No alto da montanha...

No alto da montanha...
Capilla del Monte - Cerro Uritorco - Argentina

domingo, 24 de março de 2013

Sozinha? Não, com a natureza!

Embora Capilla del Monte ofereça muitas coisas lindas para se fazer, no meu primeiro dia de parada na cidade não consegui sair do quarto. O cansaço da correria do dia anterior e a vontade de estar bem preparada para o dia seguinte me fizeram querer ficar quietinha até o fim da tarde.

E para não dizer que não coloquei o pé na rua, quando o sol começou a descer fui dar uma volta. Capilla é uma cidadezinha pequena, porém muito desenvolvida. Possui ruas calçadas, um grande número de comércio e uma boa infra-estrutura turística. O turismo local é convidativo para as pessoas que se interessam pela natureza e pelo misticismo. Além do mais, para aqueles que estão em busca de ver os óvnis que dizem que andam por lá.

Dando voltinha pelas ruas do centro eu fiquei tentada com a idéia de ser chique por um dia! Tanto em San Marcos como em Capilla, um copo de café com leite custa o equivalente a oito reais. Eu estava mesmo era na água, que inclusive também era muito cara, porém essencial. Mas aquela rua de vilazinha com aqueles cafés me convenceram a pedir um cappuccino. Quando decidi pagar oito reais por ele não imaginava que viria uma tacinha de dois dedos, mas enfim, foi chique sentar no café e ler meu livro companheiro.

Depois, voltando para o hostel, comprei um colarzinho meio rústico para mim e uma amiga especial. Quando cheguei ao meu quarto, não sei porque, inventei de ir para o andar de cima da beliche. Nesse momento percebi que eu tinha perdido os colares que estavam no meu bolso. Fui descer correndo da cama, que não tinha escada, para voltar para a rua e procurar. Me estrumbiquei escorregando e me agarrando nas madeiras. Kk Foi divertido e agora guardo a marca de Capilla no meu cotovelo sangrento. Mas o pior foi que voltei para as ruas, no mesmo caminho, e vi apenas um mapa no chão, mas isso não me interessava. Voltei convencida de ter perdido os colares e fui pegar o meu mapa no bolso. Não.... era o meu que estava caído no chão, e, logo, as lembrancinhas deviam estar junto! Voltei correndo, mas dessa vez nem mapa e nem nada! Acho que esse foi meu maior azar até hoje. Mas como de tudo deve se tirar uma lição, preferi pensar que era um treinamento para lidar com a dor física e com o desapego material, hehe!

No dia seguinte levantei cedo, fiz um sanduíche com bife de soja e verduras, tomei café, peguei minha mochilinha e... rumo ao Cerro Uritorco! O serro é uma das montanhas mais famosas de Córdoba, a mais alta e onde dizem que tem mais et, kk. A previsão era de 4 horas de subida e 3 de volta, com um valor equivalente a 35 reais para entrar. Eu até gosto de misticismo, mas a minha vontade era mesmo de me encontrar com a natureza! Os óvnis e as lendas não me importavam muito. Eu queria era sentir o verde de perto!!

A diversão começou com o ônibus que peguei desde o centro até o serro. Os banquinhos de madeira e a lataria envelhecida eram muito charmosos! Depois de alguns minutos, cheguei, inicialmente sozinha! Aiaiai... li o cartaz dizendo que o nível de dificuldade era médio/ alto e me bateu um medinho. Mas era esse medinho que também me fazia pensar... ualllll!!!

Tinham uns garotos por perto que estavam no mesmo hostel que eu, e eu podia até ter tentado me aproximar, mas não queria uma companhia! Assim, me certifiquei com o moço que cobrava a entrada de que eu não iria me perder, rs. Claro... não tinha um mapa, não tinha nada além de umas montanha grandonas, eu tinha que perguntar isso! kk Ele me garantiu que eu estaria segura e fui...


                           

Nos primeiros cinco minutos eu estava bufando e reclamando, mentalmente, do porque que levo uma vida tão sedentária. Um morrinho e eu já estava cansada! Respirando alto, cruzei por um cara, o primeiro do caminho, e ele me perguntou se estava bem? Pensei, droga... está dando na cara que estou morrendo, tão rápido! Hehe confesso que fiquei com vergonha, respondi logo que estava tudo bem e dei as costas pra ele e segui.

Quando eu menos esperava, estava lá o cara atrás de mim de novo e puxando assunto. Hum... não estava gostando disso, mas enfim, cautelosamente fui conversando com ele até que ele me disse que era guia do “parque” e que estava voltando para seu ponto de trabalho, no meio da montanha. Um pouquinho de dúvida se era verdade... mas ele estava tão bem equipado, que parecia não ser mentira mesmo não. Até que passamos por uma equipe de televisão, que logo que viram uma brasileira chegando me pararam para entrevistar! Eu fiquei foi morrendo de raiva, porque eles enfiaram a câmera no meu rosto sem nem me perguntar se eu estava de acordo. Isso foi péssimo, mas a vantagem foi que nesse momento me certifiquei que o cara era guia mesmo e todo mundo o conhecia.

                                      


Eu segui caminhando e acabei ganhando um guia de graça. Ele me acompanhou até onde pode, parando quando eu queria e tirando fotos para mim! Depois de um tempo meu desconforto melhorou porque ele estava mesmo muito respeitoso. Mas eu não parava de pensar que ele estava atrapalhando a minha idéia de subir uma montanha sozinha, mas tudo bem! Às vezes eu pensava que eu não tinha ganhado um guia por acaso e ele acabava me trazendo segurança, mesmo que eu estivesse sempre com a pulga atrás da orelha! Mas, de repente também podia ser mais um anjinho, não sei!


Seguimos juntos até metade da montanha, duas horas de caminhada! Cruzamos por poucas pessoas no caminho, não estava em um dia movimentado. A subida estava cansativa, mas as trilhas sempre abertas facilitavam bem. Mas em alguns pontos.... eu tinha certeza que se não tivesse com ele teria ficado meio sem saber para onde ir! Aí dito e feito.... depois que despedi dele, em cinco minutos, estava eu no meio de um monte de mato: “pra onde tenho que ir agora?” a trilha sumiu e eu só via mato, pedra e espinho, haha. Eu ria de mim! Que tola, perdida tão rápido! Eu ria porque sabia que perdida de tudo não tava, o máximo que eu teria que fazer era voltar pelo caminho que fui. Mas e o caminho de ir, onde estava? Empurra plantinha para cá, empurra matinho para lá, salta umas pedrinhas, torce para não ter cobra e... achei!! Ufa, vou conseguir me virar, foi o que pensei!

                            

Há muitos anos eu vivi sempre acompanhada de alguém, todas as minhas aventuras e histórias tinham alguém muito perto de mim, pronto para me proteger. Mas agora eu tinha que me virar sozinha, eu tinha que conseguir vencer minhas dificuldades comigo mesma, na minha vontade de alcançar e na minha coragem que eu estava aprendendo a criar! Então achar aquele caminho, sem pedir informações ou apoio era algo muito maior do que somente encontrar uma trilha! O matinho era baixo, rasteiro e a casinha do guia não estava muito longe, então era simples, era pouco aquele momento, mas para mim, daí em diante, a caminhada foi uma grande aventura e aprendizado!

Segui sem mais ninguém, em meio a muito verde e em uma estradinha que não parava de subir, subir e era longe.... Algumas, poucas, vezes eu cruzava por alguém no caminho. E algumas vezes me perguntavam, entre outras palavras de simpatia: “Estas sola?” Quando me perguntavam isso na capital de Córdoba, em especial os taxistas, eu sempre dizia que eu estava com um grupo de amigos, que estavam me esperando. Era pura mentira, mas isso me fazia sentir mais segura. Mas ali... era óbvio que não tinha mais ninguém comigo, eu não podia inventar que tinha alguém me esperando atrás de uma moita! Mas responder que eu estava sozinha parecia tão vago para mim. Assim, a resposta mais espontânea e mais sincera que vinha à minha cabeça e que eu dizia com um sorriso alegre no rosto era: “Estou com a natureza!”. E essa resposta vinha acompanhada de muita bagagem dentro da minha alma!

