Rosa chegou com uns criollos. Oba! Matei a curiosidade, mas não são muito diferentes dos nossos salgadinhos assados brasileiros não. Na verdade ela havia comprado para gente, porque recebemos a Melyssa aqui na nossa casa hoje. Ótimo, agora temos mais uma integrante! Aqui todos chamam os membros de uma casa, estudantes, como hermanos e vivemos mesmo como irmãos, muito bacana!

Não pude receber Melyssa muito bem porque tinha um compromisso. Hoje se iniciou uma turma de meditação no Ananda Marga daqui (centro de meditação que vou em BH) e eu já havia marcado (comigo mesma, rs) de ir. Mas estava confusa como ia fazer para chegar até lá, porque é um pouco distante e teria que pegar um ônibus. Distante para o pessoal daqui é quando não se pode ir a pé. Aí vendo o meu embaraço e minha grande determinação em ir, Maria Rosa quis me levar e assim fui. Na jágrit (casa da meditação) foi um pouco diferente do que eu pensava, porque a programação não é como a de BH. Assim, me senti um pouco deslocada (embora fiquei bastante feliz porque o instrutor falou por uma hora seguida e eu entendi tudo! Rs).  Mas... (como já havia escrito) estou sempre cercada por boas pessoas e nada acontece por acaso! Não era à toa que eu estava ali! Antes de começar a meditação comecei a conversar com uma senhora que estava lá. Ela já freqüenta a jágrit há mais tempo. Aí em meio às conversas ela contou que tem uma filha que viaja o mundo vendendo artesanato e que agora está aqui em Córdoba. Aí eu disse que estava fazendo também, mas ainda não estava sabendo ao certo como é o esquema por aqui. Na mesma hora ela disse que é para eu me encontrar com a sua filha, que sem dúvidas ela vai me dar dicas e pode me ensinar a fazer coisas novas. Ual! Amei! Sem contar que a senhora era pura simpatia. Depois que terminamos a meditação, fui me informar como fazia para ir embora e ela muito simpática disse que estava de carro e me levaria. Haha. Isso sempre acontece na jágrit de BH. Sempre ganho caronas. É mesmo um costume espontâneo, um ajudar ao outro. Achei que a minha casa era no caminho dela e aceitei. Na verdade, ela deu uma volta gigante do seu caminho de casa só para me levar embora. E no carro falou que estava muito contente por poder conversar e ajudar uma pessoa de fora. E pareceu mesmo feliz! Contou-me que sua filha está grávida, que tem oito netos e por aí vai o portunhol funcionando. Trocamos contato para nos encontrarmos depois. Mais uma sorte a minha!

Chegando em casa todos nos reunimos para jantar, um espaguete servido pela dona da casa como boas vindas para Melyssa. Conversamos até tarde e lá pras 22:30h fui fazer meu dever de casa, e acabou a segundona!

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Um fim de semana vazio e cheio


Ao contrário do que se podia imaginar à primeira vista, esse fim de semana, que foi o meu primeiro, eu não fiz quase nada prático. Mas foram dois dias muito intensos, com muitas reflexões que preencheram grande parte do espaço livre que havia.

Sábado durante o dia conversei muito com amigos e familiares via internet. Grande parte do dia foi matando a saudade da galera. Devo aqui registrar, saindo da ordem cronológica, que muito me emocionou ao fim do dia ter recebido um e-mail da minha amada avó. A sensação me parecia a de ganhar um presente. Fiquei muito feliz por tê-lo recebido e muito contente com as palavras que me disse. Fiquei satisfeita porque ela me falou que estou me tornando uma coisa que eu gostaria muito de me tornar um dia. Assim, me deu ainda mais inspiração para investir no ideal! E também porque disse que estou cercada de anjos, e com suas doces palavras me sinto mais protegida e abençoada.

