No alto da montanha...

No alto da montanha...
Capilla del Monte - Cerro Uritorco - Argentina

quarta-feira, 20 de março de 2013

Paz, sossego, verde e alegria


San Marcos de las Sierras é um povoado que me lembra muito o interior de Minas Gerais. Parece uma rocinha, tranqüila, cheia de mato e terra. Mas o que senti de diferente aqui é o clima do lugar.  Parece que a harmonia atua em peso no cotidiano da cidadezinha. Está certo que em algum lugar em meio ao mato existem os lobos maus. Mas a impressão que se passa quando caminha pelas ruas é que a maldade não chegou por aqui.

Caminhando pelas ruas vêem-se homens cavalgando, vestidos de botas, chapéus ou boinas. Sempre ao lado de seus cavalos seguem-se os cachorros. Na praça existem as cores, as cores das pessoas vestidas com panos diferentes, hippies, alegres. Muitos tocando instrumentos, violões, flautas e outros fazendo arte circense. Tudo faz com que o cenário seja mágico. Há também muitas crianças lindas, dos cabelos grandes, anelados. Nas ruazinhas, muitas plantas e pés de azeitona que estão começando a dar frutos. E o mais encantador é se aproximar do Rio San Marcos, que a medida que corre e se transforma, renova o seu encanto.

Em meu segundo dia no povoado, saí a caminhar pelas ruazinhas verde e marrom. Pouco tempo antes recebi um recado da minha amiga Déborah me dizendo que estava me enviando, energeticamente, uma borboleta. E enquanto eu andava nas ruas, mesmo que ela não estivesse ali materialmente, eu tinha uma borboleta me acompanhando. Ela era linda, tinha uma coloração azul forte ao centro e negra nas bordas. Ela sempre caminhava a minha frente e a minha volta. Quanto mais subia e descia pelos ares, me encorajava a seguir adiante. A leveza e a suavidade da borboleta me traziam força e coragem. Ela era uma inspiração para mim. Brilhava irradiante. Parecia frágil, fina, delicada, mas era forte e corajosa. Subia cada vez mais alto e ia sempre à frente. Sabia dos riscos que poderia encontrar. Folhas, árvores, bichos. Mas ela não queria desistir de chegar ao rio somente pelo medo dos obstáculos. Ela seguia. Valia à pena seguir e ela ia....

Eu e a borboleta chegamos juntas ao rio. Eu me sentei há alguns metros de uma ponte e estava fascinante. Ao meu lado algumas pedras conversavam comigo, junto com o sonido das águas do rio. Encantava-me ver a movimentação das pessoas cruzando a ponte. Por cima, gentes e seus cachorros, por baixo gentes e suas bicicletas, motos e carros. E quando passavam ao mesmo tempo, pessoas por cima e veículos por baixo, para mim era fantástico! Fiquei ali por um bom tempo, inserida dentro da paisagem que via, e fotografando o correr das águas e o enlace das pessoas que seguiam a ponte.

À noite teve música em um bar que fica na praça principal. Apenas uma banda tocando e isso era como um grande evento para a cidade! Assim, o bar estava lotado e a galera dançava salsa, cumbia e outros ritmos daqui, energeticamente. Como aqui em San Marcos meu clima estava muito mais para o descanso, não entrei muito no clima e voltei mais cedo que os outros amigos do albergue. Gustavo, o brasileiro, tinha dançado até o pé doer e resolveu voltar comigo também. Ele não estava abrigado no hostel, vive aqui há alguns anos, mas me levou até lá me acompanhando com uma ótima prosa e, vindo dele, sempre divertida!

No domingo dormi bastante e à tarde Gustavo foi me visitar levando seu material para me ensinar a fazer coisas novas de artesanato, como havíamos combinado no dia anterior. Aprendi a fazer brinco de filtro dos sonhos e fiquei mega contente com o primeiro que fiz. Produzimos juntos e conversamos bastante. Eu passei a chamar Gustavo de duende do sorriso. Visualmente e espiritualmente ele é uma mistura perfeita de duende com palhaço, faz a gente rir sem parar e é divertido até mesmo quando está calado. À noite fomos junto com a galera do albergue para um evento que teve na praça, com apresentação de grupos de folclore. Mais uma vez, uma atividade simples realizada como um grande espetáculo, muito legal isso! Havia gente de todas as idades, inclusive dançarinos de uns quatro aninhos e um casal de uns oitenta anos no público. Genial!