                           
Estar acompanhada da natureza era estar conectada a todas as forças físicas e intangíveis que estavam ao meu redor! Assim, quando eu respondia que estava com a natureza, vinha um lindo filme em minha mente. Antes de viajar para a Argentina eu fui me benzer com o Seu Mário da Comunidade dos Arturos de Contagem. Eu não sou católica, não entendo sobre os santos e não rezo Ave Maria. Mas acredito demais na força da benzeção do Seu Mário e creio que algumas vezes já fui protegida com a sua ajuda. Dessa forma, quando busquei a ele, contei que iria fazer uma viagem sozinha! Em suas rezas ele me disse que a todo tempo Nossa Senhora estaria à minha frente abrindo o meu caminho. Assim eu sentia, em meio ao tudo e ao nada em que eu estava, que estaria protegida pela força divina e que meu caminho estava limpo! Além disso, olhando para as montanhas verde, azul e coloridas com flores amarelas, vermelhas e roxas e para o céu azul, o sol irradiante e para a terra que eu pisava, eu via a Pachamama, a Mãe Natureza, me dando um lindo dia. E também sabia que do lado esquerdo e direito tinham os meus anjinhos! E se Nossa Senhora abria meu caminho, e se eu estava envolta da Pachamama e se os anjos me acompanhavam, eu agradecia ao meu Deus pela graça da vida e sabia que eu não estava sozinha, que estava com a natureza!

                     

Assim, sozinha mas acompanhada, subi por mais duas horas. Por fim já estava ficando muito difícil, porque o corpo doía e porque quanto mais perto do fim, mas aumentava o grau de dificuldade. Mas quando eu tinha que me agarrar as pedras é que eu adorava! Me sentia total Indiana Jones. Ficar muito desorientada eu não ficava mais não, mas algumas vezes as setas que indicavam os caminhos apontavam para dois lugares distintos e outras vezes os caminhos não eram tão óbvios, mas eu seguia a intuição e a ponta do cume, seguia e achava!

Depois de praticamente quatro horas, finalmente eu cheguei! Ui, não poderia pensar na idéia de que tinha que voltar. O horário obrigatório de descida era no máximo às 15h30m e eu cheguei ao topo uma hora antes. Aproveitei esse tempo para sentar, comer e descansar. A vista do alto era maravilhosa! Tinha duas cruzes com enfeites bastante populares e um visual deslumbrante. Dava para ver a cidadezinha pequenininha lá embaixo, mas eu gostava mesmo era de olhar para as montanhas vizinhas! Ter a possibilidade de ver as montanhas por cima de seus cumes me parecia um super poder mágico. Eu estava feliz de sentir isso!
                            

Mas era estranho porque também comecei a me sentir um pouco pesada. Não sabia o que era, mas enquanto eu estava subindo eu estava mais feliz, contente. Na verdade enquanto eu subia eu estava mega alegre, mas enquanto eu permaneci ali, por uma hora, enroscada feito um caracol, deitada entre duas pedras, eu sentia um pouco pesada. Enfim, achava que era cansaço e fiquei paradinha tentando relaxar o corpo.

Avançando bastante os capítulos da história, um dia depois quando eu conversava com David, ele me contou a lenda do cume deste serro. Ele disse que as cruzes eram para simbolizar a grande quantidade de indígenas que se jogaram em massa daquele topo, em suicídio, para não se renderem ao poder dos espanhóis. O guia que tinha me acompanhado me contou essa história e disse que as pessoas sempre sentem certo desconforto quando param nessa região, mas no espanhol falado em meio a uma caminhada difícil, eu não tinha entendido o que ele tinha contado, somente depois que David me falou sobre isso é que fui entender e inevitavelmente relacionei ao mal estar que eu tinha sentido!

                                      
Mas o mal estar maior mesmo começou quando iniciei o caminho de volta! Hum... eu estava com muitas dores no corpo e um enjôo chato. Somente sentia na boca o gosto do azeite que deixei derramar sem querer no meu pão. Ouou... não queria que o mal estar da volta abafasse a minha felicidade da ida. Parei para deitar sobre uma pedra, mas abaixo do cume, e aí sim eu estava me sentindo ótima. Eu pensava: “curioso, fiquei uma hora lá em cima e não consegui desfrutar como estou desfrutando nesses cinco minutos aqui!” eu estava deitada com o corpo esticado, não mais como um caracol, sentia o sol batendo suavemente em meu rosto, sentia a brisa e escutava o silêncio. Hum, valeu demais essa sensação, mesmo que tenha sido breve. Tive que tratar de me apressar para levantar, porque queria descer antes do sol partir. Aí, dentro de instantes, já estava eu de novo, cantando mentalmente e saltitando (literalmente) em meio às pedras.
                                     

E cantando mentalmente para que? Aí comecei a cantar foi para fora! Cantava, saltitava e sorria, sem mais ninguém por perto, do jeito que eu queria! Ah, que alegria! Aí em um momento sentei de novo para ver o horizonte, lembrei do presente que agora anda sempre na minha bolsa, que ganhei do meu amigo hare, e abri meu caderninho de mantras e comecei a ler e cantar Jaya Radha Madhava, meu mantra preferido, o mesmo que ele tinha cantado no templo! Lia e cantava em sânscrito e lia em voz alta a tradução em espanhol, que narra Krishna caminhando no meio do bosque, e eu ali, no meio da montanha! Como eu estava leve!!

Eis então que passava por mim um casal de amigos e eu os pedi para tirar uma foto pra mim. Pronto, deixei de ficar sozinha de novo, kkk. Eles eram mega simpatia e quiseram me acompanhar na volta. Acabei ganhando uma carona até o hostel e por fim eles acabaram mudando de abrigo e foram pro mesmo hostel que eu estava, de tanto que eu falei bem de lá. Depois que chegamos eu acho que fui meio chata, mas tudo que eu queria era descansar e acabei não interagindo com ninguém, mas fiz o que eu quis que era ficar quietinha!

Bom, terminei o serro com umas quatro horas de subida e três horas de descida. Em uns quarenta minutos depois que cheguei à base, o sol saiu e se despediu brilhantemente. O sol se foi e eu guardei dentro de mim as lindas sensações que desfrutei enquanto subia as montanhas.

Caminhar pelo Cerro Uritorco me fez sentir mais forte, mais mulher, mais independente, mais capaz! Me fez sorrir muito, sorria para mim mesma, assim, fiquei ainda mais minha amiga, minha parceira! Por alguns minutos eu comecei a pensar se quando eu voltasse para casa essa coragem que estava me acompanhando ia permanecer comigo, se eu ia finalmente aprender a andar de bicicleta ou perder o medo de dirigir. Mas logo soprei esses pensamentos para o lado e busquei viver o momento presente e os sabores da vida que eu vivia ali, naquele instante, feliz!

No dia seguinte amanheceu chovendo e eu morta de dores no corpo, assim preferi voltar para Córdoba um dia antes do previsto.






















quinta-feira, 21 de março de 2013

Menos de 24 horas, três cidades e cinco habitações


Quarta - feira deixei o hostel San Marcos que eu tanto estava gostando e o povoado que me encantou. Mas sai tranqüila, olhando à frente. Peguei o ônibus 13h da tarde e cheguei em Córdoba às 17h.

Antes de sair de Córdoba eu já tinha ido conhecer um hostel, exatamente para o caso de precisa de dormir algum dia entre uma viagem e outra. Interessei-me muito pelo que havia na Rua Entre Rios porque era na rua de trás da casa onde eu estava vivendo. Assim era um ponto de fácil acesso. Além do mais o hostel é credenciado em uma rede mundial que eu conheço e, logo, parecia-me confiável. Assim, quando cheguei de viagem, já fui logo para lá, até porque eu tinha muita pressa para resolver as coisas das papeladas do concurso.

Quando cheguei no hostel pedi para ver a habitação compartida, como de costume. Eu vi que tinham duas pessoas dormindo e pensava que era um homem e uma mulher. Beleza, parecia tranqüilo, mas não bisbilhotei muito para não incomodar os dorminhocos. Voltei para a recepção para fazer meu cadastro e depois me adentrei ao quarto com minha mochila. E aí.... socorroooo!!! Heheh Tinham eram três homens esquisitos e chulezentos. Eu me senti uma carne no meio dos tigres e sai correndo de lá. Sai correndo por dois motivos, um é que eu jamais teria coragem de dormir em um lugar que não estou me sentindo bem e outra que eu tinha acabado de escrever para o meu pai que ele poderia ficar tranqüilo, que eu estava consciente das minhas escolhas e dos lugares onde iria me meter. E aquele lugar na certa não era agradável nem para mim, nem para o coraçãozinho do meu pai. Mas eu tinha um tempo muito curto, antes do correio fechar e uma mochila muito pesada. Não dava para ir para muito longe. Aí voltei para recepção e disse para a moça que eu só ficaria lá se ela me mudasse para um quarto com mulher, mesmo que fosse mais caro. Ela me mostrou outro que só tinha uma menina e fechamos assim. Quando eu voltasse da rua íamos fazer as transferências.

