No alto da montanha...

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Capilla del Monte - Cerro Uritorco - Argentina

sábado, 16 de março de 2013

Chegando em San Marcos de las Sierras


O trajeto feito pelo ônibus que segue de Córdoba à San Marcos é simplesmente maravilhoso. Mas que coisa.... eu sou mesmo igual bebê, entro em carros e ônibus e durmo, apago e não vejo quase nada. Eu até fazia força para ficar acordada, mas durante as três horas e meia de viagem devo ter ficado acordada ao máximo uns vinte minutos. 

No pouco tempo desperta eu via que cada vez estava me aproximando mais de um lugar verde, tranqüilo, harmonioso. E assim foi. Chegando a San Marcos eu só via rua de terra e árvores, nada mais. Ai que delícia! O ônibus parou em uma pequena pracinha de terra e lá desci eu. Parei em um ponto de informação para saber onde era o hostel que estava procurando e segui pelas ruas de pó marrom. No caminho uma plaquinha de madeira pintada com muitas cores indicando o caminho do Hostel Giramundo, que era o que eu queria e que não tinha mais vagas. Eu não sabia se a seta apontava para um lugar perto ou longe, mas resolvi sair da direção que eu estava indo e entrei na estradinha. Eu e minha mochila.
 
Em um momento eu achei que tinha chegado ao hostel e fui entrando para dentro de um lote. Haha, dois cachorros muito nervosos começaram a latir e correr atrás de mim. Dei meia volta muito delicadamente tentando não mostrar para eles que meu pensamentos era “eles vão me morder” e sem olhar para trás sai do lote errado. Caminhei mais um pouco e cheguei no hostel. Então... havia uma cama, não perguntei nada além do preço e já fui logo depositando as minhas coisas na minha nova cama.

Ah... a minha nova cama! Tem um colchão que é mais fino que um tapete. É uma beliche e eu fico no andar de cima, cheirando o pó do teto. E o travesseiro e as cobertas têm muito cheiro de poeira. Pelo menos o amigo do andar de baixo é um barbudo, cabeludo muito simpático! E as meninas da beliche do lado também são gente fina! 

Mesmo com a cama desconfortável eu fiquei feliz, estava mesmo a fim de encontrar um lugar simples, em que eu pudesse ter dias simples. Era só isso o que eu queria. Assim, até mesmo a minha tagarelice estava mais tranqüila. Eu não estava muito na idéia de querer fazer mil amigos e coisas do tipo. Só queria o meu cantinho sossegado e nada mais. 

Depois que cheguei fui comprar minhas coisas de comida e fiz meu almoço. No caminho para o armazém tive o prazer de tirar algumas fotos, que parecem sem sentido, mas cheias de significados para mim. Voltei carregando as coisas sem sacola. Uma água, um pacotinho de arroz e alguns legumes. Isso era tudo que eu precisava. Na hora de cozinhar eu tinha que dividir o espaço com os gatos. Sim, aqui os gatos caminham na pia, se metem em meio ao escorredor de pratos e se der mole eles comem toda sua comida. Depois de almoçar dormi um sono profundo de três horas e depois comecei a escrever bastante. 

Mesmo não indo em busca dos amigos, a galera aqui é muito receptiva e buscaram me enturmar. Eu estava sentada escrevendo por perto deles, enquanto alguns tomavam vinho, fumavam e jogavam baralho e outros proseavam no quarto. Por fim acabei me juntando ao vinho e tentei entrar no baralho. A galera estava mesmo muito a fim de me ensinar a jogar truco, mas a coisa já é difícil, em espanhol então nem se fala. Fiquei só olhando e dizendo aham, mas na verdade não entendi nadinha. Acabei conversando mais com o cabeludo do que prestando atenção nas cartas, porque estava difícil demais. Mas valeu a tentativa, uma das garotas fez de tudo que pode para me ensinar o truco e assim acabei me aproximando do pessoal, mesmo não buscando por isso. 

Em um momento chegou um brasileiro que viveu em São Thomé das Letras. Ah, ficamos tão felizes de conversar um com outro com as lembranças de São Thomé. Mostrei para ele algumas fotos de lá que tenho e foi só sorrisos. Seu nome é Gustavo e ele é artesão, vive aqui há alguns bons anos. Tenho muita curiosidade para saber mais sobre sua história, mas vou tentando descobrir aos poucos, em outros momentos. 

Depois da minha falha tentativa de entender o truco saímos para caminhar na cidade. Aí a conversa rendeu mais com um garoto que acabava de voltar de um curso de meditação de dez dias em silêncio. Fomos todos para um camping que estava tendo música, mas não demoramos muito e voltamos todos para dormir.
Aqui é tudo compartido. Inclusive os biscoitos que todos comem ao mesmo tempo em que fazem carinho nos gatos e cachorros. Quando voltamos para o hostel era esse o cenário, eu, Martin, Camilo, Teresa, três gatos, um cachorro e alguns biscoitos. Eu me entrego sem frescuras, mas não tem como não pensar nas mãos de pelos, rs. 

No outro dia de manhã a surpresa foi ao entrar para o banho. O chuveiro é um chuveirinho de mangueira, que ou se usa segurando na mão ou se pendura na parede. Haha, eu nunca tinha visto isso, mas foi melhor que eu esperava, a água pelo menos era morna.

E assim vou seguindo aqui em San Marcos, em meio à muita simplicidade, aos livros, aos meus textos, as boas músicas, as pessoas tranqüilas, as árvores e aos bichos. 
No caminho para o hostel
No caminho para o hostel



Na rua principal
Na praca principal



Entrada do Hostel Giramundo
Quintal do hostel


Quintal do hostel
 
Minha cama decorada com Simpson

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