À noite fui à feira de artesanato com David e Melyssa que vai morar com a gente. Foi ótimo! A feira é linda, muito hippie e muito colorida. Em seu entorno existem muitos músicos de rua que tocam as músicas regionais e alegram o ambiente. Eles me deixaram fascinada pelo o que eu via e ouvia. Pessoas simples, com suas bagagens e bebês, vivendo ao mesmo tempo de forma suave e intensa. Ao lado da feira havia um bar, que no dia anterior eu já tinha passado por ele e me encantado, porque tocava reggae. Mas como eu estava com a turma que estava mais ligada em outro tipo de ambiente, eu deixei passar batido. Ah... mas nesse sábado!!! A feira estava muito inspiradora para se experimentar um bom ambiente. Não resisti e fiz o convite pros dois amigos irem para esse bar comigo. Nossa, que sorte a minha que toparam e que também se divertiram muito ali. Eles comeram um salgado muito tradicional aqui que se chama empanadas, que são como nossos pastéis assados. Só havia com carne. Não como carne, mas adorei, porque eu estava mesmo era de olho no salgado que se vendia na rua, em meio à feira. Pra mim feira é pra isso, pra se comer com o povo, para conversar com o povo! Assim, deixei os dois na mesa por uns minutos e fui comprar o salgado. Passei por alguns vendedores diferentes e todos foram muito simpáticos comigo, um não resistiu a piada de que na Copa a Argentina vence o Brasil! Curioso como não preciso falar que sou brasileira para todos saberem, óbvio! Meu portunhol dá na cara! E melhor ainda é que mesmo com a rivalidade do futebol todas as pessoas me tratam muito bem aqui. (Faço aqui um parênteses).

Essa é uma das coisas que fiquei pensando. Como as pessoas aqui são agradáveis! Não importa se são homens, mulheres, jovens, idosos. Não importa se não sei falar espanhol. Aonde vou as pessoas conversam comigo com muita simpatia. O dia que fui comprar meu incenso uma senhora de setenta anos, mais ou menos, conversou até comigo na loja. Eu dizia, “não consigo falar muito bem”, e ela respondia, “não importa, todos falamos um portunhol, não se preocupe com isso!” e fez questão de conversar bastante comigo. No mesmo dia fui a uma loja de cereais e mesma coisa ocorreu com a senhora que me atendia no balcão, pura simpatia! No sábado entrei em uma loja de artesanato, falei duas palavras, suficiente para os dois caras que estavam lá começarem a brincar com a “brasileira”. Todos muito sorridentes e divertidos. E é fácil sentir por aqui como as pessoas querem as outras bem! Esse moço mesmo da loja, eu contei para ele que queria vender artesanatos aqui e que queria uma noção dos preços, ele não se importou em me dizer. No dia seguinte voltei na loja para ver se ele vendia penas, ele não tinha e também não se incomodou em falar aonde encontro. Achei ótimo ele não ter o espírito tão comum de concorrência que vejo freqüentemente entre artesãos (por mais que isso pareça não acontecer, acontece mesmo). Ah, como estou contente aqui!

Bom, comprei meu salgado e sentei com meus amigos no bar. Tomamos uma bebida nova para mim e para Melyssa que é muito tradicional aqui, Fernet. Tem um gosto muito forte de ervas mate, e tem álcool e coca-cola ( que não gosto, mas nesse caso caiu bem). Pedimos um para nós três para vermos se era bom. Adorei, pedimos mais um e ficamos conversando por um bom tempo. Me encanta como meus amigos aqui tem toda paciência do mundo para me ouvir e me ensinar como devo falar as palavras e frases certas! Não tenho dúvidas que são pessoas muito boas. Creio que é como minha avó me falou, estou a todo tempo cercada de anjos que sempre colocam à frente pessoas boas no meu caminho.

E por falar nisso, no meu domingo também cruzou por mim mais boas energias personificadas. Conversei pela internet por um tempo com o Hare que conheci vendendo livro na rua. Foi breve, mas me deixou muito contente. Meus amigos americanos são mesmo pessoas excelentes, mas pensam e vivem uma vida um pouco diferente da minha. É um pouco complicado conversarmos sobre coisas mais pessoais (no sentido de interiorização), e é legal encontrar pessoas com quem me identifico. Em Belo Horizonte freqüentei o templo por um tempo, mas decidida a não me tornar uma devota. Sei que aqui não irei mudar de idéia, mas me sinto muito bem neste ambiente e na presença deste novo amigo, sinto uma grande força de luz e paz. Li algumas coisas que ele escreveu em sua página da internet e um texto não saiu da minha cabeça:

