Em minha primeira semana na casa de
temporada, em meio aos bate-papos que se estendem por horas na cozinha, meu
hermano me disse que a vida dos estrangeiros que vem estudar em Córdoba
acompanha as linhas de um gráfico. Na primeira semana a linha alcança um ponto
muito alto, vai longe seguindo as expectativas e a empolgação com os momentos
novos que começam a surgir em sua história. Cada dia se aprende mais novas palavras e tudo
é pura alegria. Depois de pouco mais de uma semana, a linha suavemente começa a
descer e leva um grande tombo chegando a um pedacinho não muito agradável do
papel. É quando se começa a cansar de ter que pensar para falar, de não poder
se falar tudo que pensa porque não encontra as palavras, de a todo tempo
precisar fazer esforços, até mesmo quando se está em silêncio e as palavras
ficam fazendo uma salada em sua cabeça com o idioma materno e o de aprendizado.
E o hermano estava mesmo certo! Mas segundo ele na terceira semana a linha
volta a subir e depois alcança um ponto ainda mais alto que o inicial, dessa
forma imagino também e espero.
Assim, essa semana foi um pouco
estranha. Toda essa inquietude com o idioma me passou. Deu-me uma saudade
enorme de poder sentar com alguém e bater um bom papo, uma conversação onde às
idéias são compartidas até aonde se quer levar e não até aonde se tem
vocabulário. Talvez por isso e pelas noites que ainda são mal dormidas, posso
resumir que tive uma semana de sono e saudades. Saudades de coisas que tenho e
de coisas que não tenho. E principalmente, saudade de tomar um açaí com
Paulinha e Déborah e de prosear com Larissa.
No mais, para além do mundo
interior, algumas coisas aconteceram por aqui. Talvez a mais impactante foi o
rompimento com a faculdade. Senti-me como um passarinho solto de uma gaiola e
revirei tudo o que estava dentro do plano inicial. Segunda – feira busquei a
coordenação do meu programa para conversar sobre o cancelamento. Foi péssimo! A
coordenadora me dizia a todo tempo que sou brasileira e que então o curso para
mim era fácil e que não ia devolver o dinheiro parcial de forma alguma, que não
existia essa possibilidade. No Brasil eu falaria um milhão de coisas, a começar
sobre o contrato. Mas aqui.... me senti super impotente, não sabia o que falar,
me faltavam as palavras! Ela disse que o máximo que podia fazer era conversar
com a professora. E assim foi, a professora chegou com três livros enormes para
me emprestar, para eu xerocar com o meu dinheiro e estudar em casa depois das
cinco horas de classe. Ah... fiquei com muita raiva. Aí na quarta-feira
comentei sobre isso com o pessoal da casa enquanto eles estavam jantando. Todos ficaram tão nervosos quanto eu e a
frase: “Se fosse para você estudar com livros não precisava nem mesmo viajar!”
não saiu da minha cabeça. Aí resolvi que eu ia tentar fazer algo de novo.
David, meu hermano, é um garoto,
tem apenas vinte anos mas uma cabeça muito avançada. É uma pessoa crítica,
articulada e de ótimas palavras, seja em inglês ou espanhol. Sem pensar duas
vezes ele se ofereceu para me acompanhar na coordenação do programa, e eu, que
tinha me sentido tão impotente na segunda-feira, aceitei imediatamente. Resultado,
sucesso total! Eu voltei muito mais firme em minha posição e David foi um ótimo
intermediador. Conseguimos e eu cancelei o programa com direito a devolução
parcial do valor pago. Na verdade fiquei em um grande prejuízo porque paguei um
valor altíssimo para fazer a transferência do pagamento do Brasil para
Argentina, mas não importei, me senti livre! Agora quero umas aulas
particulares, mas ainda não sei bem com quem fazer.
No mais, segunda-feira eu e
Melyssa fomos dar umas voltas na cidade para fotografar os pontos que mais
gostamos. Foi um passeio gostoso e agora temos bons registros para lembranças. Na
sexta-feira fomos a um passeio com o grupo da faculdade, eu ainda tinha direito,
pois já estava incluso no valor pago. Fomos à Alta Gracia, um povoado de
Córdoba. Visitamos uma edificação da Estância Jesuítica e o Museu Casa Che
Guevara. No primeiro, confesso que eu não estava nenhum pouco ligada ao que o
guia estava falando. Era uma história muito repetida a que eu sempre escuto e
eu tinha sono! Mas amei sair andando sozinha, despistado, me separando do grupo
para tirar fotos. Fotos dos lustres, dos pombos, das flores, das árvores, isso
sim estava fascinante! Cada vez tenho mais certeza do quanto adoro fotografar! E
no Museu do Che o desapontamento foi porque, como a casa é onde ele viveu a sua
infância, o único tema retratado foi sobre o período que ele morou naquele
lugar. Nada foi dito sobre sua atuação revolucionária. Foi um passeio vago! Ao fim
fomos a um restaurante com todo o grupo. Sentei para conversar com as duas
brasileiras que estão em outro nível do curso e foi ótimo. As duas são de BH e descobrimos
muitas coisas em comum. Além de tudo, um papo em português caiu super bem!
Fotos em Alta Gracia
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