Aí fui resolver minhas coisas como um trem bala de pressa e de emoção de estar enviando os documentos para receber meu prêmio. Nossa... até tremia. No caminho, em um dos lugares que mais gosto, encontrei com o amigo mais que especial que fiz em Córdoba, uma pessoa que ficará guardada no meu coração com um grande carinho. E por estarmos conectados com sentimentos bonitos no coração ele me deu um abraço de despedida de uma forma que eu nunca tinha recebido. Ele me ensinou que temos que abraçar para o lado direito, de forma que os corações se encontrem ao centro. Foi um abraço amigo, forte e bonito. Vai ficar registrado!

Bom, resolvi a papelada, despedido do amigo e voltei para o hostel. Peguei minha mochila no quarto do chulé como uma fugitiva, kkk. Corri para o quarto da mocinha. A garota era uma gracinha, estudante de teatro e super tranqüila. Conversamos um pouco e ali eu estava bem melhor. Mas não fiquei por muito tempo no quarto porque disse a Melyssa que ia visitá-la. Quando sai para seu encontro ela disse que estava na casa do Mário, que é o nosso amigo em comum. Mário vive exatamente entre a casa de Melyssa e o Hostel e eu passei por lá para encontrar com os dois. Depois dei um pulinho na casa da Maria Rosa e combinei com ela que quando eu voltar das Serras para ir para o norte vou dormir no quarto da Melyssa, para evitar de voltar para o hostel.

Depois eu e Mely fomos jantar na casa do Mário. Hum que delícia, uma comida colorida cheia de salada. Papo vai, papo vem, no final da noite eu contei para eles sobre minha experiência no hostel. E Mário instantaneamente me respondeu: “Kelly, penso que você me conhece bem então acho que posso te fazer esse convite tranqüilo. Você vai vir para cá!” Em resposta eu fiquei falando o quanto não queria incomodar e ele já pulou logo para a frase, você não tem opção, vai sair desse lugar e vai vir para cá, não vai ficar lá não. Rs. Eu sabia o quanto podia confiar nele e aceitei o convite/intimado. Fui buscar as minhas coisas no hostel e para a minha surpresa a menina da recepção me respondeu, em outras palavras, que estava com preguiça de me cobrar e de calcular como poderia ficar o preço. Assim, sai sem pagar nadinha. Fui para casa onde pude tomar um banho quentinho, dormi com cobertas limpas e ainda ganhei suco de laranja e chá no café da manhã.

Segui de volta para as Sierras, dessa vez para Capilla del Monte, que é pertinho de San Marcos. Fiz de volta todo o trajeto que eu tinha acabado de fazer na tarde anterior. Cheguei e fui para o Hostel Los Tres Gomes que eu havia pesquisado na internet. Um pouquinho mais caro também, mas lindo até. Um Hostel que ao mesmo tempo é colorido, jovem, alegre e organizado, limpo, bonito. Além de tudo estou no quarto compartido, mas que não tem mais ninguém além de mim.

O que eu já vi é que aqui vai ser difícil escolher o que fazer, porque tem muita opção de atividades naturais para poucos dias...

quarta-feira, 20 de março de 2013

Paz, sossego, verde e alegria


San Marcos de las Sierras é um povoado que me lembra muito o interior de Minas Gerais. Parece uma rocinha, tranqüila, cheia de mato e terra. Mas o que senti de diferente aqui é o clima do lugar.  Parece que a harmonia atua em peso no cotidiano da cidadezinha. Está certo que em algum lugar em meio ao mato existem os lobos maus. Mas a impressão que se passa quando caminha pelas ruas é que a maldade não chegou por aqui.

Caminhando pelas ruas vêem-se homens cavalgando, vestidos de botas, chapéus ou boinas. Sempre ao lado de seus cavalos seguem-se os cachorros. Na praça existem as cores, as cores das pessoas vestidas com panos diferentes, hippies, alegres. Muitos tocando instrumentos, violões, flautas e outros fazendo arte circense. Tudo faz com que o cenário seja mágico. Há também muitas crianças lindas, dos cabelos grandes, anelados. Nas ruazinhas, muitas plantas e pés de azeitona que estão começando a dar frutos. E o mais encantador é se aproximar do Rio San Marcos, que a medida que corre e se transforma, renova o seu encanto.

Em meu segundo dia no povoado, saí a caminhar pelas ruazinhas verde e marrom. Pouco tempo antes recebi um recado da minha amiga Déborah me dizendo que estava me enviando, energeticamente, uma borboleta. E enquanto eu andava nas ruas, mesmo que ela não estivesse ali materialmente, eu tinha uma borboleta me acompanhando. Ela era linda, tinha uma coloração azul forte ao centro e negra nas bordas. Ela sempre caminhava a minha frente e a minha volta. Quanto mais subia e descia pelos ares, me encorajava a seguir adiante. A leveza e a suavidade da borboleta me traziam força e coragem. Ela era uma inspiração para mim. Brilhava irradiante. Parecia frágil, fina, delicada, mas era forte e corajosa. Subia cada vez mais alto e ia sempre à frente. Sabia dos riscos que poderia encontrar. Folhas, árvores, bichos. Mas ela não queria desistir de chegar ao rio somente pelo medo dos obstáculos. Ela seguia. Valia à pena seguir e ela ia....

Eu e a borboleta chegamos juntas ao rio. Eu me sentei há alguns metros de uma ponte e estava fascinante. Ao meu lado algumas pedras conversavam comigo, junto com o sonido das águas do rio. Encantava-me ver a movimentação das pessoas cruzando a ponte. Por cima, gentes e seus cachorros, por baixo gentes e suas bicicletas, motos e carros. E quando passavam ao mesmo tempo, pessoas por cima e veículos por baixo, para mim era fantástico! Fiquei ali por um bom tempo, inserida dentro da paisagem que via, e fotografando o correr das águas e o enlace das pessoas que seguiam a ponte.

À noite teve música em um bar que fica na praça principal. Apenas uma banda tocando e isso era como um grande evento para a cidade! Assim, o bar estava lotado e a galera dançava salsa, cumbia e outros ritmos daqui, energeticamente. Como aqui em San Marcos meu clima estava muito mais para o descanso, não entrei muito no clima e voltei mais cedo que os outros amigos do albergue. Gustavo, o brasileiro, tinha dançado até o pé doer e resolveu voltar comigo também. Ele não estava abrigado no hostel, vive aqui há alguns anos, mas me levou até lá me acompanhando com uma ótima prosa e, vindo dele, sempre divertida!

No domingo dormi bastante e à tarde Gustavo foi me visitar levando seu material para me ensinar a fazer coisas novas de artesanato, como havíamos combinado no dia anterior. Aprendi a fazer brinco de filtro dos sonhos e fiquei mega contente com o primeiro que fiz. Produzimos juntos e conversamos bastante. Eu passei a chamar Gustavo de duende do sorriso. Visualmente e espiritualmente ele é uma mistura perfeita de duende com palhaço, faz a gente rir sem parar e é divertido até mesmo quando está calado. À noite fomos junto com a galera do albergue para um evento que teve na praça, com apresentação de grupos de folclore. Mais uma vez, uma atividade simples realizada como um grande espetáculo, muito legal isso! Havia gente de todas as idades, inclusive dançarinos de uns quatro aninhos e um casal de uns oitenta anos no público. Genial!

Em seguida ao evento fomos para uma sessão de cinema que teve no albergue, com a projeção de um filme em um telão. Era um documentário que se chama “Artesanos”. Não consegui compreender tudo perfeitamente, mas o enredo mexeu muito comigo, uma vez que a temática era relacionada à ideia de viver através das atividades que te trazem amor, alegria. Esse tema é o que mais tem me acompanhado nas minhas reflexões durante essa viagem. Como posso fazer para transformar o meu trabalho em uma fonte de amor?!

