No alto da montanha...

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Capilla del Monte - Cerro Uritorco - Argentina

sábado, 16 de março de 2013

Uma experiência antropológica hippie



Já se terminava um mês que eu estava em Córdoba, já tinha feito vários filtros dos sonhos e até então não tinha ido para a rua vender. Não sei se a minha vontade de ir era maior para vender ou se era para sentir, por um dia, um pouco do que é a rotina dos malucos de rua. Acho que o segundo era muito mais forte e em busca da experiência antropológica eu segui. Peguei meu pano preto que eu havia comprado para colocar no chão, minha bolsa colorida e meus, mais ou menos, seis filtro dos sonhos que eu fiz. 

Como eu tinha festinha para ir pela noite, fui para a rua às duas da tarde. Juntei-me com a turma que fica ao lado do shopping, que é o maior ponto de venda dos artesãos depois da feira. Quando cheguei somente havia dois artesãos e eu, toda encolhida, perguntei se poderia abrir meu pano ao lado do deles. Um foi muito agradável e simpático comigo e foi como se estivesse me recebendo em sua casa/rua. Estava um sol de esturricar onde estavam os nossos panos e sentamos um pouco afastados para aproveitar um pedacinho de sombra. Como eu tinha pouca coisa para mostrar tratei de começar a fazer mais um pouco. Também era uma atividade para fazer enquanto estava por perto deles para não ficar muito sem jeito. Aí trocávamos umas palavras e Martin sempre muito atencioso em me ajudar. Mas acho que eles estavam um pouco sem jeito com a minha presença feminina, sem saber como me tratar. Aí chegou um maluco, meio bêbado, meio louco por natureza. E ele era novo e até bonito, mas totalmente viajado, coitado! Sentou ao meu lado e começamos um longo bate papo. Ele estava encantado comigo e eu sabia que não ia ter como me distanciar dele, então, tratei de ser sua amiga. A frase que ele mais gostava de falar era que eu era linda e ele estava meio sem entender o que eu estava fazendo ali. 

Em um momento o maluco saiu e chegou um outro cara para olhar as coisas do meu “vizinho”. Então ele também veio conversar comigo. Para que? O maluco 1 chegou e viu e pôs ele para correr. Disse que não queria ele ali, que ele tinha que tratar logo de sumir de lá e ele se foi. É certo que eles tem uma história por trás e não se entendem. Eu não quis nem saber o que se passava e fiquei quietinha na minha, fingindo que não estava entendendo que a minha presença também causou certo tumulto. Depois o resto da malucada foi chegando, mas sentaram um pouco mais distante e o maluco 1 tratou de me apresentar para todo mundo e disse que fazia questão de que eu fizesse amizade com todos. Em meio a eles um brasileiro que foi um bom companheiro para bater papo em português. Assim, fiquei sentada lá fazendo novos filtros e proseando com o povo.

Em um momento sentou um bêbado mais velho do meu lado e não parava de falar comigo. E quanto mais eu falava que não poderia entendê-lo mais ele conversava. Esse sim me perturbou! O maluco 1 era divertido, mas esse não, nem sabia o que estava dizendo e estava mesmo incomodando. Aí o maluco 1 deu logo um jeito de mandar ele parar de me amolar também e ele obedeceu. Por fim foram quatro horas de sol e bêbados e eu não vendi nadinha. Fiquei mesmo impressionada com a idéia de como todos aqueles viviam apenas assim fazendo tudo que fazem. Todos venderam muito pouco, e o brasileiro, por exemplo, já viajou para um mundo de lugares inclusive para Tailândia, ou Turquia, esqueci agora. Enfim, ele já foi para muito longe ganhando tão pouco. Acho que eu precisava de mais alguns dias na rua para entender como isso funciona, mas depois da primeira experiência não me animei muito de voltar mais não, embora tenha sido interessante e curioso sentir esse dia.

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