Em seguida ao evento fomos para uma sessão de cinema que teve no albergue, com a projeção de um filme em um telão. Era um documentário que se chama “Artesanos”. Não consegui compreender tudo perfeitamente, mas o enredo mexeu muito comigo, uma vez que a temática era relacionada à ideia de viver através das atividades que te trazem amor, alegria. Esse tema é o que mais tem me acompanhado nas minhas reflexões durante essa viagem. Como posso fazer para transformar o meu trabalho em uma fonte de amor?!

Eu estava contente que no albergue conheci gente bacana. Em especial, gostei muito de ter conhecido quatro meninas de Buenos Aires, uma da Suiça que é um encanto de pessoa e o duendezinho. Mas mais do que fazer amizade, eu estava mesmo a fim de sossego. Isso era tudo que eu queria em San Marcos. Logo, um hostel que estava cheio de gente, bichos e água que foi morna só no primeiro dia e depois puro gelo nos dias mais frios, poderia ser até bacana, mas só rolou para um fim de semana por não coincidir com a minha busca.

Assim, tive um final de semana cheio de pessoas, gatos e cachorros, mas na segunda-feira mudei de endereço. Fui em busca de água quente e tranquilidade, mas por cinco reais a mais encontrei quase um castelo, se comparado ao outro albergue, rs. Achei água quente 24 horas, uma cozinha limpa e organizada (sem gatos no escorredor) e um quarto com cinco camas que só tinha eu ocupando. Parecia inacreditável! Além de tudo tinha internet. Eu estava pouco me importando em buscar um albergue com internet, mas isso acabou significando muito..... O contato com meu e-mail foi algo de suma importância!

Na segunda-feira apenas fiz o Nada que eu estava buscando! Foi fantástico. E na terça-feira de manhã abri meu e-mail e lá estava a notícia de que fui premiada no II Concurso de Monografias da Fundação Palmares!!!!!!!!!!!!!!!! Nossa... minha alegria foi tanta que não cabia em mim!! Tratei logo de ligar para minha família para comemorar e fiquei emocionada até não caber mais. O problema foi que eu fiquei gritando em comemorações no skype enquanto conversava com minha madrinha, sentada com o computador na varanda, e quando dei por mim tinham duas mulheres deitadas na rede lendo livro. Kkk, quase morri de vergonha, mas eu estava feliz demais!! E mais uma vez vi tudo se encaixar da forma mais perfeita e divina possível. Para receber o prêmio tenho que enviar a documentação por correio até o dia 22, eu recebi o e-mail no dia 18 e se tivesse ficado no primeiro albergue é bem provável que não teria lido esse e-mail! Assim, mudei meu plano que era seguir de um povoado para o outro (Capilla del Monte) e resolvi voltar para a cidade no dia seguinte para ajeitar a papelada.   

Então, aminha terça-feira foi de despedida de San Marcos. Eu já havia combinando com Gustavo de irmos juntos a uma pequena montanha que tem um cruzeiro e é um ponto turístico daqui. As meninas do albergue já tinham me falado que era tranqüilo de ir sozinha, porque tinha uma trilha aberta. Mas, mesmo que eu estivesse buscando a solidão, quebrei a “regra” para ter a companhia do duende do sorriso. A presença dele seria boa por sua alegria e também porque ele conhecia um caminho mais bonito para chegar ao cume.
E lá fomos nós. Iniciamos o nosso trajeto pela beira do rio e subimos a montanha pelo caminho sem trilha e mais bonito. A cada parada que fazíamos para sentar nas pedras, uma sensação gigante de contentamento me consumia. Respirar aquele ar puro e ver aquela paisagem verde era perfeito. Gustavo conversava com as plantas, pedia licença para a natureza antes de arrancar uma folha, ou de iniciar um novo trajeto. Eu observava calada, mas achava lindo. Quando eu olhava para o horizonte à minha frente, via um bosque encantado. Pensava que a qualquer momento iria sair uma fada voando de dentro das árvores. Era mesmo um bosque a paisagem à minha frente. E atrás as Serras de Córdoba. Lindo!!

Quando chegamos ao topo, ficamos sentados por muito, muito tempo no cruzeiro. Ao som da flauta que o duende tocava, e na companhia das pessoas e cachorros que aos poucos chegavam para ver o por do sol lá do alto. E quando o sol desceu.... foi como o momento auge do espetáculo que a força divina manifestou através da natureza!

Entrada do Hostel San Marcos


Rio à margem do Serro

Rio à margem do Serro

Subindo o Serro

Bosque encantado

Finalizando o espetáculo




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