Eu estava contente que no albergue conheci gente bacana. Em especial, gostei muito de ter conhecido quatro meninas de Buenos Aires, uma da Suiça que é um encanto de pessoa e o duendezinho. Mas mais do que fazer amizade, eu estava mesmo a fim de sossego. Isso era tudo que eu queria em San Marcos. Logo, um hostel que estava cheio de gente, bichos e água que foi morna só no primeiro dia e depois puro gelo nos dias mais frios, poderia ser até bacana, mas só rolou para um fim de semana por não coincidir com a minha busca.

Assim, tive um final de semana cheio de pessoas, gatos e cachorros, mas na segunda-feira mudei de endereço. Fui em busca de água quente e tranquilidade, mas por cinco reais a mais encontrei quase um castelo, se comparado ao outro albergue, rs. Achei água quente 24 horas, uma cozinha limpa e organizada (sem gatos no escorredor) e um quarto com cinco camas que só tinha eu ocupando. Parecia inacreditável! Além de tudo tinha internet. Eu estava pouco me importando em buscar um albergue com internet, mas isso acabou significando muito..... O contato com meu e-mail foi algo de suma importância!

Na segunda-feira apenas fiz o Nada que eu estava buscando! Foi fantástico. E na terça-feira de manhã abri meu e-mail e lá estava a notícia de que fui premiada no II Concurso de Monografias da Fundação Palmares!!!!!!!!!!!!!!!! Nossa... minha alegria foi tanta que não cabia em mim!! Tratei logo de ligar para minha família para comemorar e fiquei emocionada até não caber mais. O problema foi que eu fiquei gritando em comemorações no skype enquanto conversava com minha madrinha, sentada com o computador na varanda, e quando dei por mim tinham duas mulheres deitadas na rede lendo livro. Kkk, quase morri de vergonha, mas eu estava feliz demais!! E mais uma vez vi tudo se encaixar da forma mais perfeita e divina possível. Para receber o prêmio tenho que enviar a documentação por correio até o dia 22, eu recebi o e-mail no dia 18 e se tivesse ficado no primeiro albergue é bem provável que não teria lido esse e-mail! Assim, mudei meu plano que era seguir de um povoado para o outro (Capilla del Monte) e resolvi voltar para a cidade no dia seguinte para ajeitar a papelada.   

Então, aminha terça-feira foi de despedida de San Marcos. Eu já havia combinando com Gustavo de irmos juntos a uma pequena montanha que tem um cruzeiro e é um ponto turístico daqui. As meninas do albergue já tinham me falado que era tranqüilo de ir sozinha, porque tinha uma trilha aberta. Mas, mesmo que eu estivesse buscando a solidão, quebrei a “regra” para ter a companhia do duende do sorriso. A presença dele seria boa por sua alegria e também porque ele conhecia um caminho mais bonito para chegar ao cume.
E lá fomos nós. Iniciamos o nosso trajeto pela beira do rio e subimos a montanha pelo caminho sem trilha e mais bonito. A cada parada que fazíamos para sentar nas pedras, uma sensação gigante de contentamento me consumia. Respirar aquele ar puro e ver aquela paisagem verde era perfeito. Gustavo conversava com as plantas, pedia licença para a natureza antes de arrancar uma folha, ou de iniciar um novo trajeto. Eu observava calada, mas achava lindo. Quando eu olhava para o horizonte à minha frente, via um bosque encantado. Pensava que a qualquer momento iria sair uma fada voando de dentro das árvores. Era mesmo um bosque a paisagem à minha frente. E atrás as Serras de Córdoba. Lindo!!

Quando chegamos ao topo, ficamos sentados por muito, muito tempo no cruzeiro. Ao som da flauta que o duende tocava, e na companhia das pessoas e cachorros que aos poucos chegavam para ver o por do sol lá do alto. E quando o sol desceu.... foi como o momento auge do espetáculo que a força divina manifestou através da natureza!

Entrada do Hostel San Marcos


Rio à margem do Serro

Rio à margem do Serro

Subindo o Serro

Bosque encantado

Finalizando o espetáculo




sábado, 16 de março de 2013

Chegando em San Marcos de las Sierras


O trajeto feito pelo ônibus que segue de Córdoba à San Marcos é simplesmente maravilhoso. Mas que coisa.... eu sou mesmo igual bebê, entro em carros e ônibus e durmo, apago e não vejo quase nada. Eu até fazia força para ficar acordada, mas durante as três horas e meia de viagem devo ter ficado acordada ao máximo uns vinte minutos. 

No pouco tempo desperta eu via que cada vez estava me aproximando mais de um lugar verde, tranqüilo, harmonioso. E assim foi. Chegando a San Marcos eu só via rua de terra e árvores, nada mais. Ai que delícia! O ônibus parou em uma pequena pracinha de terra e lá desci eu. Parei em um ponto de informação para saber onde era o hostel que estava procurando e segui pelas ruas de pó marrom. No caminho uma plaquinha de madeira pintada com muitas cores indicando o caminho do Hostel Giramundo, que era o que eu queria e que não tinha mais vagas. Eu não sabia se a seta apontava para um lugar perto ou longe, mas resolvi sair da direção que eu estava indo e entrei na estradinha. Eu e minha mochila.
 
Em um momento eu achei que tinha chegado ao hostel e fui entrando para dentro de um lote. Haha, dois cachorros muito nervosos começaram a latir e correr atrás de mim. Dei meia volta muito delicadamente tentando não mostrar para eles que meu pensamentos era “eles vão me morder” e sem olhar para trás sai do lote errado. Caminhei mais um pouco e cheguei no hostel. Então... havia uma cama, não perguntei nada além do preço e já fui logo depositando as minhas coisas na minha nova cama.

Ah... a minha nova cama! Tem um colchão que é mais fino que um tapete. É uma beliche e eu fico no andar de cima, cheirando o pó do teto. E o travesseiro e as cobertas têm muito cheiro de poeira. Pelo menos o amigo do andar de baixo é um barbudo, cabeludo muito simpático! E as meninas da beliche do lado também são gente fina! 

Mesmo com a cama desconfortável eu fiquei feliz, estava mesmo a fim de encontrar um lugar simples, em que eu pudesse ter dias simples. Era só isso o que eu queria. Assim, até mesmo a minha tagarelice estava mais tranqüila. Eu não estava muito na idéia de querer fazer mil amigos e coisas do tipo. Só queria o meu cantinho sossegado e nada mais. 

Depois que cheguei fui comprar minhas coisas de comida e fiz meu almoço. No caminho para o armazém tive o prazer de tirar algumas fotos, que parecem sem sentido, mas cheias de significados para mim. Voltei carregando as coisas sem sacola. Uma água, um pacotinho de arroz e alguns legumes. Isso era tudo que eu precisava. Na hora de cozinhar eu tinha que dividir o espaço com os gatos. Sim, aqui os gatos caminham na pia, se metem em meio ao escorredor de pratos e se der mole eles comem toda sua comida. Depois de almoçar dormi um sono profundo de três horas e depois comecei a escrever bastante. 

Mesmo não indo em busca dos amigos, a galera aqui é muito receptiva e buscaram me enturmar. Eu estava sentada escrevendo por perto deles, enquanto alguns tomavam vinho, fumavam e jogavam baralho e outros proseavam no quarto. Por fim acabei me juntando ao vinho e tentei entrar no baralho. A galera estava mesmo muito a fim de me ensinar a jogar truco, mas a coisa já é difícil, em espanhol então nem se fala. Fiquei só olhando e dizendo aham, mas na verdade não entendi nadinha. Acabei conversando mais com o cabeludo do que prestando atenção nas cartas, porque estava difícil demais. Mas valeu a tentativa, uma das garotas fez de tudo que pode para me ensinar o truco e assim acabei me aproximando do pessoal, mesmo não buscando por isso. 

Em um momento chegou um brasileiro que viveu em São Thomé das Letras. Ah, ficamos tão felizes de conversar um com outro com as lembranças de São Thomé. Mostrei para ele algumas fotos de lá que tenho e foi só sorrisos. Seu nome é Gustavo e ele é artesão, vive aqui há alguns bons anos. Tenho muita curiosidade para saber mais sobre sua história, mas vou tentando descobrir aos poucos, em outros momentos. 

