No alto da montanha...

No alto da montanha...
Capilla del Monte - Cerro Uritorco - Argentina

sábado, 2 de março de 2013

Seguindo a linha do gráfico


Em minha primeira semana na casa de temporada, em meio aos bate-papos que se estendem por horas na cozinha, meu hermano me disse que a vida dos estrangeiros que vem estudar em Córdoba acompanha as linhas de um gráfico. Na primeira semana a linha alcança um ponto muito alto, vai longe seguindo as expectativas e a empolgação com os momentos novos que começam a surgir em sua história.  Cada dia se aprende mais novas palavras e tudo é pura alegria. Depois de pouco mais de uma semana, a linha suavemente começa a descer e leva um grande tombo chegando a um pedacinho não muito agradável do papel. É quando se começa a cansar de ter que pensar para falar, de não poder se falar tudo que pensa porque não encontra as palavras, de a todo tempo precisar fazer esforços, até mesmo quando se está em silêncio e as palavras ficam fazendo uma salada em sua cabeça com o idioma materno e o de aprendizado. E o hermano estava mesmo certo! Mas segundo ele na terceira semana a linha volta a subir e depois alcança um ponto ainda mais alto que o inicial, dessa forma imagino também e espero.

Assim, essa semana foi um pouco estranha. Toda essa inquietude com o idioma me passou. Deu-me uma saudade enorme de poder sentar com alguém e bater um bom papo, uma conversação onde às idéias são compartidas até aonde se quer levar e não até aonde se tem vocabulário. Talvez por isso e pelas noites que ainda são mal dormidas, posso resumir que tive uma semana de sono e saudades. Saudades de coisas que tenho e de coisas que não tenho. E principalmente, saudade de tomar um açaí com Paulinha e Déborah e de prosear com Larissa.

No mais, para além do mundo interior, algumas coisas aconteceram por aqui. Talvez a mais impactante foi o rompimento com a faculdade. Senti-me como um passarinho solto de uma gaiola e revirei tudo o que estava dentro do plano inicial. Segunda – feira busquei a coordenação do meu programa para conversar sobre o cancelamento. Foi péssimo! A coordenadora me dizia a todo tempo que sou brasileira e que então o curso para mim era fácil e que não ia devolver o dinheiro parcial de forma alguma, que não existia essa possibilidade. No Brasil eu falaria um milhão de coisas, a começar sobre o contrato. Mas aqui.... me senti super impotente, não sabia o que falar, me faltavam as palavras! Ela disse que o máximo que podia fazer era conversar com a professora. E assim foi, a professora chegou com três livros enormes para me emprestar, para eu xerocar com o meu dinheiro e estudar em casa depois das cinco horas de classe. Ah... fiquei com muita raiva. Aí na quarta-feira comentei sobre isso com o pessoal da casa enquanto eles estavam jantando.  Todos ficaram tão nervosos quanto eu e a frase: “Se fosse para você estudar com livros não precisava nem mesmo viajar!” não saiu da minha cabeça. Aí resolvi que eu ia tentar fazer algo de novo.

David, meu hermano, é um garoto, tem apenas vinte anos mas uma cabeça muito avançada. É uma pessoa crítica, articulada e de ótimas palavras, seja em inglês ou espanhol. Sem pensar duas vezes ele se ofereceu para me acompanhar na coordenação do programa, e eu, que tinha me sentido tão impotente na segunda-feira, aceitei imediatamente. Resultado, sucesso total! Eu voltei muito mais firme em minha posição e David foi um ótimo intermediador. Conseguimos e eu cancelei o programa com direito a devolução parcial do valor pago. Na verdade fiquei em um grande prejuízo porque paguei um valor altíssimo para fazer a transferência do pagamento do Brasil para Argentina, mas não importei, me senti livre! Agora quero umas aulas particulares, mas ainda não sei bem com quem fazer.  

No mais, segunda-feira eu e Melyssa fomos dar umas voltas na cidade para fotografar os pontos que mais gostamos. Foi um passeio gostoso e agora temos bons registros para lembranças. Na sexta-feira fomos a um passeio com o grupo da faculdade, eu ainda tinha direito, pois já estava incluso no valor pago. Fomos à Alta Gracia, um povoado de Córdoba. Visitamos uma edificação da Estância Jesuítica e o Museu Casa Che Guevara. No primeiro, confesso que eu não estava nenhum pouco ligada ao que o guia estava falando. Era uma história muito repetida a que eu sempre escuto e eu tinha sono! Mas amei sair andando sozinha, despistado, me separando do grupo para tirar fotos. Fotos dos lustres, dos pombos, das flores, das árvores, isso sim estava fascinante! Cada vez tenho mais certeza do quanto adoro fotografar! E no Museu do Che o desapontamento foi porque, como a casa é onde ele viveu a sua infância, o único tema retratado foi sobre o período que ele morou naquele lugar. Nada foi dito sobre sua atuação revolucionária. Foi um passeio vago! Ao fim fomos a um restaurante com todo o grupo. Sentei para conversar com as duas brasileiras que estão em outro nível do curso e foi ótimo. As duas são de BH e descobrimos muitas coisas em comum. Além de tudo, um papo em português caiu super bem!

Ainda na sexta à noite eu e Melyssa nos reunimos com um garoto que conhecemos no carnaval e seus amigos em uma casa quase vizinha da nossa. Estava muito bacana. Os meninos são do norte da argentina e estão vivendo em Córdoba há um tempinho. Como os norte argentinos, eles têm um vínculo muito forte com a sua cultura. Tocaram violão com músicas folclóricas, falaram sobre cinema (que é o que estudam), política e outras coisas divertidas também. Fizeram um super churrasco com muita carne. Eu não desfrutei da comilança às vacas, rs, mas me diverti participando de um momento típico daqui, um assado com folclore, fernét, mate e a companhia dos “chicos” e “chicas” argentinos. Depois eu e Melyssa fomos para um bar que se chama Fábrica Cultural, pois sabíamos que teria um show de reggae. Eu havia marcado de encontrar com a garota que conheci e que estávamos juntas no carnaval e ela foi com um amigo. Nos reunimos no bar, mas o show que estava previsto para 23h30min ainda não tinha começado. Às 2h eu, já morta de sono, resolvi voltar para casa antes da banda tocar. Aprendi que aqui não existe pontualidade para evento, nos próximos chegarei mais tarde!




Fotos em Alta Gracia


 



   




        

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