Já se terminava
um mês que eu estava em Córdoba, já tinha feito vários filtros dos sonhos e até
então não tinha ido para a rua vender. Não sei se a minha vontade de ir era
maior para vender ou se era para sentir, por um dia, um pouco do que é a rotina
dos malucos de rua. Acho que o segundo era muito mais forte e em busca da
experiência antropológica eu segui. Peguei meu pano preto que eu havia comprado
para colocar no chão, minha bolsa colorida e meus, mais ou menos, seis filtro
dos sonhos que eu fiz.
Como eu tinha
festinha para ir pela noite, fui para a rua às duas da tarde. Juntei-me com a
turma que fica ao lado do shopping, que é o maior ponto de venda dos artesãos
depois da feira. Quando cheguei somente havia dois artesãos e eu, toda
encolhida, perguntei se poderia abrir meu pano ao lado do deles. Um foi muito
agradável e simpático comigo e foi como se estivesse me recebendo em sua
casa/rua. Estava um sol de esturricar onde estavam os nossos panos e sentamos
um pouco afastados para aproveitar um pedacinho de sombra. Como eu tinha pouca
coisa para mostrar tratei de começar a fazer mais um pouco. Também era uma
atividade para fazer enquanto estava por perto deles para não ficar muito sem
jeito. Aí trocávamos umas palavras e Martin sempre muito atencioso em me
ajudar. Mas acho que eles estavam um pouco sem jeito com a minha presença
feminina, sem saber como me tratar. Aí chegou um maluco, meio bêbado, meio
louco por natureza. E ele era novo e até bonito, mas totalmente viajado,
coitado! Sentou ao meu lado e começamos um longo bate papo. Ele estava
encantado comigo e eu sabia que não ia ter como me distanciar dele, então,
tratei de ser sua amiga. A frase que ele mais gostava de falar era que eu era
linda e ele estava meio sem entender o que eu estava fazendo ali.
Em um momento o
maluco saiu e chegou um outro cara para olhar as coisas do meu “vizinho”. Então
ele também veio conversar comigo. Para que? O maluco 1 chegou e viu e pôs ele
para correr. Disse que não queria ele ali, que ele tinha que tratar logo de
sumir de lá e ele se foi. É certo que eles tem uma história por trás e não se
entendem. Eu não quis nem saber o que se passava e fiquei quietinha na minha,
fingindo que não estava entendendo que a minha presença também causou certo
tumulto. Depois o resto da malucada foi chegando, mas sentaram um pouco mais
distante e o maluco 1 tratou de me apresentar para todo mundo e disse que fazia
questão de que eu fizesse amizade com todos. Em meio a eles um brasileiro que
foi um bom companheiro para bater papo em português. Assim,
fiquei sentada lá fazendo novos filtros e proseando com o povo.
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