Depois da minha falha tentativa de entender o truco saímos para caminhar na cidade. Aí a conversa rendeu mais com um garoto que acabava de voltar de um curso de meditação de dez dias em silêncio. Fomos todos para um camping que estava tendo música, mas não demoramos muito e voltamos todos para dormir.
Aqui é tudo compartido. Inclusive os biscoitos que todos comem ao mesmo tempo em que fazem carinho nos gatos e cachorros. Quando voltamos para o hostel era esse o cenário, eu, Martin, Camilo, Teresa, três gatos, um cachorro e alguns biscoitos. Eu me entrego sem frescuras, mas não tem como não pensar nas mãos de pelos, rs. 

No outro dia de manhã a surpresa foi ao entrar para o banho. O chuveiro é um chuveirinho de mangueira, que ou se usa segurando na mão ou se pendura na parede. Haha, eu nunca tinha visto isso, mas foi melhor que eu esperava, a água pelo menos era morna.

E assim vou seguindo aqui em San Marcos, em meio à muita simplicidade, aos livros, aos meus textos, as boas músicas, as pessoas tranqüilas, as árvores e aos bichos. 
No caminho para o hostel
No caminho para o hostel



Na rua principal
Na praca principal



Entrada do Hostel Giramundo
Quintal do hostel


Quintal do hostel
 
Minha cama decorada com Simpson

Saindo da zona de conforto



E chegou a hora de sair da minha zona de conforto, e eu estou feliz por isto. Todos os dias até hoje eu tive meu quarto, minha cama, cobertas, travesseiro, roupas limpas, minha comidinha, banheiro organizado e claro que tudo isso era ótimo. Além do mais, tinha sempre uma pessoa por perto para pedir socorro se necessário. Para um primeiro mês, sozinha, em um país onde eu não sabia bem o idioma, essas mordomias foram muito importantes, até mesmo porque na casa onde vivi pude aprender bem melhor o espanhol. Mas agora eu tinha certeza que estava na hora de sair. Ir para as Sierras me parecia uma travessia. Sim, saí do quarto que aluguei por um mês em Córdoba com a sensação de que ia atravessar uma ponte. 

Saí sem muitas expectativas, em um dia cinza de muito frio. Estava indo para o meio das montanhas na semana que mais fazia frio e chuva, mas nada disso me importava. A única sensação que eu tinha era o desejo de atravessar. 

No dia anterior ganhei um café da tarde muito especial da dona da casa e lanchamos junto com os meus hermanos. À noite, uma despedida com alguns amigos no meu bar favorito. Minha despedida foi mesmo bonita para mim, porque pude sentir o carinho sincero de pessoas que há pouco tempo conheci, mas que fizeram parte da minha história por aqui. Em especial ganhei muitos, muitos abraços apertados de Melyssa. Ela pulava ao meu pescoço por várias vezes e me apertava com a força brutal igual à de um homem, ao mesmo tempo em que sorria com a doçura de uma jovem menina. O sentimento de Mely por mim é mesmo algo que me impressiona. Faz-me feliz por me fazer sentir constantemente que posso fazer o bem para alguém, simplesmente com minha presença. Não entendo como isso pode se passar, mas via isso acontecer e o sorriso dela era como um presente para mim.

Ver a emoção de algumas pessoas com a minha partida é algo que poderia ter me deixado abalada, com o coração partido de sair. Mas não é que não vou ter saudades dessas pessoas lindas que passaram por mim, mas realmente o apego, acho que é um dos itens que não trouxe na minha bagagem. Assim, partir estava leve, suave e me fazia feliz. 

Agora estou no ônibus, escrevendo no meu caderninho. Estou indo para San Marcos de las Sierras, povoado que desde que saí em viagem mais queria conhecer. Em uma de minhas saídas em Córdoba conheci uma garota que me indicou um hostel para ficar e quando busquei na internet fiquei muito empolgada para ir para lá. Vendo as fotos e as descrições do hostel eu já me via em meio às músicas, aos instrumentos de percussão e à fogueira. Mas quando liguei para reservar havia acabado as vagas. Agora vou para outro hostel que não conheço, não sei ao certo onde é e não recebe reservas. Ou seja, agora vou com a caneca vazia e isso é muito bom.

A despedida rendeu uma semana de farra



Talvez por causa da desculpa de que meus dias em Córdoba estavam acabando, saí muito muito de quinta a quinta-feira e me diverti bem na minha última semana. A começar pelo dia da prova de espanhol. Depois que terminou o exame tudo que eu queria era relaxar. Comecei com um sorvete do Grido, o melhor sorvete que já tomei e depois um bom cochilo para descanso. Em seguida fui com Melyssa, Laura e Rafa para um evento em homenagem ao dia das mulheres realizado pela prefeitura municipal. Aconteceu no Teatro Griega que, como o nome sugere, tem sua arquitetura no estilo grego e é lindo. O teatro está dentro dos limites do Parque Sarmiento, então a beleza já inicia na caminhada até chegar à sua escadaria composta por muitas colunas ornamentadas. 

O evento foi realizado com a apresentação de vários grupos de mulheres e as músicas eram da melhor qualidade. Lá encontramos com mais alguns amigos de Rafa e eu encontrei com Luisa, uma das brasileiras que estudam espanhol na universidade. Conversar com Luisa é sempre muito agradável e de alguma maneira tentamos juntar todas as turmas. Ao fim chegou também a outra brasileira Karine. E Rafa nos convidou para ir a uma festa na casa de um amigo e eu convidei as brasileiras, formamos um grande grupo compostos por intrusos, como eu, e fomos a uma comemoração de um cara que tinha acabado de se formar em direito. A festança foi bem animada. É divertido que aqui as festas como as dos calouros no Brasil acontecem apenas quando a pessoa se forma. Compreende-se que a comemoração tem que ser feita quando a pessoa chega ao fim do curso, mostrando sua persistência. Então fomos para a festança de muita música e danças folclóricas. Depois eu, Karine e Rafa seguimos para um bar que se chama Manolo. Eu e o bar fomos paixão a primeira vista, adorei o lugar. Mas ficamos só por um tempo, porque chegamos tarde e aqui, por lei,  os bares se fecham às 05h00. Depois levei Karine para dormir na minha “habitação” porque ela estava morando em outra cidade e não tinha como voltar para casa. Foi super engraçada a minha missão de entrar com ela em casa escondido e abrir a porta para ela sair, depois que acordamos, sem ninguém ver. Parecia uma missão secreta, haha. 

Na sexta-feira foi o dia da preguiça. Estávamos todos com sono e os três hermanos sozinhos em casa. Assim, eu e David resolvemos “vaguear” (é como se diz aqui quando quer ficar de preguiça) juntos vendo um filme. Assim fomos ver o preferido dele, que também é um que eu adoro de paixão, In to the Wild. Depois Mely se juntou a nós e nos esparramamos todos pela sala. Eu mais dormi do que assisti e acabamos não chegando ao final. A Camila, minha amiga brasileira que vive em Córdoba e que me indicou vir para cá me ligou dizendo que tinha voltado para casa e me convidou para ir até lá. Assim deixei o filme e fui.
A casinha onde Camila vive com seu namorido é muito aconchegante, é um barracãozinho do jeito que eu sonho em ter. O único problema é a localização, é em uma rua muito perigosa que o taxista estava até com medo de me deixar lá. Proseamos bastante e eu comi queijooooooo de Minas, aí que alegria que fiquei! Depois fui tentar encontrar com a turma das saídas, mas acabei me desencontrando com eles e voltei para casa.

No sábado fui com Melyssa e os amigos norte argentinos para uma festa que se chama Chaya. É como um carnaval de estudantes que a farra é feita a base de muita farinha e álcool. Eu fiquei somente de leve no Fernet e como não estava “borracha” como os outros curti de uma forma mais suave e fiquei observando os vários estudantes se trumbicando no chão de bêbados. A festa estava bacana, mas a galera tava em uma onda mesmo de estudantes que não é muito a minha praia não. Foi aí que comecei a conversar mais com Mário, um da turma dos meninos de Salta que eu e Mely costumamos sair. Mário é fotógrafo, estudante de cinema e admirador de antropologia. Ficar escutando suas idéias durante um bom tempo de prosa enquanto os outros bebiam e caiam foi muito interessante. Era como se não estávamos no meio da bagunça e entramos para o mundo dos documentários, depoimentos, tribos indígenas e tudo mais que começamos a imaginar enquanto víamos nossas idéias em comum. Deu muita vontade de fazer um trabalho de parceria, mas a minha condição de viajante não estaria muito propicia para isso. Depois de muita farinha no corpo voltamos para casa. Eu e Mely tomamos um banho e fomos com nossa amiga Laura e os meninos para o aniversário de um amigo deles. Aí o sono já estava pesado e não conseguimos desfrutar tanto. 

