E chegou a hora
de sair da minha zona de conforto, e eu estou feliz por isto. Todos os dias até
hoje eu tive meu quarto, minha cama, cobertas, travesseiro, roupas limpas,
minha comidinha, banheiro organizado e claro que tudo isso era ótimo. Além do
mais, tinha sempre uma pessoa por perto para pedir socorro se necessário. Para
um primeiro mês, sozinha, em um país onde eu não sabia bem o idioma, essas
mordomias foram muito importantes, até mesmo porque na casa onde vivi pude
aprender bem melhor o espanhol. Mas agora eu
tinha certeza que estava na hora de sair. Ir para as Sierras me parecia uma
travessia. Sim, saí do quarto que aluguei por um mês em Córdoba com a sensação
de que ia atravessar uma ponte.
Saí sem muitas
expectativas, em um dia cinza de muito frio. Estava indo para o meio das
montanhas na semana que mais fazia frio e chuva, mas nada disso me importava. A
única sensação que eu tinha era o desejo de atravessar.
No dia anterior
ganhei um café da tarde muito especial da dona da casa e lanchamos junto com os
meus hermanos. À noite, uma despedida com alguns amigos no meu bar favorito.
Minha despedida foi mesmo bonita para mim, porque pude sentir o carinho sincero
de pessoas que há pouco tempo conheci, mas que fizeram parte da minha história
por aqui. Em especial ganhei muitos, muitos abraços apertados de Melyssa. Ela
pulava ao meu pescoço por várias vezes e me apertava com a força brutal igual à
de um homem, ao mesmo tempo em que sorria com a doçura de uma jovem menina. O
sentimento de Mely por mim é mesmo algo que me impressiona. Faz-me feliz por me
fazer sentir constantemente que posso fazer o bem para alguém, simplesmente com
minha presença. Não entendo como isso pode se passar, mas via isso acontecer e
o sorriso dela era como um presente para mim.
Ver a emoção de
algumas pessoas com a minha partida é algo que poderia ter me deixado abalada,
com o coração partido de sair. Mas não é que não vou ter saudades dessas
pessoas lindas que passaram por mim, mas realmente o apego, acho que é um dos
itens que não trouxe na minha bagagem. Assim, partir estava leve, suave e me
fazia feliz.
Agora estou no
ônibus, escrevendo no meu caderninho. Estou indo para San Marcos de las
Sierras, povoado que desde que saí em viagem mais queria conhecer. Em uma de
minhas saídas em Córdoba conheci uma garota que me indicou um hostel para ficar
e quando busquei na internet fiquei muito empolgada para ir para lá. Vendo as
fotos e as descrições do hostel eu já me via em meio às músicas, aos
instrumentos de percussão e à fogueira. Mas quando liguei para reservar havia
acabado as vagas. Agora vou para outro hostel que não conheço, não sei ao certo
onde é e não recebe reservas. Ou seja, agora vou com a caneca vazia e isso é
muito bom.
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