“Hace unos meses atrás, un día de verano. Fui al centro a la plaza San Martín, como siempre lo hago, a compartir mi filosofía de vida a través de los libros de India. Ese día hacia muchísimo pero muchísimo calor. En un momento trate de mostrar mis libros a una señora que iba pasando, y me dice en un tono muy alto y muy enojada: " no quiero nada, nooooo". Le pregunte el porque me gritaba de esa manera, y el porque estaba enojada? y me contesto muy enojada: " es que tengo calorrrr" y se fue. En ese mismo momento mire hacia la plaza, y pude ver a unos turistas sentados en uno de los bancos, con sus mochilas grandes de viaje, llenos de colores y alegría, tomando sol con unas sonrisas grandes, demostrando satisfacción y felicidad por el sol que les daba en sus rostros. Allí pude entender que el sol era el mismo, el calor era el mismo,la ciudad era la misma, la plaza era la misma. Pero una persona eligió sufrir por ello, y otros eligieron ser felices y disfrutar del mismo sol y calor. Tengo una frase que dice " La vida es lo que tu quieras que sea" No podemos comprar la felicidad. La felicidad es un sentimiento que tu eliges sentirlo en cualquier momento que desees sentirlo. Y en cuanta mas felicidad interna sintamos, esa felicidad podremos compartirla con todos en todo momento. 
Con amor Mathura !!!


Assim passei o domingo... refletindo sobre as coisas da vida, da minha vida. Pensei muito sobre minha viagem, sobre meus objetivos, sobre o que vivi nesses dias. Preferi não sair durante o dia. Achei engraçado. Meu primeiro fim de semana, eu poderia estar querendo fazer mil coisas, conhecer mil lugares, mas hum... O dia tinha começado muito chuvoso, e tudo o que eu queria era ficar em casa fazendo artesanato e pensando. Assim o fiz! Fiz dois filtros do sonho que gostei muito e enquanto isso pensei bastante. Somente às nove da noite tive vontade de sair. E para aonde? Para a feira de novo! Mas dessa vez quis sair só. E fui. Dei uma volta na feira e sentei em um bar para comer sanduíche e tomar suco de morango. Enquanto esperava o preparo, abri o livro que minhas amigas Déborah e Paula me presentearam. O livro se chama Presente do Mar (Anne Morrow Lindberh). Poderia ser um presente da Déborah, um presente da Paula, um presente do Mar, mas creio que foi um presente dos Deuses. As palavras que li enquanto esperava o meu lanche, eram exatamente a organização de tudo que pensei durante o dia. Foi a solidificação dos meus pensamentos, uma ajuda para eu entender o que havia refletido. Incrível! Li poucos capítulos por enquanto, mas já me sinto muito bem com a organização.

Um dia antes da minha viagem Paulinha havia me perguntando algo como, o que eu estava esperando, ou como eu imaginava que seria essa viagem. Eu disse a ela que... nada!! Faltava apenas um dia, mas eu não conseguia ter planos concretos e muito menos expectativas. Estava adorando isso! Talvez pela primeira vez estivesse realmente serena quanto às expectativas. Um pouco de medo é claro, mas nada que consumisse minha cabeça com imaginações tolas de como seria cada dia, o que eu ia fazer, o que eu ia encontrar, o que iria conhecer, para onde ia. Nãoooo!! Não quis perder tempo com isso. Na verdade o que muito me consumiu antes da viagem foi quando me senti obrigada a perder esse tempo, quando tive que planejar aonde iria morar e como gastaria o dinheiro aqui. Mas não queria ter que pensar nisso. A única coisa que eu queria, era IR! Falei algumas vezes sobre conhecer novas paisagens e novas culturas, mas talvez porque isso fosse óbvio demais. Vim mesmo vazia!

“Mas esses tesouros não devem ser procurados, muito menos desenterrados. Nada de escavar o fundo do mar. Isso frustraria nosso objetivo. O mar não recompensa os que são por demais ansiosos, ávidos ou impacientes. Escavar tesouros mostra não só impaciência e avidez, mas também falta de fé. Paciência, paciência, paciência é o que nos ensina o mar. Paciência e fé. Precisamos nos deitar vazios, abertos e sem exigências, como a praia – esperando um presente do mar. A concha que tenho em minhas mãos está vazia. Nela já morou um molusco muito semelhante ao caracol. Depois de sua morte, veio um pequeno caranguejo-eremita que a ocupou por algum tempo. Fugiu, deixando para trás seu rastro como uma delicada trepadeira na areia. Fugiu e me deixou sua concha que um dia já lhe serviu de proteção. Reviro a concha em minha mão, contemplando a porta aberta por onde saiu. Por que será que fugiu? Teria encontrado uma casa melhor, um jeito melhor de viver? Percebo então que também fugi, deixando a concha da minha vida por algumas semanas de férias. A concha em minha mão, no entanto, é simples e singela. E, além disso, é linda!” (Lindberh).