Domingo não restava mais pique para nadinha, mas fui dar uma volta na feira de artesanatos para me despedir dela e para comprar uma lembrancinha para a dona da casa. Ia me juntar lá com Melyssa e Laura, mas nos desencontramos. Aí voltei para casa e finalmente dormi mais cedo.

Entrou a nova semana e a farra continuou. Segunda – feira Karine e Luisa queriam despedir porque logo iam voltar para o Brasil. Lá fomos nós para o Manolo bar com a Camila e o namorido e alguns amigos dela! Depois chegou meu amigo David do hostel e mais uma vez juntamos as turmas em um portunhol truncado.
Quarta-feira fui convidada pelo amigo Hare para uma inauguração de um centro cultural, onde ele e seu grupo iam tocar música indiana. Fui ao evento com Mário. Assistimos à bela apresentação dos cantos dos mantras e conversamos sobre a inauguração daquele Centro Cultural em um bairro de periferia, a sua significância e importância para a região e muitos papos que se seguiram em um bar que só tocava Bossa Nova. Quis sair do Brasil por um tempo, mas adoro quando vou a um lugar que se toca as boas músicas brasileiras. 

E quinta-feira era dia da despedida. Escolhi o Manolo bar de novo. A terceira vez em uma semana, mas lá era tão bom que valia a pena. Escrevi uma cartinha virtual aos novos amigos e à noite fomos eu, Mely, Laura, David (hermano), Mário e Ferd para fazer um brinde de boa sorte para a minha ida. Comemos umas boas empanadas e tomamos umas Brahmas (e o Brasil de novo por perto). Depois seguimos para casa de Mário, onde já havíamos ido há umas semanas quando ele fez um assado com folclore. Fizemos uma mistura de aulas de dança de bachata e forró e depois chegou Martin e Rafa que, como de costume, colocaram o violão para tocar. Os meninos tocaram umas três músicas brasileiras para mim, muito carinhosos! E aí fechou-se a farra de despedida de Córdoba.



E as minhas indecisões ainda me deixam maluca



Mesmo estando nas minhas férias, que me dei de presente, mesmo estando longe da minha rotina habitual, o que nunca me abandona são minhas dúvidas. Eu sou muito firme no que quero, mas isso só depois que eu decido o que realmente desejo. Agora, o caminho até a decisão é mesmo muito longo. Sempre troco de idéias do dia para a noite. Deito com um pensamento e desperto com outro. 

Aqui não está diferente. Eu até tento abandonar a idéia de me preocupar com trabalho, currículos e outros afins, mas no fundo acabo nunca conseguindo. Assim, nesses dias em que me aproximo da minha partida, comecei a pensar muito na idéia de ficar por aqui mais um tempo. Não sei. Primeiro estava decidida que só queria viajar e conhecer novos lugares. Depois fiquei pensando que se fico aqui por mais um tempo é melhor para me aprofundar no espanhol, ainda mais se faço umas aulas particulares. Mas a idéia de permanecer em Córdoba por mais um mês me assustava quando a palavra “permanecer” vinha à tona. Aqui não quero permanecer, criar vínculo, nessa viagem só quero passar. E também ficar mais um mês tendo aula como três vezes por semana em uma hora e ter o restante do tempo em ócio me assustava. Por outro lado, a experiência de mais um mês em espanhol seria excelente.

Enfim, depois de muitas dúvidas resolvi simplesmente ir fazendo as coisas e deixar para ir percebendo como elas iam se encaixar. Um amigo, em uma conversa muito importante, me disse por aqui que tenho que parar de pensar e simplesmente sentir. Pensei mesmo nisso, mas o problema é que sinto demais. Sinto tudo muito, e cada hora para um lado. Resolvi então ir fazendo e deixando para ver os resultados. 

Na terça-feira passei o dia na casa da Camila para ela me ajudar a fazer o meu currículo em espanhol. Demoramos um bom tempo, mas conseguimos ajustar as coisas. No dia seguinte saí para distribuir na cidade. A idéia era, para o caso de eu ficar mais um tempo na cidade, não ter o tempo em ócio e ocupar com alguma coisa na minha área que pudesse acrescentar em minhas experiências. Assim, saí em um dia de muita chuva para buscar um trabalho voluntário. Isso me parecia terrível, mas o mais estranho foi ver que além de tudo o trabalho voluntário era uma coisa difícil de se conseguir. Fui à alguns museus, a Secretaria de Cultura e o único que se demonstrou com maior interesse em receber um trabalho voluntário e que leu meu currículo e gostou das experiências foi o museu da Universidade Nacional. A senhora que me atendeu disse que há um trabalho a ser feito exatamente na minha área. O problema é que ela disse que lá não existe ninguém fazendo trabalho voluntário, então não sabia se daria certo. 

Enfim, fiz o que pude para uma das opções que é permanecer. Escrevi que minha disponibilidade era a partir de 5 de abril até 5 de maio e resolvi seguir viagem deixando o barco correr. Se até o início de abril eu tiver uma resposta positiva, vou tentar sentir o que meu coração vai dizer sobre se estou mesmo afim de mais um mês em Córdoba ou não. Se não surgir nenhuma resposta favorável, sei que não volto para a cidade para ficar por mais tempo, mas volto para buscar minha mala que deixei e penso se pego algumas aulas particulares por pouco tempo. Vou seguindo e vou vendo no que dá!

Uma experiência antropológica hippie



Já se terminava um mês que eu estava em Córdoba, já tinha feito vários filtros dos sonhos e até então não tinha ido para a rua vender. Não sei se a minha vontade de ir era maior para vender ou se era para sentir, por um dia, um pouco do que é a rotina dos malucos de rua. Acho que o segundo era muito mais forte e em busca da experiência antropológica eu segui. Peguei meu pano preto que eu havia comprado para colocar no chão, minha bolsa colorida e meus, mais ou menos, seis filtro dos sonhos que eu fiz. 

Como eu tinha festinha para ir pela noite, fui para a rua às duas da tarde. Juntei-me com a turma que fica ao lado do shopping, que é o maior ponto de venda dos artesãos depois da feira. Quando cheguei somente havia dois artesãos e eu, toda encolhida, perguntei se poderia abrir meu pano ao lado do deles. Um foi muito agradável e simpático comigo e foi como se estivesse me recebendo em sua casa/rua. Estava um sol de esturricar onde estavam os nossos panos e sentamos um pouco afastados para aproveitar um pedacinho de sombra. Como eu tinha pouca coisa para mostrar tratei de começar a fazer mais um pouco. Também era uma atividade para fazer enquanto estava por perto deles para não ficar muito sem jeito. Aí trocávamos umas palavras e Martin sempre muito atencioso em me ajudar. Mas acho que eles estavam um pouco sem jeito com a minha presença feminina, sem saber como me tratar. Aí chegou um maluco, meio bêbado, meio louco por natureza. E ele era novo e até bonito, mas totalmente viajado, coitado! Sentou ao meu lado e começamos um longo bate papo. Ele estava encantado comigo e eu sabia que não ia ter como me distanciar dele, então, tratei de ser sua amiga. A frase que ele mais gostava de falar era que eu era linda e ele estava meio sem entender o que eu estava fazendo ali. 

Em um momento o maluco saiu e chegou um outro cara para olhar as coisas do meu “vizinho”. Então ele também veio conversar comigo. Para que? O maluco 1 chegou e viu e pôs ele para correr. Disse que não queria ele ali, que ele tinha que tratar logo de sumir de lá e ele se foi. É certo que eles tem uma história por trás e não se entendem. Eu não quis nem saber o que se passava e fiquei quietinha na minha, fingindo que não estava entendendo que a minha presença também causou certo tumulto. Depois o resto da malucada foi chegando, mas sentaram um pouco mais distante e o maluco 1 tratou de me apresentar para todo mundo e disse que fazia questão de que eu fizesse amizade com todos. Em meio a eles um brasileiro que foi um bom companheiro para bater papo em português. Assim, fiquei sentada lá fazendo novos filtros e proseando com o povo.

