O trajeto feito
pelo ônibus que segue de Córdoba à San Marcos é simplesmente maravilhoso. Mas
que coisa.... eu sou mesmo igual bebê, entro em carros e ônibus e durmo, apago
e não vejo quase nada. Eu até fazia força para ficar acordada, mas durante as
três horas e meia de viagem devo ter ficado acordada ao máximo uns vinte
minutos.
No pouco tempo
desperta eu via que cada vez estava me aproximando mais de um lugar verde,
tranqüilo, harmonioso. E assim foi. Chegando a San
Marcos eu só via rua de terra e árvores, nada mais. Ai que delícia! O ônibus
parou em uma pequena pracinha de terra e lá desci eu. Parei em um ponto de
informação para saber onde era o hostel que estava procurando e segui pelas
ruas de pó marrom. No caminho uma plaquinha de madeira pintada com muitas cores
indicando o caminho do Hostel Giramundo, que era o que eu queria e que não
tinha mais vagas. Eu não sabia se a seta apontava para um lugar perto ou longe,
mas resolvi sair da direção que eu estava indo e entrei na estradinha. Eu e
minha mochila.
Ah... a minha
nova cama! Tem um colchão que é mais fino que um tapete. É uma beliche e eu
fico no andar de cima, cheirando o pó do teto. E o travesseiro e as cobertas
têm muito cheiro de poeira. Pelo menos o amigo do andar de baixo é um barbudo,
cabeludo muito simpático! E as meninas da beliche do lado também são gente
fina!
Mesmo com a cama
desconfortável eu fiquei feliz, estava mesmo a fim de encontrar um lugar
simples, em que eu pudesse ter dias simples. Era só isso o que eu queria. Assim,
até mesmo a minha tagarelice estava mais tranqüila. Eu não estava muito na
idéia de querer fazer mil amigos e coisas do tipo. Só queria o meu cantinho
sossegado e nada mais.
Depois que
cheguei fui comprar minhas coisas de comida e fiz meu almoço. No caminho para o
armazém tive o prazer de tirar algumas fotos, que parecem sem sentido, mas
cheias de significados para mim. Voltei carregando as coisas sem sacola. Uma
água, um pacotinho de arroz e alguns legumes. Isso era tudo que eu precisava.
Na hora de cozinhar eu tinha que dividir o espaço com os gatos. Sim, aqui os
gatos caminham na pia, se metem em meio ao escorredor de pratos e se der mole
eles comem toda sua comida. Depois de almoçar dormi um sono profundo de três
horas e depois comecei a escrever bastante.
Mesmo não indo
em busca dos amigos, a galera aqui é muito receptiva e buscaram me enturmar. Eu
estava sentada escrevendo por perto deles, enquanto alguns tomavam vinho,
fumavam e jogavam baralho e outros proseavam no quarto. Por fim acabei me juntando
ao vinho e tentei entrar no baralho. A galera estava mesmo muito a fim de me
ensinar a jogar truco, mas a coisa já é difícil, em espanhol então nem se fala.
Fiquei só olhando e dizendo aham, mas na verdade não entendi nadinha. Acabei
conversando mais com o cabeludo do que prestando atenção nas cartas, porque
estava difícil demais. Mas valeu a tentativa, uma das garotas fez de tudo que
pode para me ensinar o truco e assim acabei me aproximando do pessoal, mesmo
não buscando por isso.
Em um momento
chegou um brasileiro que viveu em
São Thomé das Letras. Ah, ficamos tão felizes de conversar um
com outro com as lembranças de São Thomé. Mostrei para ele algumas fotos de lá
que tenho e foi só sorrisos. Seu nome é Gustavo e ele é artesão, vive aqui há
alguns bons anos. Tenho muita curiosidade para saber mais sobre sua história,
mas vou tentando descobrir aos poucos, em outros momentos.
Depois da minha
falha tentativa de entender o truco saímos para caminhar na cidade. Aí a
conversa rendeu mais com um garoto que acabava de voltar de um curso de
meditação de dez dias em
silêncio. Fomos todos para um camping que estava tendo
música, mas não demoramos muito e voltamos todos para dormir.
Aqui é tudo
compartido. Inclusive os biscoitos que todos comem ao mesmo tempo em que fazem
carinho nos gatos e cachorros. Quando voltamos para o hostel era esse o
cenário, eu, Martin, Camilo, Teresa, três gatos, um cachorro e alguns
biscoitos. Eu me entrego sem frescuras, mas não tem como não pensar nas mãos de
pelos, rs.
No outro dia de
manhã a surpresa foi ao entrar para o banho. O chuveiro é um chuveirinho de
mangueira, que ou se usa segurando na mão ou se pendura na parede. Haha, eu
nunca tinha visto isso, mas foi melhor que eu esperava, a água pelo menos era
morna.
E assim vou
seguindo aqui em San Marcos,
em meio à muita simplicidade, aos livros, aos meus textos, as boas músicas, as
pessoas tranqüilas, as árvores e aos bichos.
No caminho para o hostel |
No caminho para o hostel |
Na rua principal |
Na praca principal |
Entrada do Hostel Giramundo |
Quintal do hostel |
Quintal do hostel |
Minha cama decorada com Simpson |
Nenhum comentário:
Postar um comentário