Durante meus dias aqui tenho pensado o quanto quero estar bem com meu interior. Quero me sentir feliz e leve, suave, sem que para tanto tenha que seguir normas, regras. Quero muito um encontro com minha espiritualidade, a busco em vários caminhos. Sou feliz quando encontro pistas destes caminhos, mas agora quero procurar em meu interior. Primeiro quero o encontro com o Deus que habita em mim, quero conversar com meu íntimo, depois acredito que terei mais clareza para saber a caminhada que quero levar. Não quero fazer o inverso. Não quero me prender a uma religião para depois andar no caminho. Quero iniciar a busca comigo, em mim. Sinto a proteção de muitos anjos em meu redor, sinto todos os dias às graças que Deus me dá. Não me restam dúvidas que recebo sempre muita luz. Como sou grata por isso! E quero um tempo para pensar nisso, para sentir com mais delicadeza à cada manifestação da existência do meu Deus.

“quero estar em paz comigo mesma. Quero uma simplicidade no olhar, uma pureza nas intenções e um núcleo central para a minha vida que me permitam realizar minhas obrigações e atividades da melhor forma possível. Tomando emprestado um termo da linguagem dos santos, quero viver em “estado de graça” tanto quanto possível. Não estou usando esse termo estritamente teológico. Para mim, estado de graça significa uma harmonia interior, essencial, espiritual, que se pode traduzir em harmonia exterior. Talvez esteja buscando o que Sócrates pediu na prece de Febro, quando disse: “...ajudai-me a buscar a beleza interior e fazei com que as coisas exteriores se harmonizem com a beleza espiritual (...). Há certos caminhos que podemos trilhar. Um deles é a simplicidade da vida”. (Lindberh).

Além de pensar em coisas suaves, por aqui também penso que terei que voltar para a vida normal. E me pergunto se há alguma forma de viver uma vida de graduada, em cidade urbana, capitalista, com toda a leveza que busco. “Não posso abandonar minhas responsabilidades. Não posso viver em uma ilha deserta para sempre. Não posso me tornar uma freira à vida familiar. Nem gostaria que isso acontecesse. A solução para mim não seria, com certeza, nem a renúncia total nem uma aceitação absoluta do mundo. Preciso encontrar um equilíbrio em algum lugar ou um ritmo que se alterne, como a oscilação do pêndulo entre estes dois pontos: solitude e comunhão, afastamento e retorno. Talvez eu possa aprender alguma coisa no meu período de afastamento e retorno. Talvez eu possa aprender alguma coisa nos meus períodos de afastamento que me seja útil quando eu voltar ao meu mundo. Para começar, posso pelo menos treinar durante essas duas semanas a simplicidade da vida exterior. Posso seguir essa pequena pista e ver aonde me leva.” (Lindberh).

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Mantras, mantras, incenso e não tinha como dar errado!



Depois do dia azarento de ontem, hoje (15 de fevereiro) decidi acordar renovada. Nas sextas-feiras não tenho aula, e por isso me deixei acordar a hora que quis. Aliás, hoje foi um dia que me deixei fazer tudo o que quis. Estava precisando de curtir um dia por inteiro! Ainda não tenho conseguido dormir bem, acordo várias vezes pela noite, creio que seja porque o quarto é bem quente. Assim, estou com um cansaço um pouco acumulado, e desde que cheguei não parei nem se quer por um minuto! O tempo todo hablando portunhol e comprando comida para deixar em casa, e aula, e banco e por aí vai! Mas hoje.... acordei, coloquei vários mantras para tocar no computador, escrevi alguns mantras que gosto muito em um papel e preguei no mural em cima da minha cama. Também coloquei um chaveiro de sorte com dragão chinês. Sim! Faltava um incenso! Pesquisei algumas coisas sobre o Ananda Marga aqui de Córdoba e fui para rua comprar meu incenso. Na verdade eu tinha uma lista de compras de coisas importantes de comer, como leite, arroz, frutas. Aí fui pela rua a fora. Já era quase onze da manhã. Aí no caminho decidi caminhar até a Praça San Martin, que é o miolão da cidade, para ver onde havia um restaurante, depois faria as compras e deixaria em casa e voltaria para almoçar. Um pouco fora da lógica, claro, mas era isso que queria, um dia fora da lógica. E assim foi! Fiz tudo de acordo com o que dava na cabeça na hora!