Em um momento sentou um bêbado mais velho do meu lado e não parava de falar comigo. E quanto mais eu falava que não poderia entendê-lo mais ele conversava. Esse sim me perturbou! O maluco 1 era divertido, mas esse não, nem sabia o que estava dizendo e estava mesmo incomodando. Aí o maluco 1 deu logo um jeito de mandar ele parar de me amolar também e ele obedeceu. Por fim foram quatro horas de sol e bêbados e eu não vendi nadinha. Fiquei mesmo impressionada com a idéia de como todos aqueles viviam apenas assim fazendo tudo que fazem. Todos venderam muito pouco, e o brasileiro, por exemplo, já viajou para um mundo de lugares inclusive para Tailândia, ou Turquia, esqueci agora. Enfim, ele já foi para muito longe ganhando tão pouco. Acho que eu precisava de mais alguns dias na rua para entender como isso funciona, mas depois da primeira experiência não me animei muito de voltar mais não, embora tenha sido interessante e curioso sentir esse dia.

segunda-feira, 11 de março de 2013

E é mesmo verdade o cálculo sobre a linha do gráfico


Assim como disse o hermano David, a linha do gráfico do humor vai lá embaixo na segunda semana, mas na terceira ela volta a subir! Que bom que ele estava certo.

Bom, de uma semana para outra muita coisa mudou para mim. Na quinta-feira saí da faculdade antes de se terminar o curso de espanhol. Tive um fim de semana feliz e de carnaval e depois não sabia como as coisas iam seguir. Seguiram bem!

Fiquei feliz porque o fim de semana levantou o meu astral e a saída do curso me deixou muito mais contente nos meus dia a dias. Fiquei muito satisfeita quando comecei a semana fazendo caminhadas no Parque Sarmiento. Sim... eu já havia percebido que o parque era bonito quando conheci a sua entrada. Mas não imaginava que ele era muito grande e maravilhoso. Que delícia foi caminhar entre muitíssimas árvores, ao lado de lagos e patos. Estava muito bom porque a paisagem era linda e eu estava adorando poder mudar de percurso quando queria. Fiz minha caminhada e corrida três vezes na semana e achei o máximo em cada vez fazer um percurso diferente. Não tive que ficar dando voltas em um córrego, como o de costume, rs. Na verdade acabei indo muito menos do que pensei, mas desfrutei ao máximo enquanto estive por lá!

A saída do curso me permitiu ter tempo e disposição para as caminhadas e também me devolveu a tranqüilidade e simpatia com as pessoas. Já tinha alguns dias que eu não sorria dentro de casa e não estava muito à vontade com a idéia de ter que jantar junto com todos em um horário determinado. Mas na terceira semana me sentei à mesa com boa vontade e disposição para estar com todos!

Nesta mesma semana eu fiz uma prova de nivelamento de espanhol. A prova é oferecida pela única instituição reconhecida para aprovar certificados de espanhol. Eu já tinha saído da faculdade, mas a prova estava paga, então resolvi fazer! O engraçado é que até a segunda semana eu não estava me importando nenhum pouco com este exame. Pensava que ia super mal nele e não via motivos para me preocupar com o mesmo se não necessitava dele. Mas sei lá, acho que a responsabilidade que insiste em viver em mim resolveu se manifestar de alguma forma e eu decidi que queria sim ter um certificado.

O teste de nivelamento tem distintos resultados. Quem é aprovado com nível básico não recebe certificado e depois seguem as classificações de intermediário bom, intermediário muito bom e avançados. Achava quase impossível, mas infiltrei na cabeça o desejo de receber um nível intermediário. Assim, resolvi estudar um pouco de segunda a quarta-feira e nos dois últimos dias, Maria Rosa, dona da casa onde vivo, me deu cerca de uma hora e meia de aulas particulares de graça! Ela é mesmo uma pessoa que faz de tudo para ajudar aos outros. Gostei muito da sua forma de ensinar e até cresceu mais em mim a vontade de estudar.

Então... quinta-feira fui eu fazer o exame. A prova estava mega difícil. Não imaginava que era tão complicada, grande, cansativa e achei um absurdo a professora não ter falado desde o início do curso qual era o modelo de exercícios. Da forma que ela dizia, eu pensava que teria que escrever apenas uma carta na parte escrita. Mas... na verdade a prova escrita era composta de quatro textos gigantes que tivemos que ler e escrever outros quatro textos sobre os mesmos. Tudo começou com uma entrevista de rádio muito mal gravada que tivemos que escutar e escrever sobre ela. Escrevi um texto de mais de vinte linhas, para minha surpresa! Não imaginava que poderia escrever tanto, mas tinha muita força, vinha da minha vontade de conseguir. Assim, no segundo texto que tive que escrever, continuei preenchendo todos as linhas possíveis. Mas no terceiro e quarto textos... ah.... eu já tinha escrito, ao todo, penso que mais de cinqüenta linhas e não agüentava mais pensar e escrever em espanhol. Meu vocabulário tinha acabado, minha fome não parava de crescer e eu já estava começando a ficar emburrada. Assim, o terceiro e quarto textos, penso que foram muito mal escritos. Depois tivemos um intervalo e após o almoço uma prova oral.

Para a prova oral então.... até comecei a tremer! Não entendia mesmo, porque a todo tempo eu não estava preocupada com esse exame, e na hora h até tremer eu tremia, rs. Eu pensava na minha cara olhando para os examinadores sem sabre falar uma frase direito. Mas fui!! Aí entrei, sentei na cadeira do exame, respirei fundo e resolvi dar o melhor do que tinha de mim. Na hora acabei usando de uma coisa como uma estratégia, mas não uma estratégia mal, uma forma apenas de estar certa do que queria e demonstrar isso como podia. O primeiro momento da prova eu tive que falar sobre mim e porque estava nessa viagem. Quando terminei de falar esta parte a examinadora me perguntou se eu achava que eu estava bem no espanhol. Eu não acho que estou bem de forma alguma e também não acho que eu menti para ela dizendo as respostas que disse. O que fiz foi deixar a minha vontade de vencer falar mais alto. E então respondi para ela, com todas as letras, de que estou segura que estou bem. Que tenho confiança nisso porque estou a todo tempo me comunicando com todos, seja nas ruas, nos comércios, em casa, com os amigos. Então enchi a boca para responder: “sim, estou certa que estou bem com o idioma!” Ufi, me senti tão bem quando disse isso. Mesmo que eu não ache isso, é difícil explicar, mas não penso que eu estava mentindo! Depois desta parte tive que observar uma folha com algumas frases e fotos de jogadoras de futebol. Então eu tive que falar sobre o que havia nas imagens, como é a questão do futebol feminino no Brasil e tive que fazer uma espécie de teatro. Detesto com todas as forças os testes em que tenho que encenar algo, ainda mais falar sobre futebol. Mas se tinha que fazer, então lá estava eu fingindo que estava apresentando um projeto com proposta de abrir uma escola de futebol. Tive que ficar convencendo a examinadora que a minha proposta era boa. Era só um teatro, mas no final ela me perguntou se eu estava certa que meu projeto era bom e eu respondi com tanta firmeza que sim que até eu acreditei que poderia fazer um projeto desse, rs.

Enfim, hoje é segunda-feira (aliás, já são duas da manhã e já é terça) e saiu o resultado. O mais óbvio para mim era receber um nível básico, ao qual não se entrega o certificado. Mas... RECEBI O INTERMEDIÁRIO (nível bom)!!!!!!!! Ganhei um certificado em idioma espanhol estudando apenas 8 dias de aula!!!!! Estou muito feliz com a notícia e surpresa. Agora só me vem a cabeça uma coisa que minha madrinha me disse uma vez. Que quando queremos muito alcançar algo, em alguns casos é claro, não importa o quando sabemos no modelo tradicional, mas que a nossa vontade é capaz de entregar ótimos resultados. No começo eu não me importava com esse exame e penso que se continuasse assim não chegaria a resultado nenhum. Mas meus três dias de muita certeza que era esta a minha verdadeira vontade me trouxe esta surpresa! 

quarta-feira, 6 de março de 2013

E o Carnaval continuou...


Impressionante lembrar que antes de fazer a minha viagem eu entrei em contato com algumas redes de Córdoba e todos disseram que aqui não tinha Carnaval. Eu, turista e desavisada já fui a duas festas, como podem dizer que não tem? A meu ver, essa informação errônea é uma desvalorização dos carnavais populares que são realizados na cidade. De certa forma pode ser até bom, porque assim se conserva seu caráter estritamente popular. Nas festas as pessoas se apresentam para o povo e não fazem espetáculos para gringo ver. Mas muito me incomodou perceber que os eventos das comunidades e dos pequenos grupos de músicas tradicionais daqui não são considerados como carnavais a serem divulgados.

Enfim, críticas à parte, eu sei é que me diverti demais nesse sábado! Os carnavais foram meus melhores dias aqui, os dias em que me senti mais à vontade. Engraçado é que eu estava com um povo de longeeee, mas estava muito bem! Eu havia marcado de ir ao Carnaval com David. David é o garoto que conheci através de Gaston. Assim... Laura, minha amiga do Brasil, mandou um e-mail para seu amigo da Argentina Gaston dizendo que eu estava aqui. Gastón tinha acabado de voltar para Buenos Aires e me mandou o contato de David que vive e trabalha em um hostel de Córdoba. Assim, conheci David e não conheci Gaston. Logo, eu e David fomos rumo ao nosso segundo passeio. Dessa vez ele não estava acompanhado de 1 italiana, mas sim de 5 franceses e 1 norueguês, rs. Foi muito divertido essa mistura de gente de um tanto de lugares e que se deu super bem! Gostei demais da turma. David, argentino, é pura simpatia e uma pessoa de ótima vontade para ajudar com qualquer coisa. É muito divertido e agradável. Gosto muito da idéia de ter sua companhia! Com as três francesas me identifiquei à primeira vista. No outro sentido da frase, me parece que nós falamos a mesma língua. Super nos entendemos! Os outros dois franceses são mais na deles, mas são bacanas também. E o norueguês... Ah o norueguês.... acho que é um dos homens mais lindos que eu já conheci na vida!!




Bom, eu e essa turma fomos para o Carnaval de Murgas no Parque Sarmiento. Foi a primeira vez que visitei o parque, mas como o evento era logo na entrada não conheci muita coisa, mas pude ver que era um lugar muito agradável, de bastante verde. A festa foi super tranqüila e divertida ao mesmo tempo. Era um desfile de vários grupos de Murgas. Foi uma apresentação muito nova para mim, um estilo de dançar totalmente diferente e interessante. Muito popular! Haviam adolescentes, adultos e criancinhas muito pequenas se apresentando. Impressionante o tamanhozinho dos meninos e meninas de caras pintadas que dançavam até deitar no chão. Achei curioso também que não se estava vendendo nenhum tipo de bebida alcoólica, e mesmo assim o público estava ali, grande e alegre. É bem verdade que tenho gostado muito de tomar um Fernet, mas me encanta a iniciativa de um evento sem álcool e mais ainda a resposta do público de se divertir bastante da mesma forma. Penso que poderia ser assim em muitos outros lugares!

Chegamos por volta de umas 20 e saímos umas 23h do Parque. Ainda estava muito cedo para voltar para casa e fomos para a casa de uma das francesas. Aí a turma triplicou. A casa era de estudantes, então nos juntamos a mais argentinos e colombianos. Só gente boa! No Parque eu também havia me encontrado com Rafael, garoto que conheci no primeiro carnaval e que depois fui a um churrasco na casa de seu amigo. Rafael é um cantor, tocador, dançarino e conquistador barato. Kkk. Ele me diverte por ser assim. Ele está sempre em busca de um alvo e é um cara muito alegre. Acabei fazendo um acordo com ele, ele me ensina a dançar e eu o ajudo nas suas conquistas. Assim, apresentei uma das francesas para ele e não tardou para ele aparecer com seus amigos e violão na casa em que estávamos. Virou uma mistura enorme de gente. Adoro isso! O Rafael conquistador não conseguiu atingir a sua mira francesa, mas... oba, enquanto todo mundo estava sentado batendo papo, estávamos nós dançando. Hehe. Aqui não tenho mesmo vergonha de errar e descobri que somos tão mais felizes sem vergonhas bobas. Ele me ensinou um pouquinho de Quarteto e um pouquinho de Cumbia. Não deu para aprender de verdade não, mas deu para rir bastante.

Lá pelas tantas da manhã estávamos todos com muito frio e resolvemos ir conhecer os tão famosos “boliches”, que são tipo as boates daqui, não tem nada a ver com o boliche jogo. Por todos os dias que estou aqui dizia que não ia em um lugar desses de jeito nenhum. Mas naquele frio não demorei muito a mudar de idéia. E mudei de idéia também porque eu gosto de conhecer os lugares que são “típicos” da vivencia das cidades que estou conhecendo. Então encarei tipo como uma experiência antropológica. E acima de tudo fui porque sabia que estava com uma galera bacana, que também tem gostos como o meu, então eu não ficaria muito deslocada. Fomos e na primeira em que entramos estava simplesmente insuportável de ficar. Um lugar lotado, todo mundo espremido e o que estava tocando????? Axé e funk brasileiro. Ah nem, senti vergonha quando percebi que o povo pensa que isso é a música de verdade do Brasil. Ah, nenhum de nós agüentamos e saímos de lá rapidinho. Fomos para outro “boliche” e aí sim, confesso que até gostei um pouquinho. Deu para divertir um pouco mais porque também tocava Cumbia e Salsa que são coisas que realmente gosto e isso dava para eu me mexer alegre de verdade, ainda mais com o Deus Grego dançando comigo, hehe.

Às seis da manhã acabou a farra e voltamos todos contentes. E eu feliz também por ter encontrado “gente como a gente”, gente com coisas em comum a mim. Tem momentos que isso me parece difícil de acontecer. Sei lá se sou meio ET, mas vai ter gente diferente assim viu... E esse encontro acabou renovando o meu astral que havia dado uma baixa na última semana.

A única coisa muito chata que aconteceu, enquanto voltávamos, foi que a francesa foi “meio” roubada. A brasileira que eu conheci no ônibus do Brasil para Argentina havia me alertado que aqui não tem muito assalto à mão armada, mas que havia muitos furtos discretos e ligeiros. E assim foi! Aqui as pessoas andam nas ruas por toda à noite. Como é uma cidade universitária, não existem ruas desertas no centrão. Então é comum que as pessoas circulem de madrugada andando a pé mesmo. Mas tem que estar sempre alerta, como em todo lugar! Voltávamos em grupo, caminhando e quando atravessamos a rua, em menos de um terço de segundo um motoqueiro com um garupa passou e puxou a bolsa da garota. A sorte foi que ele só levou a bolsa, porque ela se abriu e todas as coisas caíram no chão e assim a francesa conseguiu recuperar tudo de importante. Parece-me que esse tipo de assalto é muito comum aqui!

No domingo eu e meus hermanos fomos juntos ao cinema. Fomos assistir "As aventuras de Pi" em 3d. Geniallll!!! Adorei o filme, gostei muito de sair com os dois hermanos e fiquei mega feliz que pude assistir a um filme em espanhol e entender tudo. Tá certo que grande parte era mais imagem do que fala, mas eu estava contente mesmo assim. rs. O filme é mega interessante e eu recomendo demais à todas as pessoas assistirem em 3d. As cenas da natureza são lindíssimas. O problema é só que no meio do temporal do filme eu ficava sem ar, como se a tempestade estivesse realmente em cima da minha cabeça e eu fosse morrer afogada, rsrs. Não sei porque tenho que ser sensitiva com filmes!

Depois do cinema encontrei com a turma de franceses de novo e a Melyssa foi comigo. Fomos primeiro à Plaza Intendencia onde as pessoas se reúnem semanalmente para dançar salsa. Achei genial, uma caixa de som no meio do piso, que virou uma pista, e o povo bailando. O problema foi só que chegamos um pouco cedo e o movimento estava um pouco parado. Assim não ficamos muito e caminhamos para a tão querida feira de artesanatos. Em seguida rodamos até encontrar um lugar para sentar e comer. Aí Rafael, conquistador, ligou para a francesa chamando para um bar onde ele e seu amigo iam tocar. Fomos a turma toda para lá. Adorei, tocaram Caetano Veloso, Sozinho para mim, bom demais! Mas logo voltamos, todos, porque o cansaço do dia anterior falou mais alto.

Esse foi um fim de semana muito bom e que literalmente sacudiu meu astral!