Chegando ao comércio já achei logo uma casa de artigos religiosos e lá estava meu incenso. Hum, aí senti que o dia podia ser bom e que eu começaria a me sentir melhor! Depois que comprei comecei a andar para além do caminho da praça (que eu já conhecia) para ver o que mais tinha por aqui. Na verdade todas as ruas se parecem muito. São todas muito movimentadas e uma mescla de comércio, casas e prédios históricos lindos. No meio do caminho encontrei um prédio maravilhoso e decidi que voltaria depois para fotografá-lo! Depois de andar muito fui para a praça! Chegando lá procurei até um restaurante que tinha cara de barato, mas não achava! Tudo muito refinado. Mas como me encantava caminhar por volta da praça!! Aqui há muitas construções muito muito lindas. E o clima da cidade, embora agitado pela movimentação dos comércios e pessoas, também conserva um ambiente agradável e harmonioso. É incrível como aqui é exatamente como eu queria! E para me alegrar ainda mais, comecei a encontrar os artistas de rua que tanto admiro. Marcou minha mente a cena do pintor expondo bem na frente de uma porta gigante de madeira da biblioteca principal e... ah que lindo, chegando no centro da praça dois músicos tocando um instrumento que eu não conhecia. Ambos estavam sentados no chão e um estava de saia e bata dançando em pé, parecia um pássaro. Muito linda a cena e muito agradável o som que faziam. Irresistível, não me restou a menor dúvida que eu sentaria em um banco para escutá-los. E olha, não é que o banco que estava ao lado deles e com um grande espaço sobrando tinha um cabeludinho lindo lendo um livro, haha. A cena estava muito bonita mesmo de se ver, e lá estava eu sentada! Não é porque ele é bonito, mas estava muito inspirador o garoto sentado lendo um livro com aquela paisagem linda que tem a praça e aquela musicalidade maravilhosa que havia ali. Fiquei sentada por uns cinco minutos imaginando como seria bom fazer um artesanato ali, ou ler um livro também. Os músicos deram um intervalo e eu corri para casa para buscar meu livro, já que não tinha material para o artesanato. Sobre vender os trabalhos pelas ruas daqui, eu já havia perguntado para a dona da minha casa e para o namorado dela e ambos me disseram que aqui é muito tranqüilo, que não há muitas restrições. E me parece mesmo que não, pois todos vendiam suas obras com a maior tranqüilidade. Mas, na falta do material, fui buscar o livro.

Aí, andando pelas ruas de volta para casa (a essa altura já não estava me preocupando mais com o que fui fazer na rua, afinal, tenho tempo!) passei em frente a uma loja de peças para artesanato. Hum, estava me convidando! Em BH já tenho um monte de encomendas, porque aqui também não posso ter? Além do mais, dentro da faculdade o pessoal também vende tudo numa boa! Ah, uhuuu, oba, entrei para loja e comprei as peças básicas. Mas para fazer o que mais gosto faltava uma peça chave que era o arco. Tudo bem, comprei o que deu naquele momento (ficou muito baratinho, nem 20 reais) e depois me preocupava com o resto. Lembrei, para fazer o artesanato e acender o incenso também era preciso um isqueiro. Fui comprar em uma vendinha e.... um alfajor!!! Affi, sai para almoçar mas, queria a sobremesa primeiro! O doce mais tradicional da Argentina me chamando? Sim, que venha! Comi meu alfajor e fui voltar feliz para casa. Lembrei das frutas que era o que eu mais estava a fim de ter na minha prateleira da geladeira e fui comprar. Quando fui pesar a penca da banana para pagar, kkk, tinha gasto o dinheiro na loja de artesanato. Assim, foi necessário tirar algumas bananas da penca para diminuir o peso (aqui se faz assim) e aí voltei para casa. A idéia era pegar o livro, e voltar para praça para almoçar e ler.

Fui perguntar para dona da casa aonde tinha restaurante barato no centro, pra que? Haha Ela me disse que eu tinha que cozinhar minha comida, que é muito caro se comer na rua e que toda mulher tem que saber cozinhar. Resultado, ela me deu duas partes de aulas de culinária, uma na hora do almoço e uma à noite. Tudo isso para me ensinar a fazer arroz e legumes! Aiai. Pulo essa parte! Depois do almoço peguei meu livro e fui para rua. O livro foi um presente lindo que minhas amigas me deram. Fala sobre uma mulher que estava cansada de viver sua rotina tradicional e largou tudo para viajar. Uma liberdade de estar consigo mesma! Demais, era tudo que eu queria para o momento.

Quando fui para a rua, levei a máquina e decidi tirar fotos de algumas ruas por aqui e do tal prédio que gostei. Haha, não achava de jeito nenhum. Eu não estava perdida, pois sabia tranquilamente como voltar para casa, mas não tinha idéia aonde foi parar a tal construção. Andei muito, muito, mas muito mesmo e de repente me aparece o tal arco que eu precisava para fazer o artesanato. E esse arco é algo muito raro de se encontrar assim. Fiquei sem acreditar! Ele também estava me chamando, não era possível! Eu estava em um lugar totalmente fora do caminho que precisava fazer e encontrei o arco! Oba! Comprei só quatro por enquanto porque ainda preciso estudar a idéia, mas já fiquei tão feliz! Saindo da loja continuei caminhando e descobri que eu tinha passado por um quarteirão do prédio que queria! Enfim, achei, tirei a foto e fui para a praça. Mas... chuva à caminho! Mesmo assim enfiei na cabeça que eu tinha que passar pela praça de novo, lendo ou não lendo o livro.

Passando pela praça um Hare Krishna me chamou para vender seus livros. Oh, eu tinha acabado de pregar uma foto de Krishna no meu quarto, que veio junto com o incenso. Aí não teve jeito, desenrolou o bate-papo. Um cara muito agradável e gentil! E ele entende português, pois já viveu no Brasil e estava doido para praticar. Aí dei um stop no portunhol, mesmo sabendo que tenho que evitar de fazer isso, mas conversamos até em português. Foi ótimo! Aí me contentei em voltar para casa, até porque parecia que a chuva ia chegar. Tirei umas fotinhas da praça e voltei!

À tarde a dona da casa pediu para que eu ficasse por aqui, pois receberia uma pretendente a ser nova moradora (há um quarto livre no segundo andar) e ela queria que a gente se conhecesse. Baita coincidência! Eu havia combinado de sair com minha amiga americana Laura hoje à noite e ela disse que levaria uma amiga. E não era a mesma que foi conhecer minha casa para morar? A gente não se conhecia, mas nosso encontro para sairmos juntas à noite já estava marcado. Mas, antes disso nos conhecemos aqui mesmo. Ficamos sem acreditar! E Melyssa decidiu que irá mesmo morar com a gente, vem para cá na segunda. Oba! Já é muito bom ter David, e ter a Melyssa também será excelente! Vamos passar a ir juntas para aula, mas lá vamos nos separar porque estou no nível 1 e ela no 3.

Bom, à noite fui me preparar para sair com Melyssa, Laura e com o Heth, que eu havia conhecido da minha sala e havia o chamado para se agregar com a gente. Aí recebi um recado muito carinhoso da Laura me avisando que as meninas decidiram sair muito bem vestidas, porque aqui se veste assim! Achei uma graça a preocupação dela em me avisar, muito atenciosa! E ela já devia ter percebido que eu não tenho cara pra essas coisas e preferiu me avisar. Haha. Não me importei nenhum pouquinho em sair com meu jeans básico e blusa indiana. E durante à noite tudo que pensei foi, que bom que estou confortável! Fomos primeiro ao bar que se chama Milk. É um bar fechado, escuro, com músicas de boates (embora todos fiquem sentados) e muito muito caro. Claro que eu não ficaria lá por muito tempo, mas por minha sorte ninguém se sentiu bem ali e fomos para o bar DadaMini. Aí sim! Um bar colorido, com grafites, bandeirinhas, muita gente informal e músicas boas, rock, reggae, adorei!! Estava ótimo, muito tranquilo e agradável, mas como o espanhol estava um pouco difícil para todos, ficamos um pouco sem assunto e logo cedo saímos de lá. Demos uma passadinha em uma casa de dança onde algumas pessoas bailavam tango, mas só olhamos um pouquinho e voltamos para casa.

Terminei meu dia alegre, bem, e LEVE!